Crítico de cinema e colunista de cultura de A Gazeta

"Mulher-Maravilha 1984" é meio ridículo, mas bem divertido

"Mulher-Maravilha 1984" traz Gal Gadot de volta ao papel de Diana Prince, mas agora com uma trama oitentista e cheia de referências clássica

Vitória
Publicado em 16/12/2020 às 22h15
Atualizado em 16/12/2020 às 22h15
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Filme "Mulher-Maravilha 1984". Crédito: Warner/Divulgação

O primeiro “Mulher-Maravilha” (2017) foi um sopro para o então tão criticado universo de heróis Warner/DC nos cinemas. Na maior parte do tempo contrariando o tom sombrio dos filmes anteriores desse mundo, o filme de Patty Jenkins era mais diurno, bem-humorado e menos sisudo - qualidades que nos fazem até esquecer o péssimo terceiro ato e o conflito final.

Em “Mulher-Maravilha 1984”, que chega nesta semana aos cinemas ainda às voltas com a pandemia, Jenkins tenta corrigir os defeitos do filme de 2017 e abraçar uma nova estética; sai a Segunda Guerra Mundial e entram os anos 1980. O resultado é um filme com ares oitentistas, menos pesado e mais divertido.

Quando a trama tem início, após uma pequena introdução para mostrar Themyscira e trazer algumas personagens de volta, a intenção é situar o espectador. Tudo em cena é uma recriação de clichês da época em que se passa, 1984. Logo encontramos Diana (Gal Gadot) atuando como uma heroína misteriosa na cidade de Washington, onde também mantém as aparências trabalhando no museu Smithsonian.

É no museu que Diana conhece Barbara Minerva (Kristen Wiig), uma desajeitada pesquisadora responsável por estudar alguns artefatos que estavam sendo comercializados ilegalmente. Uma dessas pedras tem o poder de conceder um desejo a quem a segura. Por isso, obviamente, se torna alvo de muita cobiça.

Tudo nesse primeiro momento é exagerado, das cores às atuações dos figurantes em suas breves aparições. Novamente, o filme quer que fique claro, estamos nos anos 1980. É dessa época também que Patty Jenkins busca sua grande inspiração para a nova aventura da Princesa Amazona, os dois primeiros “Super-Homem” (1978 e 1981). Tal qual os filmes do Homem de Aço, “Mulher-Maravilha 1984” busca uma ingenuidade e um encanto que às vezes funciona também como seu ponto fraco.

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Filme "Mulher-Maravilha 1984". Crédito: Warner/Divulgação

O roteiro de Jenkins, Geoff Johns e Dave Callaham faz um bom papel com os antagonistas da heroína. Mesmo não tendo grande profundidade, Barbara Minerva e Maxwell Lord (Pedro Pascal) são personagens com quem o público consegue se relacionar, se identificando ou odiando, mas despertando sentimentos. À medida que a trama se desenrola e vamos entendendo melhor as peças daquele xadrez, entendemos também as motivações de cada um deles, sentimentos nem sempre compreensíveis, mas, ainda assim, plausíveis.

O texto faz uma escolha interessante ao trazer de volta Steve (Chris Pine), par romântico de Diana, e o utiliza principalmente como alívio cômico dentro de um conflito de épocas e costumes. Assim, com viagens temporais em sentidos opostos - o espectador indo ao passado e Steve, ao futuro -, o filme desperta o interesse em sua ambientação. A presença do personagem também casa bem com a trama de sacrifícios pessoais em nome de um bem maior, o conflito central de “Mulher-Maravilha 1984”.

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Filme "Mulher-Maravilha 1984". Crédito: Warner/Divulgação

O grande acerto do filme de Patty Jenkins é aceitar o tom de galhofa do texto. As atuações são todas meio canastronas e exageradas, e o mesmo pode se dizer das viradas repentinas do roteiro. Voltando à referência anterior, as influências do “Super-Homem” de Richard Donner são claras e nem carecem de um disfarce. Toda a trama central é uma grande homenagem nostálgica aos filmes de herói e aventura dos anos 1980. Esse aspecto, inclusive, está presente na parte técnica, com muito menos utilização de efeitos gráficos computadorizados - claro que estão presentes em vários momentos, mas nem se compara a, digamos, “Liga da Justiça”, por exemplo.

Gal Gadot, confortável como a heroína, se sai bem nas sequências de ação, que têm coreografias interessantes e bem elaboradas. A atriz israelense compra o já citado tom de galhofa, mas também dá o tom dramático em momentos que o roteiro pede. Jenkins sabe utilizar sua protagonista em tela, transformando cada ação dela em algo a ser registrado com grandiosidade.

Os antagonistas, como já citado, funcionam muito bem. Kristen Wiig é, na maior parte do tempo, adorável como Barbara, e isso faz que sua transformação seja sentida com lamento e dor pelo público. Já o Max Lord de Pedro Pascal é a ganância, o capital; sua relação com o filho  o humaniza perante a audiência, mas suas ambições também são bem humanas.

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Filme "Mulher-Maravilha 1984". Crédito: Warner/Divulgação

“Mulher-Maravilha 1984” é um tanto brega, exagerado e não tem medo de parecer ridículo (o que realmente acontece, acredite). O terceiro ato é superior ao do primeiro filme, mas novamente “escuro”, conectando o filme à estética da DC e tirando toda sua assinatura autoral tão viva durante a maior parte da projeção. Da mesma forma, algumas escolhas do roteiro parecem equivocadas, como oferecer redenção a todos e até mesmo tirar o peso de algumas escolhas dos personagens (influência de “Super-Homem” novamente).

Há também alguns furos no roteiro, mas quem realmente se importa? “Mulher-Maravilha 1984” é um filme de herói à moda antiga, sem grandes complicações, mas que gera encanto. Em condições normais, uma obra com grande potencial de bilheteria. Provavelmente não lotará salas de cinema, mas é um ótimo filme para uma tarde de domingo em casa. Ah... A cena durante os créditos é descartável e deixará muita gente perdida, mas é a prova de que o filme realmente abraça seu lado ridículo.

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