Uma jornalista que ama os animais, assim é Rachel Martins. Não é a toa que ela adotou duas gatinhas, a Frida e a Chloé, que são as verdadeiras donas da casa. Escreve semanalmente sobre os benefícios que uma relação como essa é capaz de proporcionar

Carta de despedida do cachorro Dom

Ele fugiu sem querer de casa no dia 22 de julho e foram 13 dias de buscas, noite e dia, por parte de sua família. Infelizmente, ele perdeu a vida. As imagens de câmeras cedidas por alguns condomínios e empreendimentos da região foram fundamentais para mapear o caminho que ele percorreu

Publicado em 10/08/2021 às 02h00
Cachorro Dom
Dom descansando em casa.  Infelizmente ele foi encontrado sem vida. . Crédito: Divulgação

Tudo aconteceu tão de repente… O portão ficou aberto por um segundo e eu resolvi dar um passeio (“vovô” e “vovó” conforte seu coração, aqui onde estou fico triste de vê-los sentindo-se culpados, foi apenas uma fatalidade). Eu não deveria ter saído para a rua, mas sempre fui curioso, arteiro e danado (pelo menos “mamãe” sempre disse isso).

Desculpe, eu nunca imaginei que ao sair para a rua estaria correndo tanto perigo. Infelizmente, quando percebi já estava perdido e a única coisa que pensava era em voltar para a nossa casa, porque sabia que todos ficariam muito preocupados comigo, mas não sabia mais o caminho. Tive muito medo, e só corria, corria, corria… entre carros e pessoas. Estava muito assustado.

O avô de Dom fazendo um chamego no seu amigo
O avô de Dom fazendo um chamego no seu amigo. Crédito: Divulgação

E enquanto corria sem direção só pensava naquele dia de maio de 2020, quando fui acolhido com todo amor nos braços de vocês e recebi o nome de Domingos, mas logo “vovó” passou a me chamar apenas de Dom e assim ficou. Tive certeza que naquele dia nossos destinos estavam selados, e como agradeço por isso.

Foram tantos, tantos momentos bons que passei com você, “mamãe” Letícia, com o “papai” Vitor, as minhas princesas, Julia e Maitê, meus “avós” e “tia” Jô. E claro, meu fiel companheiro Coupè. A gente sabe o quanto é difícil os cachorrinhos pretos serem adotados. Por isso, posso dizer o quanto fui privilegiado quando entrei para a família de vocês.

Eu cheguei bem filhotinho, lembra? Eu tinha acabado de desmamar, e logo fomos para Domingos Martins, porque era o começo da pandemia, e vocês decidiram que iríamos ficar nas casa dos meus “avós”, que eu ainda nem conhecia. Ganhei até roupinha porque lá é frio.

Lembro que por ser um condomínio fechado de casas, você “mamãe” me deixava correr e ficava espantada com a minha agilidade para subir os morros mais íngremes, o que, aliás, cativava todo mundo - posso dizer que eu era um verdadeiro pet-atleta. E logo já me entendi com Coupé. E como adorávamos brincar juntos, claro, de vez em quando rolava um ciúmes, mas eu, definitivamente, dominei a casa (latidos). Passamos um bom tempo lá e adorava correr em busca de um graveto ou de uma bolinha. Era só felicidade.

Julia fazendo carinho em Dom Foto
Julia fazendo carinho em Dom Foto . Crédito: Divulgação

Quando voltamos para Vitória, eu estava maiorzinho e já tinha conquistado o coração de todos. E ficava ansioso esperando vocês chegarem em casa, ou em cima da mesa da sala, da varanda ou do sofá, sempre abanando o rabinho feito um louco, amava quando você “mamãe” dizia que parecia até um ventilador.

Ah! E como eu adorava colocar meu pescocinho comprido como um cachecol no de vocês, nem percebia as horas passarem de tão gostoso que era. E eu espoleta que só, logo dei um jeito de alcançar a cama - que era alta - para dormir coladinho no seu pé “mamãe”. E vocês nunca me expulsaram de lá.

Peço desculpas pelos controles-remotos, sapatos e bonecas destruídos. Sei que muitas vezes merecia uma baita de uma bronca. Mas eu era esperto, tinha certeza que ao ser descoberto, bastava me jogar no chão, de barriga pra cima, com aquela cara de pidão, que ninguém teria coragem de brigar comigo. Dito e feito. Ao invés de castigo, ganhava carinho.

Sabe, desde o começo, quando estava perdido, tinha certeza que vocês não desistiram de mim, e isso de certa forma me acalmava. E sei que vocês fizeram de tudo para me encontrar e sofreram com a minha ausência a cada minuto nos 13 dias de busca.

Já sei que meus avós saíram dia após dia tentando mapear o meu caminho, solicitando aos condomínios e empreendimentos da região imagens de câmeras que pudessem ajudar na minha busca. Além disso, pregaram cartazes e distribuíram panfletos por onde passaram. Todos vocês meus amados tutores foram incansáveis, por isso confortem seus corações, mesmo perdido eu pude sentir essa energia boa a cada momento, e o quanto eu fui amado e serei para sempre.

Maitê e Dom pedindo carinho
Maitê e Dom pedindo carinho. Crédito: Divulgação

Gostaria de agradecer a todos que cooperaram disponibilizando as imagens que foram fundamentais para que minha família descobrisse o que aconteceu comigo. Aos que não se sensibilizaram e não se dispuseram a ceder as imagens, só tenho a lamentar. E também quero agradecer a todos que de alguma forma entraram nessa corrente do bem para tentar me achar. Muito obrigado.

A vocês, meus queridos “pais”, “avós”, Julia, Maitê e “tia” Jô, quero dizer que a cada dia que estive no seio dessa linda família, fui tão, tão amado, que só tenho a agradecer por cada momento vivido. Como fui feliz! Eu não estou mais entre vocês (eu sei que não era isso o que esperávamos), mas sempre estarei em seus corações, assim como vocês vão estar eternamente no meu.

Quero dizer que fui um cachorrinho, muito, muito feliz, e que vocês foram maravilhosos. E não fiquem tristes, lembrem de mim como aquele “filho de quatro patas”, alegre, inteligente, brincalhão, ciumento, aventureiro, sapeca, arteiro, feliz, amigo, companheiro, lindo, dengoso e que adorava beijar a “mamãe”, comer cenoura que ganhava da tia Jô enquanto tomava sol e brincar com o Coupè. Só estou repetindo o que vocês me falavam todos os dias, latidos.

É assim que devem se lembrar de mim. Não quero vê-los tristes, sabe por quê? Porque vocês foram a melhor família que um cãozinho como eu poderia ter.

Vocês sempre me diziam que “eu falava com o olhar”. Então, quando quiserem conversar comigo, a partir de agora, lembrem do meu olhar. É através dele que vamos continuar nos conectando.

Assinado: Dom

Este texto não traduz, necessariamente, a opinião de A Gazeta.

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