Crítico de cinema e colunista de cultura de A Gazeta

Crítica: "Hunters", da Amazon, traz violência gráfica e caçadores de nazistas

"Hunters", série com Al Pacino no Amazon Prime Video, conta a história de um grupo que caça nazistas escondidos nos EUA durante os anos 1970

Publicado em 21/02/2020 às 17h46
Série "Hunters". Crédito: Christopher Saunders
Série "Hunters". Crédito: Christopher Saunders

A primeira cena de “Hunters” impressiona. Disponível no Amazon Prime Video, a série estrelada por Al Pacino tem início com uma matança bem estilizada, algo que dá o tom para o que vem a seguir. Como praticamente toda situação criada pelo roteiro impacta pelo estilo ou pela mudança de rumo da série, esta crítica não trará spoiler algum, mas adianto: “Hunters” é uma das séries mais legais lançadas recentemente.

Conhecida popularmente como “a série em que Al Pacino caça nazistas”, “Hunters” é mais ou menos isso mesmo. A trama começa com Jonah Heidelbaum (Logan Lerman), um jovem judeu que se vira para sustentar a avó, uma sobrevivente do Holocausto. Seu caminho logo se cruza ao do milionário Meyer Offerman (Al Pacino), que também sobreviveu à Segunda Guerra e agora gasta sua fortuna exterminando nazistas que vivem nas entranhas dos EUA. Longe de viverem escondidos, os nazistas chegam até ao alto escalão do governo americano e preparam um “quarto Reich”.

A série produzida por Jordan Peele (“Corra!” e “Nós”) é livremente inspirada em uma operação secreta do governo americano que levou cerca de 1600 cientistas alemães ao país no pós-guerra. A ideia, à época, era ganhar vantagem sobre os soviéticos durante a Guerra Fria. Com foco principalmente em Nova York durante o verão de 1977, a narrativa também viaja no tempo em alguns momentos para lembrar do Holocausto em cenas duras e bem produzidas.

Com 90 minutos de duração, o episódio piloto é um espetáculo com qualidade de cinema - da fotografia à condução da narrativa. Além de conhecermos os tais “caçadores” do título, somos apresentados também à detetive Millie Morris (Jerrika Hinton), mergulhada numa investigação sobre uma idosa morta na Flórida. Tudo, claro, se cruza em uma trama ainda maior.

Assinatura

“Hunters” tem algumas variações de tom - do suspense ao humorístico, passando pelo blaxploitation setentista em alguns momentos. O resultado é um estilo próximo ao que consagrou Guy Ritchie em seus primeiros filmes (“Jogos, Trapaças e Dois Canos Fumegantes” e “Snatch”).

Aos poucos vamos acompanhando Jonah em seu mergulho "no lado escuro da força" - logo no início da série acompanhamos uma discussão sobre Darth Vader: seria ele uma espécie de Batman? Teria nascido mau? Vale lembrar que a série se passa em 1977, ano de lançamento do primeiro “Star Wars”.

A discussão serve para informar que durante os 10 episódios de cerca de uma hora (exceção feita ao primeiro, com seus já citados 90 minutos) veremos personagens no limite do aceitável. Qual o limite para lidar com nazistas? Vale tudo para que eles paguem o mal que fizeram à humanidade? O grupo de caçadores parece acreditar que sim.

Série "Hunters". Crédito: Christopher Saunders
Série "Hunters". Crédito: Christopher Saunders

Falando na equipe comandada por Meyer Offerman, os integrantes demoram para conquistar a simpatia do público. Vamos os conhecendo e fica a impressão de que poderiam ter mais tempo de tela. Há o ator hollywoodiano famoso, Lonny Flash (Josh Radnor), o casal judeu Murray e Mindy Markowitz (Saul Rubinek e Carol Cane), a ativista negra Roxy Jones (Tiffany Boone), a ex-agente do MI-6 Irmã Harriet (Kate Mulvany) e o ex-soldado Joe Mizushima (Louis Ozawa). É com eles que Jonah vai aprendendo o significado da vingança orquestrada por Offerman.

“Hunters” pode ser acusada de insensibilidade, fetichização ou por ser dura demais, mas o desconforto que causa é intencional. Há uma dramatização talvez exagerada em alguns momentos como o jogo de xadrez - não há registros de que aquilo tenha ocorrido, mas seria até bem plausível dado o nível de crueldade dos campos de concentração. Basta ler “Maus”, de Vladek Spiegelman, para saber disso.

Série "Hunters". Crédito: Christopher Saunders
Série "Hunters". Crédito: Christopher Saunders

A série criada por David Weil (cuja avó é sobrevivente de Auschwitz) não mantém o ritmo e a qualidade do episódio piloto no restante da temporada. A variação de tons também pode incomodar um pouco, pois alguns recursos utilizados quebram o clima criado no episódio ou até mesmo na cena anterior. Apesar de alguns problemas, porém, foge do lugar-comum e da segurança narrativa com um roteiro interessante e uma saciedade histórica à la “Bastardos Inglórios”, de Quentin Tarantino.

Acompanhe o colunista também no Twitter.

A Gazeta integra o

Saiba mais

Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rápido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem.

Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta.

A Gazeta deseja enviar alertas sobre as principais notícias do Espirito Santo.