Crítico de cinema e colunista de cultura de A Gazeta

Leandro Hassum brilha em "Tudo Bem No Natal Que Vem", da Netflix

Em "Tudo Bem No Natal Que Vem", da Netflix, Leandro Hassum vive um sujeito que odeia o Natal, mas que, após um acidente, só vive os dias natalinos de cada ano

Vitória
Publicado em 05/12/2020 às 15h52
Atualizado em 05/12/2020 às 15h53
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Filme "Tudo Bem No Natal Que Vem", da Netflix. Crédito: DESIREE DO VALLE/NETFLIX

Desde o lançamento de “Tudo Bem no Natal Que Vem”, na última quinta (3), uma velha comparação voltou à tona: seria Leandro Hassum o Adam Sandler brasileiro? Bem, se esse for o caso, o ator brasileiro agora tem o seu próprio “Click” (2006), um dos filmes mais queridos da carreira do humorista americano.

Como o título entrega, “Tudo Bem No Natal Que Vem” é um filme natalino. Dirigido por Roberto Santucci e escrito por Paulo Cursino, que já trabalharam com Hassum nos dois “Candidato Honesto” e nos três “Até Que a Sorte Nos Separe”, o filme conta a história de Jorge (Hassum), um pai de família que cresceu odiando o Natal por um motivo simples: ele nasceu no Natal. Como poderia seu aniversário competir com a celebração do nascimento de Jesus?

Sua vida segue normalmente ao lado da esposa, Laura (Elisa Pinheiro), e dos filhos, até que em um Natal ele sofre um acidente e apaga. Quando acorda, um ano se passou e já é véspera de Natal de novo, mas não é que ele tenha dormido durante todo esse período, ele apenas não se lembra de nada o que aconteceu naquele ano. E a vida segue assim, ano após ano, Natal após Natal, o Jorge que conhecemos vivendo apenas os dias 24 de dezembro de cada ano enquanto outro Jorge, “nascido” do acidente, vive os outros 364 dias do ano, mas não a véspera de Natal.

O texto de Paulo Cursino é inteligente ao subverter a fórmula sempre interessante do dia que se repete. Em “Tudo Bem No Natal Que Vem” o dia até se repete, pois celebrações de Natal em família tendem a ser bem parecidas, mas influenciados pelos acontecimentos daquele ano dos quais Jorge não se lembra. É interessante como o filme se desenvolve em seu segundo ato, com uma dissociação dos Jorges - pode parecer estranho, mas Santucci faz funcionar muito bem. Ainda, o filme surpreende ao levar o clímax que esperamos para o fim do segundo ato, deixando a conclusão do filme para emocionar a audiência.

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Filme "Tudo Bem No Natal Que Vem", da Netflix. Crédito: DESIREE DO VALLE/NETFLIX

Nesse cenário, Hassum brilha. O “novo” Jorge é uma caricatura, uma imagem detestada pelo antigo Jorge, mas o ator se destaca como os dois. O tempo de humor dele impressiona tanto quanto a maneira como ele domina o texto. Hassum confere graça a um texto rotineiro e a rabugices de seu personagem - a alternância da entonação de sua voz é que dá o tom da urgência ou da piada de cada fala.

Apesar de ser uma boa comédia, “Tudo Bem No Natal Que Vem” se destaca pelo aspecto sentimental e pelo coração do texto. Ao acordar em cada Natal, Jorge percebe as coisas que deixou de viver ao lado das pessoas que ama. Além disso, ele percebe que seu outro “eu” tem tomado decisões questionáveis na vida o afastando, assim, de sua família.

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Filme "Tudo Bem No Natal Que Vem", da Netflix. Crédito: DESIREE DO VALLE/NETFLIX

Que fique claro, o filme não tem pretensões filosóficas ou algo do tipo, é uma diversão pura e simples, mas que levanta boas questões acerca das escolhas que fazemos. Escolhas como sacrificar a vida pessoal pela profissional, por exemplo, ou escolher pensar no amanhã e se esquecer do hoje. Não é nada novo, mas funciona e combina com a época do ano.

E aqui voltamos à atuação de Hasssum, que consegue transmitir o sofrimento do “Jorge natalino” ao acordar em cada dia 24 e descobrir tudo o que aconteceu durante o ano. É engraçado, mas também é triste. Elisa Pinheiro, ótima, completa o protagonista em cena - Laura ama o marido, mas apenas aquele do Natal, não o que ele se tornou no resto do ano.

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Filme "Tudo Bem No Natal Que Vem", da Netflix. Crédito: DESIREE DO VALLE/NETFLIX

Como um bom filme de Natal, “Tudo Bem No Natal Que Vem” tem mensagem positiva, bonita e capaz de emocionar. É também na necessidade de ser o mais natalino possível que o filme dá uma derrapadinha em alguns clichês - nada que comprometa a experiência, obviamente.

Ao fim, o filme de Roberto Santucci estrelado por Leandro Hassum é divertido, emocionante e ainda desperta reflexões. A mensagem final pode ser sobre o Natal, mas o tema do filme é a maneira como escolhemos viver o resto do ano.

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