Crítico de cinema e apaixonado por cultura pop, Rafael Braz é Jornalista de A Gazeta desde 2008. Além disso é colunista de cultura, comentarista da Rádio CBN Vitória e comanda semanalmente o quadro Em Cartaz

"Ele é Demais", da Netflix, é confortável e divertido

Remake da clássica comédia romântica "Ela é Demais", "Ele é Demais" entende seu público e entrega um filme atualizado para as novas gerações

Vitória
Publicado em 27/08/2021 às 18h10
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Filme "Ele é Demais", da Netflix. Crédito: KEVIN ESTRADA/Netflix

As fórmulas existem nos cinemas por um motivo simples: ano após ano, elas funcionam. Todo gênero tem sua fórmula, normalmente batida, mas que oferece ao espectador um conforto, uma sensação de assistir ao filme certo de que não será surpreendido com escolhas desconfortáveis dos envolvidos.

“Ela é Demais!” (1999) é um clássico exemplo da fórmula de comédias românticas juvenis noventistas. O filme de Robert Iscove tem Freddie Prinze Jr. no papel de um sujeito popular que aposta com os amigos que pode transformar "qualquer uma" na princesa do baile. Claro que a “qualquer uma” no caso é Laney (Rachael Leigh Cook), uma jovem linda, mas introvertida e com interesses diferentes dos da galera popular da escola. O resultado, como manda a fórmula, todos sabemos qual será.

Mais de duas décadas depois, a fórmula ainda funciona, mas precisou ser adaptada aos novos tempos, deixando de lado piadas e convicções ultrapassadas, dando espaço à representatividade no elenco e levando para as telas as novas realidades de fora dela, ou mais ou menos isso…

“Ele é Demais”, lançado nesta sexta (27) pela Netflix, faz tudo isso e ainda inverte a posição de poder. No filme dirigido por Mark Waters (“Meninas Malvadas”), é Padgett (a estrela do Tik Tok Addison Rae) que aposta com as amigas ser capaz de transformar um “perdedor” no rei do baile. Após uma pesquisa, chegam a Cameron (Taner Buchanan, de “Cobra Kai”), cujo “problema”, quem diria, é ser introvertido, vestir camisas xadrez velhas e ouvir músicas que ninguém conhece - “Bad Brains, Bad Religion ou qualquer outra que tenha Bad no nome”, profere a irmã dele, Brin (Isabella Crovetti), em certo momento.

O desenvolvimento é exatamente como se espera: um estranhamento inicial, uma aproximação, um olhar mais profundo e uma briga antes do clímax. Dessa forma, vale analisar mais o que “Ele é Demais” faz para chegar até esse clímax.

O filme tem roteiro raso, subaproveita coadjuvantes com potencial, como Nisha (Annie Jacob) e Quinn (Myra Molloy), mas entende bem o seu público e explora os talentos de seus dois protagonistas. Addison Rae tem quase 83 milhões de seguidores no Tik Tok e ficou famosa com as coreografias que postava na plataforma, então é óbvio que o roteiro de “Ele é Demais” explora isso em mais de um momento, com Padgett fazendo coreografias para as câmeras.

Da mesma forma, Tanner Buchanan ganhou fama como Robby, o mais irritante personagem de “Cobra Kai”. Então, ao invés de apenas colocá-lo como um rostinho bonito em tela, o roteiro também dá um jeito de provocar uma luta para ele mostrar seus talentos nas artes marciais, é o que os fãs da série derivada de “Karate Kid” esperam ver, então é a recompensa feita a eles.

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Filme "Ele é Demais", da Netflix. Crédito: KEVIN ESTRADA/Netflix

O texto também traz toda a narrativa para a contemporaneidade, com redes sociais e vidas de aparências. Padgett perde seguidores e patrocinadores após ser espontânea e reagir à traição do namorado ao vivo, premissa bem similar à do brasileiro “Carnaval”, também da Netflix. É a partir dessa perda de seu relacionamento com Cameron que ela se encontra com seus próprios anseios.

A construção dos estereótipos é interessante em “Ele é Demais”. Pidgett é a filha perfeita, a menina popular nas redes, mas uma pessoa que vive de aparências. Já Cameron é autêntico, tem interesse em arte, música, fotografia, mas é o “perdedor”. O texto não busca - e nem pode - vilanizar um ou outro estilo de vida, assim, o grande vilão do filme de Mark Waters são as aparências, a busca pela fama a qualquer custo.

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Filme "Ele é Demais", da Netflix. Crédito: KEVIN ESTRADA/Netflix

É fácil criticar Addison Rae por sua falta de experiência como atriz (ela nunca compromete e tem ótima química com Buchanan) ou reclamar que o filme foi feito para “a geração Tik Tok”, mas é necessário entender que um dos pontos desse remake é justamente o conflito geracional em situações idênticas. Repito: os dois filmes usam a mesma fórmula e as mesmas viradas, mas separados por mais de duas décadas. Mudar o que é considerado clássico para alguns não é só uma opção, é um recurso necessário.

“Ele é Demais”, ao fim, oferece uma experiência positiva, satisfatória e, principalmente, confortável. A fórmula funciona, com seus prós e contras, e é bem atualizada para os dias de hoje. O filme faz bom uso das novidades digitais, revê contextos e ainda homenageia o original de 1999 na presença de Rachael Leigh Cook e Matthew Lillard. Como o próprio filme pondera, o importante é o equilíbrio, é valorizar o passado para entender o presente, e isso “Ele é Demais” entrega.

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