Uma jornalista que ama os animais, assim é Rachel Martins. Não é a toa que ela adotou duas gatinhas, a Frida e a Chloé, que são as verdadeiras donas da casa. Escreve semanalmente sobre os benefícios que uma relação como essa é capaz de proporcionar

Como cuidar de gatinhos cegos: confira a rotina de três irmãos

A biomédica Joana Paes Lemes adotou, ainda filhotinhos, três gatinhos irmãos e cegos. Ela explica que animais com deficiência levam uma vida normal, só precisam de alguns cuidados a mais para que tenham uma qualidade de vida melhor

Publicado em 13/07/2021 às 02h00
Da esquerda pra direita Lalinha, Buda, Bali, ainda filhotes
Da esquerda pra direita Lalinha, Buda, Bali, ainda filhotes: irmãos e cegos. Crédito: Divulgação Jayme Rocha

Quando as pessoas pensam em adotar um pet, são raríssimas as que se predispõem a levar para casa um adulto, um idoso, um preto ou com alguma deficiência. Esses, geralmente, passam a vida no abrigo. Mas, claro, existem exceções, gente que consegue se despir de qualquer preconceito e levar para dentro de sua família cachorros ou gatos com alguma limitação. E no final sempre dizem a mesma coisa: é muito gratificante.

É o caso da biomédica Joana Paes Lemes, “mãe” dos gatinhos, Buda, Bali e Lalinha, que são irmãos e cegos. Em seu perfil na internet (@budasoul), ela mostra o dia a dia dessa turminha, que inclui, ainda, a Gilli, uma gatinha de 10 meses com má formação óssea nas duas patas dianteiras, além do Miguel, um cachorro resgatado recentemente que está em tratamento oftalmológico, mas que, infelizmente, não deve recuperar a visão.

Joana e Buda, uma relação sem preconceito e de muito amor
Joana e Buda, uma relação sem preconceito e de muito amor. Crédito: Arquivo pessoal

Joana conta que cresceu vendo os pais prestarem socorro a animais em situação de rua. “Era algo comum para mim. Hoje, coordeno uma campanha de adoção de animais em minha cidade, Niterói, Rio de Janeiro, onde vivencio frequentemente o quanto animais adultos, idosos ou com características especiais são deixados de lado, porque a imagem do belo se sobrepõe para algumas pessoas. E isso é muito triste porque o amor não tem moldes, não se compra e nem se escolhe”.

Para ela, a pessoa acaba se sentindo atraída pelo belo. “Mas a verdade é que a definição de beleza varia muito. E essa é uma das razões da criação do perfil do Buda, mostrar que gatos cegos podem ser belos, felizes, sociáveis, amorosos e que merecem ser amados e desejados como qualquer outro animal e não ser taxados e condenados à uma vida sem alegrias, presos, acorrentados e sem estímulos ou afeto por suas características especiais”, ressalta.

Má formação ocular

Buda, Bali e Lalinha chegaram a sua casa com dois meses e meio. Hoje, eles têm três anos e meio e todos nasceram com má formação ocular. “Foram descartados no lixo, uma amiga me pediu ajuda e os assumi para que tivessem os tratamentos e cuidados devidos”.

Buda e Bali, segundo Joana, apresentavam quadro irreversível e passaram por enucleações (remoção dos globos oculares) para terem mais qualidade de vida, visto que os olhos não funcionais poderiam ser uma porta de entrada para futuras inflamações e infecções, o que já acontecia.

Buda descansando
Buda descansando . Crédito: Arquivo pessoal

Já Lalinha, ainda possuía uma discreta percepção de luz. “Nesse caso, optamos por preservar os olhos, mas todos os dias preciso limpá-los e lubrificá-los. Em breve, ela passará por uma cirurgia oftalmológica para ter também mais qualidade de vida”, diz Joana.

Os três sempre foram muito unidos e a ideia era doá-los juntos, mas isso foi inviável e, claro, Joana acabou se apegando demais a eles e vice-versa. “Daí, estamos aqui, nós todos nessa troca deliciosa e diária de amor”.

Olhos do amor

Joana alerta que informação é sempre a melhor ferramenta para mudar o olhar em relação aos animais com alguma deficiência. “Há inúmeros pets nessa situação aguardando uma chance de serem vistos com os olhos do amor. A maioria morre sem saber o que é ter uma família, um lar. Podemos mudar isso, basta mudarmos nosso conceito de que tudo precisa ser perfeito. Não precisa, podemos nos moldar e eles nos ensinam isso, superam diariamente suas limitações físicas e apenas vivem, guiados pela vontade de viver e agem como são: cães e gatos em sua essência”.

Joana ressalta, que embora não dê para generalizar, os pets com deficiência são capazes de levar uma vida normal, mas sempre, claro, vão precisar de alguns cuidados a mais. “O importante é saber que o animal não possui essa consciência de deficiente, ele vai agir como o animal que é, nós é que temos essa consciência e os vitimamos. Levar uma vida ‘normal’ vai depender da dedicação e responsabilidade do tutor”, alerta.

Gilli também tem deficiência visual
Gilli também tem deficiência visual. Crédito: Arquivo pessoal

Ela explica que no caso dos cegos é preciso ter em mente que eles não sabem se proteger de outros animais ou de qualquer outra situação de perigo.

