Em 6 de agosto de 1945, a cidade japonesa de Hiroshima foi devastada por uma bomba atômica que, em poucos segundos, transformou a paisagem em um cenário de cinzas e silêncio mortal. A explosão, que matou instantaneamente dezenas de milhares de pessoas e deixou marcas físicas e psicológicas por gerações, tornou-se um marco sombrio na história da humanidade. Isso sem falar da devastação causada, na sequência, pela bomba da cidade japonesa de Nagasaki em 9 de agosto daquele mesmo ano.
O “sol artificial” que brilhou naqueles dias de agosto não apenas encerrou uma guerra, mas inaugurou a era atômica, impondo ao mundo uma lição dolorosa: o poder humano de destruir pode superar, em velocidade, intensidade e magnitude, a capacidade de reconstruir.
Oito décadas depois, os ecos dessa tragédia ressoam em um cenário internacional novamente marcado por tensões extremas. A guerra na Ucrânia, com ameaças veladas e explícitas sobre o uso de armamentos nucleares, reacendeu um medo que parecia adormecido desde o fim da Guerra Fria. Na Faixa de Gaza, a escalada de violência de grupos terroristas e as operações militares israelenses têm produzido um rastro de destruição que, embora não nuclear, lembra a lógica desumana de ataques que vitimam sobretudo civis, mulheres, crianças e idosos.
Paralelamente, o recente ciclo de bombardeios entre Israel e Irã elevou a temperatura geopolítica do Oriente Médio, alimentando especulações sobre um possível confronto de proporções inéditas, em que o uso de armas atômicas e novas tecnologias bélicas devastadoras, ainda que improvável, não pode ser totalmente descartado.
Hiroshima e Nagasaki ensinam que a guerra total não tem vencedores, apenas sobreviventes. Ensina também que a escalada de violência, quando guiada pelo ódio e pelo cálculo político de curto prazo, tende a perder de vista os limites morais e humanitários. Se em 1945 o uso da bomba foi justificado por seus autores como forma de “acelerar o fim do conflito”, hoje compreendemos que seu legado é mais um alerta do que um triunfo militar.
O que vemos na Ucrânia, em Gaza e nas hostilidades entre Israel e Irã é a persistência de uma lógica que ignora essa advertência. Líderes seguem apostando em demonstrações de força para negociar a partir da destruição, como se a diplomacia fosse um jogo que só começa quando as cidades já estão em ruínas. Mas a geohistória é clara, quanto mais se normaliza a retórica sobre o uso de armamentos nucleares ou se banaliza a devastação de civis, mais próximo se está de uma tragédia irreversível.
O desafio, portanto, é romper esse ciclo antes que a história se repita de forma ainda mais devastadora. As potências mundiais, as organizações multilaterais e as lideranças regionais precisam lembrar que Hiroshima não é apenas uma página nos livros de história, mas um espelho incômodo que reflete o que a humanidade é capaz de fazer contra si mesma.
Se as lições de 1945 forem ignoradas, o risco é que, em vez de sermos guardiões da memória, nos tornemos autores de um novo capítulo sombrio, um que talvez não nos dê tempo de escrever o final.
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