Médico, psiquiatra, psicanalista, escritor, jornalista e professor da Universidade Federal do Espírito Santo. E derradeiro torcedor do América do Rio

Psicossomática quer ocupar vazio perigoso entre as instâncias do corpo

A separação entre tais instâncias, para começar, é um erro perigoso. Todas as pessoas sentem a ligação entre o pensar e o sentir. Experimentam, mesmo sem compreender

Publicado em 05/11/2019 às 04h00
Atualizado em 05/11/2019 às 04h00
Psicologia e Medicina. Crédito: Divulgação
Psicologia e Medicina. Crédito: Divulgação

Considero de suma importância para o respeitável público uma leitura que fale da interação e integração do que se costuma equivocadamente dividir - psíquico e físico - no instante da discussão do desenvolvimento emocional primitivo: infância e adolescência, que são os mimos conceituais de Michael Balint.

Diz ele, teórico que sustentou e explicou a intraposição da Psicanálise e Clínica Médica, cuja compreensão das referidas relações foram quase sempre tão difíceis quanto inevitáveis. A separação entre tais instâncias, para começar, é um erro perigoso. Todas as pessoas sentem a ligação entre o pensar e o sentir. Experimentam, mesmo sem compreender.

Em algumas ocorrências dessa encruzilhada, a Psicossomática para ser explícito nesse enfoque, aparece a língua, aquela que fala e ao mesmo tempo sente sabores etc. Seria uma das encruzilhadas funcionais importantes, me parece, já que é absolutamente inegável e fácil de experimentar.

A relação entre Psicanálise e Medicina foi e é exaustivamente debatida pela comunidade psicanalítica, desde Sigmund Schlomo Freud, Ernest Jones, Melanie Klein, Donald Winnicott e muitos outros. Tudo isto não resultou em posições uniformemente admitidas pelo conjunto dos analistas.

Há muitas concepções a respeito nos cursos de formação de nível oficial (reconhecidos pela International Psichoanalytical Association, a IPA , fundada por Freud com sede em Londres e afiliadas no Rio de Janeiro, São Paulo, Porto Alegre e Belo Horizonte). No que concerne à Dor Humana, a medicina “pura” ocupa o lugar principal, é a dona do pedaço.

Isso dentro das mais convictas teorias psicanalíticas e mesmo psicossomáticas. O tratamento de uma “doença” denominada neurose, por exemplo, só pode ser psicanaliticamente considerado se dermos sentido e direções diversos dos da medicina, quanto ao tratamento, sintomatologia e tudo mais. A repetida afirmação do “isto não é nada, é psicológico”, nos mostra isso na práxis diária. Imaginem nas psicoses (Esquizofrenias, Bipolaridade, Psicose Orgânica etc).

A medicina tem padrões seculares que são firmes e demonstráveis à vista. Dificilmente pode-se colher e muito menos demonstrar um resultado no tratamento de um sintoma “pela fala e escuta” em situação, por exemplo, de atendimento de urgência ou emergência.

Embora ocorra a cada atendimento, o instrumento fundamental utilizado pela psicanálise, a interpretação da fala, na medicina recebe outra via de concepção. Interpretação é tudo no sintoma psíquico e físico. A medicina precisa, entretanto, de resguardar-se, inclusive nas leis morais e éticas. É proibido a prática da medicina sem a devida autorização do poder governamental. É um resguardo que tem suas razões, é claro. Mas o terreno da psicanálise é invadido por qualquer terapia. Não se trata aqui de juízo de valores, mas a tentativa de mostrar que o resguardo da prática médica pode estar limitando e diminuindo a sua atuação em todos os campos, principalmente no psicanalítico. Mas isso não pode ser reconhecido, parece.

Os dados sobre o assunto são óbvios, mas ignorados. Não existe no Brasil e na maior parte do mundo hospitais gerais que abriguem, entre os acolhimentos, a psiquiatria clínica, muito menos a psicanálise. Por mais competentes que sejam os psicanalistas e psiquiatras clínicos (ou “farmacodinâmicos”) são ignorados junto com seus pacientes em seus consultórios privados, hospícios e clínicas psi.

A ligação bizarra que se faz entre violência e doença mental está carregada de suma ignorância. Em observações durante anos, muito raramente noticiou-se um crime em tais instituições e circunstâncias. Já entre os prisioneiros sadios mentalmente...

Ao contrário de todas as outras especialidades, a psiquiatria não é oficialmente exercida por outro médico que não o psiquiatra. Há críticos que consideram isso uma certa dificuldade de pisar em terreno desconhecido e perigoso, para quem não está suficientemente treinado.

A interação corpo – mente teria que ser realizada dentro da formação médica. À vezes, parece chegar-se cuidadosamente através da neurologia, evitando-se habilidosamente o estigma. Na prática, os neurologistas manejam a psiquiatria, graças a Deus. Já os psiquiatras, guardiões do cérebro funcional, evitam entender de neurologia. Afinal não lidam com o concreto, mas com suas derivações.

Não será por essas e outras que o avanço financeiro da indústria de psicotrópicos dispara aceleradamente? Afinal, é da observação diária a prescrição de psicotrópicos por qualquer especialidade. Qual será a responsabilidade da psiquiatria como instituição perante a população?

Afinal, o doutor (Dr.) do médico é outorgado por unanimidade pela sociedade. A não ser que não seja.

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