Crítico de cinema e apaixonado por cultura pop, Rafael Braz é Jornalista de A Gazeta desde 2008. Além disso é colunista de cultura, comentarista da Rádio CBN Vitória e comanda semanalmente o quadro Em Cartaz

"Gêmeas - Mórbida Semelhança": Rachel Weisz brilha em ótima série horror da Amazon

Remake de horror clássico de David Cronenberg, "Gêmeas - Mórbida Semelhança" tem Rachel Weisz como gêmeas em minissérie de horror e suspense

Vitória
Publicado em 25/04/2023 às 16h44
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Rachel Weisz em "Gêmeas - Mórbida Semelhança", da Amazon Prime Video. Crédito: Amazon Prime Video/Divulgação

Lançado em 1988 pelo mestre do horror corporal David Cronenberg, “Gêmeos - Mórbida Semelhança” levava o diretor para um terror psicológico com a história dos gêmeos Elliott e Beverly (Jeremy Irons), dois ginecologistas com uma relação complexa de codependência. O filme lida com identidade e obsessões de maneira tensa, pontuado por momentos de esquisitices ao estilo do cineasta e por um clima meio absurdo de que tudo pode acontecer.

Um marco na época, o filme baseado no livro de Bari Wood e Jack Geaslan ganhou destaque por ser minimamente baseado nas vidas dos médicos ginecologistas Stewart e Cyril Marcus, gêmeos idênticos que morreram no mesmo dia, aos 45 anos, em circunstâncias estranhas e até hoje não esclarecidas.

O filme agora ganha um remake improvável em “Gêmeas - Mórbida Semelhança”, ótima minissérie lançada pela Amazon Prime Video que não apenas faz justiça ao material original, como também amplia seu escopo de discussões e oferece muito material para Rachel Weisz brilhar. A atriz britânica vive Elliott e Beverly, gêmeas idênticas e ginecologistas famosas em Nova York por seus trabalhos de ressignificação do parto e pela dedicação em dar mais atenção às mulheres grávidas durante a gestação - “a gravidez não é uma doença”, diz Beverly, em certo ponto, ao se recusar a tratar as gestantes como “pacientes”.

Apesar do forte vínculo apresentado desde o início, as gêmeas são muito diferentes. Beverly é tímida, carinhosa, com forte instinto de cuidar das pessoas, enquanto Elliott abusa de drogas, realiza pesquisas genéticas irregulares e parece sempre pronta para explodir para cima de alguém, uma mulher perigosa. A série introduz desde o início a prática de ambas de trocarem de lugar em determinados momentos, por necessidade profissional ou apenas por diversão, porque podem fazê-lo.

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Rachel Weisz em "Gêmeas - Mórbida Semelhança", da Amazon Prime Video. Crédito: Amazon Prime Video/Divulgação

O trabalho de Weisz para distinção das irmãs Mantle impressiona. Logo após conhecê-las, é fácil distingui-las - a série usa o recurso de uma usar mais o cabelo solto e a outra, preso, o que funciona até na composição das personagens. A atriz trabalha o olhar, a presença corporal, a postura, Rachel Weisz é impecável na distinção das irmãs a partir das complexidades de cada uma. O abismo de personalidade entre elas também ajuda o texto a reforçar o vínculo - como, afinal, duas pessoas tão opostas podem ser tão conectadas?

“Gêmeas - Mórbida Semelhança” mantém o clima de Cronenberg, refaz algumas sequências e presta homenagens ao cineasta, como no nome do personagem de Michael Chernus, que faz referência à síndrome do protagonista de “Spider”, mas a série da Amazon toma decisões e aposta em rumos completamente distintos. A showrunner Alice Birch mostra reverência, mas atualiza contextos e significados.

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Rachel Weisz em "Gêmeas - Mórbida Semelhança", da Amazon Prime Video. Crédito: Amazon Prime Video/Divulgação

Com protagonistas mulheres e tão diferentes, o roteiro consegue explorar com muito mais profundidade temas como maternidade, aborto e menopausa. Beverly é uma ginecologista brilhante, mas não consegue engravidar, o que motiva as pesquisas de Elliott, que se vê ameaçada pela presença de Genevieve (Britne Oldford), namorada da irmã.

É interessante como a série cria seu horror de forma natural a fim justamente de normalizar a gravidez e o parto. Em uma cena, coberta de sangue após um parto, Beverly, ao contrário de todos no recinto, não se sente incomodada, pois é algo “natural”. O incômodo vem dos experimentos, como no quinto episódio, o melhor da série, dirigido por Karyn Kusama (“Garota Infernal”), em que as irmãs viajam para auxiliar no nascimento de quadrúplos. O episódio explora experimentos de James Marion Sims, o “pai da ginecologia moderna”, título conseguido a partir de experimentos que ele realizou com uma mulher escravizada e torturada. Ter gêmeas ao invés de gêmeos no remake ajuda até alfinetar o fato de uma especialidade como a ginecologia ter sido consolidada por homena.

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Rachel Weisz em "Gêmeas - Mórbida Semelhança", da Amazon Prime Video. Crédito: Amazon Prime Video/Divulgação

“Gêmeas - Mórbida Semelhança” busca a complexidade da personagem e dos significados, mas não é uma narrativa difícil de se acompanhar. Talvez justamente para tornar tudo mais pop, a série sinaliza demais o destino, deixando a compreensão mais fácil, mas também simplificando demais e eliminando a subjetividade. Ainda assim, a série da Amazon Prime Video é ótima, uma bela homenagem a David Cronenberg, atualizada e ressignificada, e conduzida por uma espetacular Rachel Weisz - o sorriso de Elliott é ao mesmo tempo assustador e intrigante, algo que permanece com o espectador muito depois do fim da série.

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