Nessa coluna, Nanda Perim fala de sua experiência como psicóloga e educadora parental, dando seu parecer sobre questões atuais da educação infantil, trazendo dicas, humor e muita novidade boa!

Converse com sua criança. Ela tem o direito de saber verdade

A psicóloga Nanda Perim fala sobre a importância de conversar com a criança desde antes do nascimento e ressalta os benefícios dessa troca em tempos de medos e incertezas. Segundo ela, colocar 'as cartas na mesa' é libertador

Publicado em 07/05/2020 às 09h47
Atualizado em 07/05/2020 às 09h47
Pai conversando com filho
Pai conversando com o filho. Crédito: shutterstock

Você sabia que conversar com sua criança pode ser libertador para você e para ela? Sim, desde seu primeiro dia de vida (na verdade, até antes, enquanto estava na barriga) esse bebê precisa de palavras. Pense num bebê recém-nascido deixado em cima de um berço, sozinho. Provavelmente irá chorar. Mas caso ouça uma voz suave lhe chamando, provavelmente cessará esse choro, buscando de onde aquela voz vem. Se você de repente pega esse bebê no colo sem avisar, ele se assustará. Mas se antes disser "vem comigo, meu amor”, ao encostar nele, é bem menor a chance de ele se assustar.

Mas a importância da conversa não para por aí! A criança não só se sente segura e protegida, ao perceber a presença de seu cuidador, como também começa a entender seu lugar ali a partir dessa fala. O bebê precisa dessa conversa para começar a se organizar e saber o que esperar daquele espaço que ocupa, daquela relação da qual faz parte. O bebê, no início da vida, sequer se percebe separado daquele que o cuida, portanto, essas conversas o ajudam a começar a entender esse universo que o cerca, esses rituais e ritmos que formam seu dia, essas presenças que fazem parte de sua vida. Diferentes vozes, conversas e entonações começam a fazer sentido para esse bebê, que está ainda se descobrindo no mundo.

Esse bebê precisa da verdade e se alimenta dela para estruturar quem é, para se constituir a partir do que lhe é falado e, assim, se inserir naquela realidade. Dessa maneira, o silêncio sobre essa realidade pode ser nocivo. E, vamos combinar, é o mais comum em nossa cultura.

Deixamos bebês e crianças no escuro, com medo de chatear, sem vontade de tentar explicar, mentimos e enganamos as crianças ao invés de, simplesmente, dizer o que realmente está acontecendo.

Já a criança, que te conhece como ninguém, sabe que algo não vai bem e se assusta, transforma esse sentimento em medos e não sabe como organizar mentalmente a situação que não lhe está sendo explicada.

Além disso, bebês e crianças também precisam se libertar de carregar as projeções do que não vai bem ao seu redor e essa libertação também acontecerá através da fala. Por exemplo, quando uma mãe expressa seus medos e angústias pro bebê, consegue organizar sua responsabilidade emocional disso, liberando o bebê que, de outra forma, seria interpretado por sua mãe a partir das angústias que ela carregava.

Essa mãe, então, se encarrega de nomear para a criança essas emoções, esses medos, de explicar os acontecimentos à sua volta, ajudando, assim, a criança a dar sua própria forma ao que está entendendo, a partir da própria subjetividade.

Como culturalmente o que se conhece bem é deixar essa criança no escuro, excluindo ela da verdade da realidade em que está inserida, muitos de nós, adultos, simplesmente repetimos o padrão que existiu em nossas infâncias.

Subestimamos a capacidade da criança de compreender essa realidade, e a excluímos sem lembrar que ela ainda está ali, inserida, implicada e sofrendo as consequências no escuro.

Ou seja, nessas épocas de medos e incertezas, precisamos falar. Explicar, dizer como nos sentimos, trocar com essa criança como está sendo a experiência para você e para ela. Colocar essas ‘cartas na mesa’ não só pode ser muito libertador para pais e filhos, como também muito surpreendente quando os pais descobrem a enorme resiliência dessas crianças. Aprendemos muito com elas, mas não sem essas conversas.

Outro momento que a fala se faz muito importante é no decorrer do dia, em cada atividade. Conversar e dizer como o dia será, desde bebê, é importante para que a criança comece a ser organizar, a se preparar para cada etapa. Conforme você vai avisando “daqui a pouco vamos comer” você vai dando tempo para a criança entender, assimilar e aceitar cada pequena transição do seu dia a dia. Esse processo de três etapas se faz importante nas pequenas e grandes mudanças da vida, e conforme você se comunica também se torna hábito.

A criança tem, então, não só a oportunidade de receber a verdade, não só a inserção na realidade em que vive, não só contato com muitas novas palavras e novos vocabulários, raciocínio lógico e matemático, como também tem tempo para se organizar e se preparar, tornando seu dia mais previsível. Essa previsibilidade também tranquiliza a criança. Já percebeu como os pequenos adoram ver o mesmo filme ou ler o mesmo livro diversas vezes? Crianças adoram a repetição e o previsível. E por isso a conversa, por mais repetitiva que te possa parecer, para a criança, é muito construtiva e necessária!

Portanto, em época de tantas incertezas da pandemia, converse com sua criança! Diga a ela todas as verdades, os sentimentos, não subestime sua capacidade de entendimento. As crianças estão de qualquer forma atentas ao que acontece ao seu redor, e é muito melhor que você diga a verdade e a ajude a entender, do que esperar sua mente infantil e imatura criar mil versões daquela realidade que não lhe foi explicada.

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