Crítico de cinema e colunista de cultura de A Gazeta

Banda Dozz faz indie pesado com influências clássicas e punk

Com tudo bem planejado, trio capixaba estreou nos palcos na última semana e pretende lançar um EP no início de 2020

Publicado em 16/12/2019 às 04h01
Atualizado em 16/12/2019 às 13h52

A atual efervescência da cena musical capixaba ganhou oficialmente mais um jogador na última sexta (13) com a estreia nos palcos da banda Dozz. O trio formado por  Thiago Stein (voz), Carlos Henrique (bateria) e João Depoli (guitarra e baixo) aposta em uma sonoridade não muito comum entre o que tem sido feito: rock autoral, pesado, cantado em inglês e com influências que vão do rock psicodélico setentista às bandas punk americanas e o brit-pop.

A banda, na verdade, vem tomando forma desde janeiro deste ano. Em setembro lançaram o  single "Accelerate" com direito a um clipe. Pouco depois, outro single, "Lost Cause". Os dois trabalhos, vale ressaltar, produzidos de maneira totalmente independente pela própria banda.

O Dozz inicialmente era um duo entre João e Carlos, mas Thiago logo se juntou à dupla. Apostando na simplicidade tanto sonora quanto de produção, a banda se propõe a fazer um rock bem-feito, mas com uma pegada minimalista, quase lo-fi. Confira o papo que a coluna bateu com o guitarrista e compositor João Depoli.

Vocês acabaram de estrear nos palcos, mas com um trabalho já bem feito de clipes e músicas. Por que optaram por seguir esse caminho? Acha que é uma nova maneira de se trabalhar hoje?

Eu não acho que exista uma ordem ou fórmula específica de se trabalhar. Música é algo extremamente volátil e envolve a criatividade e a dedicação de várias pessoas durante sua concepção, e todos sabemos como isso deixa tudo ainda mais inconsistente. De um jeito ou de outro, cada banda vai encontrar o seu modus operandi. No entanto, se você espera que a sua música chegue a algum lugar, certos elementos devem ser preservados. Quando gravamos as músicas da Dozz, fizemos isso para nós mesmos. Agora, quando filmamos os clipes, a noção de sermos uma banda já existia e isso soou como uma boa estratégia de divulgação do nosso trabalho para prepararmos o público para uma futura apresentação ao vivo. Em ambos os casos estávamos plenamente cientes das inúmeras imperfeições (sutis e até mesmo grotescas, visto que fizemos tudo sozinhos), apesar disso, sempre buscamos fazer as coisas de um jeito sério e verdadeiro, de modo que o sentimento das músicas fosse preservado e transmitido claramente.

A velha pergunta: por que cantar em inglês?

Quando éramos adolescentes e só pensávamos em skate e música, nossa escola musical foi moldada em cima de bandas americanas de punk rock. Isso foi o que inclusive me levou a morar na Califórnia por um tempo, trabalhando num shopping e gastando tudo na cena musical local. Compor em inglês foi mais uma questão de familiaridade com as nuances entre a língua e a música, o que, por mais absurdo que possa soar, deixou o processo mais natural. Compor em português é algo muito delicado pra mim, meio que como criar a coragem de falar com aquela pessoa por que você sempre foi apaixonado. Em todo o caso, este é um dos nossos planos como banda.

Vocês optaram por gravar tudo em casa. Como foi esse processo? Que cuidado que vocês tiveram que tomar?

Tudo o que fizemos até o momento foi pensando em nos expressarmos para nós mesmos antes de qualquer outra pessoa. Queríamos fazer músicas que gostássemos de ouvir e isso nem sequer incluía sermos formalmente uma banda. Por isso optamos por gravar despretensiosamente em casa. Gostamos da ideia de um novo desafio, especialmente de ser um livre de despesas. Nessa época também tínhamos momentaneamente herdado uma placa de som e um microfone legal de um amigo que partiu pra gringa. Pegamos isso e umas guitarras, pedais, amplificadores, cabos, uma bateria eletrônica e vários outros equipamentos e passamos um fim de semana inteiro trancados num apartamento na Ponta da Fruta gravando as músicas no meu notebook. Voltamos pra casa no domingo e gostamos tanto do resultado que resolvemos dá-las um pouco mais de atenção. Partimos pra Serra e as deixamos com o nosso amigo Igor Comério (Blackslug e Broken & Burnt), que fez uma excelente mixagem e masterização em cima das nossas limitações. Foi nessa época que resolvemos nos formalizar como banda.

O EP vai contar com essas músicas já lançadas?

Nosso EP conterá essas duas músicas, “Accelerate” e “Lost Cause”, além de duas outras inéditas. Devemos lançá-lo no primeiro trimestre de 2020 e a ideia é fazer novos vídeos, agendar mais shows e fazer novos lançamentos ainda no ano que vem.

Vocês vem de uma escola mais de punk rock, mas a Dozz é claramente cheia de outras influências, de coisas mais clássicas até do indie mais contemporâneo. O que vocês têm ouvido e o que você acha isso interfere no seu processo de produção?

Eu tenho uma teoria de que tudo o que você escuta até os seus 20 anos é o que vai moldar o centro da sua criatividade e é impossível fugir disso. Nossa proposta inicial era de fazer um som mais limpo e menos agressivo, mas as primeiras jams que fizemos foram surpreendentemente bem pesadas, o que eu atribuo a um reflexo inconsciente da nossa juventude. Eu acho isso ótimo, porque é real e instintivo, e creio que uma banda de rock precisa disso para lapidar sua base. Já os demais elementos, que ao meu ver são a cereja do bolo, vêm dos anos de trajetória e descoberta musical de cada um. Ainda continuamos escutando o óbvio, como Black Sabbath, Muse, Bad Religion, The Strokes, Rage Against the Machine e Oasis, mas também temos ouvido clássicos como Lou Reed, The Smiths e Iggy Pop, contemporâneos indie como The Kills e Black Rebel Motorcycle Club, muita surf music, um pouco de hip hop da década de 1990 e muita música feita por nossos amigos capixabas.

Com a estreia nos palcos e o lançamento do EP, vocês estão prontos pra entrar numa cena de rock autoral. O que vocês esperam disso? O cenário hoje é bem efervescente...

Não sei se esperamos alguma coisa além de nos fazermos mais presentes no desenvolvimento do cenário de uma forma mais praticante, digamos assim. Particularmente, eu passei os anos de 2017 e 2018 num projeto que criei chamado "Inferno Santo", no qual eu me dediquei à produção de notícias, entrevistas, matérias e playlists voltadas exclusivamente à música alternativa do Espírito Santo. Com isso pude me sentir ainda mais perto do que é feito na minha terra, além de ter conhecido e feito amizade como artistas incríveis. Poder agora estar ainda mais inserido neste meio é muito gratificante pra mim e ser convidado justo pelo Muddy Brothers para fazer nossa estreia deixou tudo ainda mais especial. Acho que 2020 será um ano ainda melhor.

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