Crítico de cinema e apaixonado por cultura pop, Rafael Braz é Jornalista de A Gazeta desde 2008. Além disso é colunista de cultura, comentarista da Rádio CBN Vitória e comanda semanalmente o quadro Em Cartaz

"Agente Infiltrado", da Netflix, tem ótima ação e bom drama

"Agente Infiltrado" é um violento thriller policial com estética crua e pesada. Filme com Alban Lenoir tem bons personagens e faz escolhas até ousadas para o gênero

Vitória
Publicado em 28/04/2023 às 19h03
Alban Lenoir em "Agente Infiltrado", da Netflix. Crédito: Nicolas Auproux/Divulgação
Alban Lenoir em "Agente Infiltrado", da Netflix. Crédito: Nicolas Auproux/Divulgação

Rosto recentemente descoberto por um público maior, Alban Lenoir é uma espécie de Jason Statham francês. O ator começou fazendo papéis menores e trabalhando como dublê, mas ganhou destaque na série francesa “Hero Corp” antes de se credenciar para papéis de mais destaque. Foi em 2020 que ele se tornou de fato o protagonista de um filme no bom “Bala Perdida”, sucesso da Netflix que logo ganhou uma divertida continuação.

Em “Agente Infiltrado”, Lenoir reencontra Morgan S. Dalibert, diretor que de fotografia dos dois “Bala Perdida” que agora assume o posto principal no bom policial da Netflix. Com a intensidade corporal de sempre, o ator vive Adam Franco, um agente das forças especiais francesas que é obrigado a se infiltrar entre os capangas de um poderoso criminoso interpretado pelo ex-jogador Éric Cantona. Adam sobe rapidamente na hierarquia dos capangas e logo forma um forte vínculo com o filho de oito anos do mafioso, o que, claro, irá deixar seu trabalho bem mais complicado em meio à guerra por poder entre criminosos locais.

“Agente Infiltrado” não gasta muito tempo explicando quem é quem, o que é ótimo. Vamos conhecendo os personagens enquanto o filme transcorre. Há pouco sobre o passado de Adam, uma informação importante no filme, mas é o suficiente para entendermos seu vínculo com a criança sem que ele diga nada além daquilo que já foi mostrado. Algumas reviravoltas da trama parecem repentinas, como a descoberta de Adam após uma emboscada sofrida por ele outros capangas. A conclusão a que ele chega é essencial para o desenrolar da trama, mas é difícil entender como ele chegou até ela; nada que comprometa.

O filme de Morgan S. Dalibert trabalha muito bem a iluminação em diferentes ambientes, criando imagens bonitas que ajudam a dar o tom da história - personagens misteriosos e/ou de caráter duvidoso aparecem sempre à meia-luz ou com apenas parte do rosto iluminado. Já os jovens e mais ingênuos ganham cenas ensolaradas e em ambientes abertos.

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Éric Cantona no filme "Agente Infiltrado", da Netflix. Crédito: Nicolas Auproux/Netflix

Dalibert sabe filmar e opta por uma estética crua para sua ação; comandada por Lenoir, a ação de “Agente Infiltrado” é violenta e sempre intensa, seja em sequências de trocas de tiro, seja em lutas em ambientes fechados, como quando Adam invade um prédio. Confiante no potencial de seu astro, o diretor usa takes longos que tornam possível a compreensão das coreografias e fazem com que o espectador “sinta” os golpes e a subsequente dor de quem os recebe.

É interessante como a estrutura do filme se apresenta. No segundo ato, o clímax parece óbvio e qualquer espectador que já tenha assistido a alguns filmes do gênero sabe o que vai acontecer. De fato, o esperado acontece no arco de Adam e da criança, mas “Agente Infiltrado” vai além - Dalibert aproveita os 123 minutos de duração do filme para explorar mais possibilidades. O diretor assume o risco ao inserir, sem muito aviso, uma trama que lida com terrorismo e relações internacionais ao lidar com a atuação francesa no processo de independência do Sudão. A trama parece um pouco apressada, e realmente o é, mas acrescenta camadas ao filme.

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Filme "Agente Infiltrado", da Netflix. Crédito: Nicolas Auproux/Netflix

“Agente Infiltrado” também merece méritos pela forma como trata a violência. Claro, é um filme policial cheio de cenas de ação, mas elas têm peso, nunca parecendo apenas uma coreografia. Ao contrário de filmes como “Ghosted”, da AppleTV+, no qual as mortes nada significam, cada morte no filme francês da Netflix tem um peso, uma consequência, representando um afastamento de Adam do papel de mocinho. O texto também toma decisões narrativas dificilmente vistas em obras do mesmo gênero feitas nos EUA ou até mesmo nos filmes recentes de Guy Ritchie, um cineasta acostumado ao estilo.

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Filme "Agente Infiltrado", da Netflix. Crédito: Nicolas Auproux/Netflix

Mesmo com alguns problemas narrativos, “Agente Infiltrado” é um ótimo produto de ação, um policial tenso, violento e com alguma ousadia que merece crédito (mesmo que nem sempre funcione). Com um protagonista intenso e até carismático (a seu modo), o filme parece pronto para ganhar se tornar uma franquia de ação que só tem a melhorar com o tempo.

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