“Buda por exemplo é curioso, adora sair de sua caixa de transporte quando chegamos em algum lugar, mas tomo sempre muito cuidado porque ele é indefeso. Apenas o deixo passear em locais sem risco de fuga, com a caixa de transporte sempre próxima a mim, peitoral e guia próprios para gatos, placa de identificação com número de contato e sem a presença de cães, mesmo ele estando acostumado, pois tenho cachorros em casa que convivem bem com ele”.

Nada os limita

Joana conta que os três são incríveis, determinados, amorosos e muito engraçadinhos e possuem a mesma rotina dos outros gatos “normais”. Na verdade, seja qual for o gato, ele seguirá a rotina dos donos. “Aqui, eles dormem a noite toda, levantam com a casa acordando (exceto se acabar a ração, aí a gente acorda com eles), brincam, interagem, nos buscam e também aprontam como qualquer outro gatinho. Nada os limita! A ausência da visão é compensada pelo olfato, audição e tato mais apurados, o que os guia perfeitamente”, garante.

Bali curtindo a rede
Bali curtindo a rede. Crédito: Arquivo Pessoal

Buda, diz Joana, é calmo, confiante, sociável e brincalhão. Gosta de explorar tudo ao seu redor, sai tranquilamente usando peitoral e guia e quando em local seguro, ela o deixa explorar o ambiente, e ele curte bastante.

Bali é brincalhona. “É a mais carinhosa e dependente do contato físico direto com a gente. É bem assustada com barulhos e visitas e também a mais agitada”.

Lalinha é tímida, muito carinhosa e a mais insegura dos três. “Ela não se guia tanto pelos outros sentidos (olfato, audição e tato) como os totalmente cegos. E a baixa percepção de luz não a deixa segura. Dos três, ela é a que erra saltos e brincadeiras”.

Vínculo e confiança

Ela lembra que desde pequenos os acostumou a serem manipulados pois o vínculo entre ele e ela precisava ser de confiança, já que necessitariam de alguns cuidados especiais ao longo de toda a vida.

Buda e Bali (à direita), são todos muito amigos
Buda e Bali (à direita), são todos muito amigos. Crédito: Arquivo Pessoal

“Hoje, após esses anos de convívio, os cuidados são os básicos, aqueles que já se têm com os outros ditos "normais”, como limpeza de orelhas, corte de unhas, saúde bucal, escovação, check-up veterinário, vacinas e no caso de Lalinha a limpeza e lubrificação dos olhos”.

Mas na rotina da casa, Joana explica que são necessários alguns cuidados, e os tutores percebem a necessidade de cada um conforme o tempo vai passando.

Confira 5 dicas para dar mais qualidade de vida a gatinhos cegos

  1. Som alto: evite sempre que possível. Aqui em casa já percebemos quais sons os assustam: o liquidificador, por exemplo, para Buda, e o aspirador de pó para Bali e Lalinha. Então, quando esses aparelhos são ligados, os pegamos, levamos ao quarto e delicadamente encostamos a porta para abafar o som. E muitas vezes, mesmo com o aparelho ligado, falamos com eles, isso costuma os acalmar e os levam a lidar melhor com a situação.
  2. Calma na aproximação: ela deve ser feita calmamente. Sempre que nos aproximamos deles, temos o cuidado de não os assustar. Por conta dos olhos fechados não sabemos se estão dormindo, então eles mesmos percebem através do olfato ou pela vibração na superfície que estamos chegando. É bem curioso ver o movimento das vibrissas e orelhas.
  3. Móveis e objetos: móveis e objetos pontiagudos são cuidados que devemos ter para que não se machuquem.
  4. Nichos ou prateleiras: nós não deixamos que eles tenham acesso a nichos ou prateleiras altas. Limitamos até uma determinada altura, porque embora eles sejam como qualquer outro gato, sabem se virar, se guiar, mapeiam os caminhos, mesmo assim, neste caso, é preciso atenção. Buda, por exemplo, também curte se jogar e eu estaria arriscando se não fizesse isso. Bali e Lalinha já não são tão confiantes assim.
  5. Coisas no mesmo lugar: é bom evitar mudar coisas de lugar em relação a qualquer gato. Mas no caso dos cegos, isso deve ser levado ainda mais em conta, embora eles precisem de pouco tempo para “mapear” o novo caminho e não passar mais por aquele local. Em alguns momentos, muitos por sinal, esquecemos que são deficientes visuais, tamanha a desenvoltura deles que correm pelo apartamento sem bater em nada, pegam bolinha e nos trazem, nos chamam e quando respondemos vêm perfeitamente ao local que estamos. Potes de ração, água e caixas de areia também devem permanecer no mesmo local.

5 dicas antes de adotar um animal com deficiência

  1. Informação é fundamental: procure sempre obter informações com pessoas e profissionais e ouça mais de uma opinião.
  2. Prepare a casa: prepare seu espaço de acordo com as necessidades do pet.
  3. Tenha certeza: esteja certo ao adotar, alguns já sofreram demais e possuem uma expectativa de vida de 15 anos.
  4. A rotina vai mudar: talvez a sua rotina sofra alterações e você precise se adaptar à rotina do pet, mas saber que você está fazendo a diferença na vida de um animal especial, é algo muito gratificante.
  5. Gratidão eterna: você terá o olhar de gratidão e humildade que vai te emocionar para o resto da vida. Eles são muito especiais e nos fazem sentir assim também

Este texto não traduz, necessariamente, a opinião de A Gazeta.

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