Crítico de cinema e colunista de cultura de A Gazeta

"Esquadrão 6", da Netflix, é Michael Bay à décima potência

Filme protagonizado por Ryan Reynolds bebe na fonte de "Deadpool" para modernizar um pouco a linguagem blockbuster do diretor de "Transformers"

Publicado em 17/12/2019 às 04h01
Atualizado em 17/12/2019 às 11h51
Corey Hawkins, Adria Arjona, Ben Hardy, Ryan Reynolds, Mélanie Laurent, Manuel Garcia-Rulfo em "Esquadrão 6". Crédito: Photo Courtesy of Netflix
Corey Hawkins, Adria Arjona, Ben Hardy, Ryan Reynolds, Mélanie Laurent, Manuel Garcia-Rulfo em "Esquadrão 6". Crédito: Photo Courtesy of Netflix

O cineasta californiano Michael Bay é um caso curioso. Autoproclamado o criador do blockbuster moderno (palavras dele em entrevista a este jornalista durante o lançamento de “Transformers: O Último Cavaleiro”), o diretor se mantém desde os anos 1990, refém de suas próprias fórmulas. Até em seus filmes “menores” (as aspas são importantes) como “Sem Dor, Sem Ganho” (2013) e “13 Horas: Soldados Secretos de Benghazi” (2016), Bay não escapa de seus vícios: flare, pôr do sol, helicópteros, câmera lenta, e explosões, muitas explosões, às vezes tudo junto, mesmo nos momentos em que isso parece não fazer sentido algum.

Um dia antes da referida entrevista, inclusive, o diretor criticou os serviços de streaming: “Alguns preferem filmar para a Netflix, outros para isso aqui”, disse, apontando para a tela do IMAX na qual o filme seria exibido. Um dia depois, na entrevista, amenizou a alfinetada e elogiou produtos feitos para a TV, o que talvez tenha dado certo, pois o cineasta lançou na última sexta-feira (13) “Esquadrão 6”, filme original Netflix. Parece que o jogo virou, não é mesmo?

Em “Esquadrão 6”, Ryan Reynolds é um bilionário à la Tony Stark declarado morto e que resolve se aproveitar disso. Ele  cria uma equipe “fantasma”, com pessoas dadas como mortas, para agir mundo afora sem deixar vestígios. Ele não quer se preocupar com tratados, respeitar leis ou a burocracia, seu negócio é agir. Além dele, o número 1, a equipe é formada por 2 (Mélanie Laurent), 3 (Manuel Garcia-Rulfo), 4 (Ben Hardy), 5 (Adria Arjona) e 6 (Dave Franco), cada um com talentos especiais fundamentais - motorista, parkour, sniper etc.. Todas as explicações sobre quem são essas pessoas hoje identificadas com números são dadas ao longo da trama, muitas vezes em pequenos flashbacks no meio da ação frenética.

O filme começa com uma ótima perseguição pelas ruas de Florença, na Itália. Já é possível, logo de cara, entender a dinâmica do filme: destruição, caos e muito estilo. Vale lembrar que estamos falando de Michael Bay, então toda colisão de veículos e até alguns tiros nas paredes geram explosões. A trama segue até o próximo plano tomar forma: derrubar um ditador sanguinário no fictício Turgistão. É tudo muito rápido e em alguns minutos eles já têm o plano perfeito.

É interessante notar que Michael Bay faz bom uso da liberdade em “Esquadrão 6”. Na Netflix, ao contrário do que acontece com seus filmes nos cinemas, o cineasta pode ser mais violento e, por isso, o filme ganha ares meio “Deadpool” - escolha obviamente relacionada à presença de Ryan Reynolds. O ator tem ótimo tempo de humor e entende que as piadas de seu personagem nem sempre se conectam com os colegas de equipe ou com o público, mas tampouco vê problema nisso.

Explosões em "Esquadrão 6", um filme de Michael Bay. Crédito: Christian Black/Netflix
Explosões em "Esquadrão 6", um filme de Michael Bay. Crédito: Christian Black/Netflix

Fora o charme do protagonista, o filme conta com atores que compram os absurdos do roteiro numa boa. Enquanto os seis “originais” são mais compromissados com as regras, a chegada de um novo elemento obviamente chamado de 7 (Corey Hawkins) muda a dinâmica da equipe. O ponto fraco fica com o caricato vilão, o ditador Rovach Alimov (Lior Raz), e seu irmão "democrata" vivido por Payman Maadi, um bom ator relegado a um papel fraco.

Bay faz algumas escolhas interessantes como, por exemplo, tornar seu esquadrão uma equipe novata, ainda aprendendo a agir. Mesmo que alguns momentos pareçam recicladas de algum “Transformers”, o diretor filma a ação sempre de maneira grandiosa; nada é simples em “Esquadrão 6”, o que significa que temos tirolesas gigantes, planos meio absurdos e muitos desafios às leis da física, tudo embalado por um rock moderno estilo Imagine Dragons, Muse e afins. Fica a ressalva, porém, de que nenhuma sequência é superior à perseguição da abertura, uma escolha arriscada.

Com tudo isso posto, é difícil analisar “Esquadrão 6” sem tentar entendê-lo. Michael Bay repete todos os seus vícios sem vergonha alguma, mas também entrega um filme estiloso, que dialoga com os fãs do gênero. Se não é o seu caso, vale mais a pena não ver para não se incomodar quando o quadragésimo helicóptero surge como sombra na luz do entardecer. Michael Bay se acha um revolucionário, um gênio, e não parece ter alguma vontade de mudar isso.

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