Mariana Reis é administradora de empresas e educadora física. É pós-graduada em Gestão Estratégica com Pessoas e em Prescrição do Exercício Físico para Saúde. Atua como consultora em acessibilidade e gestora na construção e efetivação das políticas públicas para a pessoa com deficiência em Vitória

Com quantas letras se desfaz um preconceito?

Precisamos dar mais espaço para os afetos, para o potencial humano de entender sobre a diversidade. Máquinas usam sistemas binários. Você e eu podemos muito mais que isso.

Publicado em 08/06/2021 às 02h00
Militantes pedem paz e amor durante parada gay
Podemos tanto que a sigla para abranger pessoas que não cabem em duas definições apenas – homem e mulher – é composta por letras que representam o quanto existe de belo e diverso em nossa espécie. Crédito: Divulgação

Somos capazes de gravar números de telefone, de memorizar os nomes das capitais do nosso país, de escalar a seleção de futebol que trouxe o título tão sonhado. Temos memória para lembrar das placas dos carros, para saber o que diferentes siglas representam. Então, você que me lê, sabe que aprender, se interessar, registrar uma informação, construir um conhecimento, pode ter muito com interesse, com vontade. Alguns teóricos da educação irão dizer: aprender tem a ver com afetos. Pois bem, chegamos onde eu queria. Precisamos dar mais espaço para os afetos, para o potencial humano de entender sobre a diversidade. Máquinas usam sistemas binários. Você e eu podemos muito mais que isso.

Podemos tanto que a sigla para abranger pessoas que não cabem em duas definições apenas – homem e mulher – é composta por letras que representam o quanto existe de belo e diverso em nossa espécie. Por isso, convido você, neste mês que está apenas começando, para ler as entrelinhas da sigla LGBTQIA+. Elegebetequia-mais. Simples assim. Sete letras, facilmente pronunciáveis e um sinal positivo, que significa adição. E se você se esforçar um pouco, vai lembrar que as equações matemáticas eram bem mais complexas.

Que venham os dias de glória

Ao ver uma apresentadora de TV se atrapalhando e repetindo letras aleatórias para se referir ao público que é representado pela sigla, não pude deixar de enxergar ali uma verdadeira falta de informação que reforça a perpetuação do preconceito e discriminação. Todos nós, incluindo lésbicas, gays, bissexuais, transexuais, queer, intersexuais, assexuais e demais identidades de gênero merecemos respeito. Respeito pela orientação sexual (ou seja, por quem cada pessoa se sente sexual e afetivamente atraída) e identidades de gênero (como a pessoa se identifica).

Ainda que o mês seja para reforçar o combate a homofobia e transfobia, não raro vemos falas revestidas por puro ódio e repulsa, e ao invés de avançarmos em direção a uma sociedade livre da discriminação. Nossa luta diária é para nos esquivar dos golpes de julgamentos nefastos que insistem em nos atingir. Menos batalhas e mais glórias, por favor.

Garantia de direitos, respeito às diferenças

Nas últimas eleições, tivemos nomes como o da vereadora Erika Hilton, primeira mulher negra e trans, como a mais votada para a Câmara Municipal de São Paulo. Ao mesmo tempo algumas mulheres trans que também foram eleitas, sofrem com perseguições e ameaças de morte. Isso nos mostra o quanto as necessidades desse público, que são tão específicas, exigem preparo para superar tantos desafios. Os investimentos na educação profissional, acadêmica e humana também parecem ainda invisíveis nas pautas governamentais.

A pandemia tem nos restringido de muitas coisas, principalmente os encontros. Mas pretendo que, através da coluna, possamos reagir com iniciativas que nos dê vozes mais altas para a produção de debates e políticas públicas para o público LGBTQIA+, e que, neste mês, que ressalta a lembrança da garantia de direitos e respeito às diferenças, tenhamos ânimo para não desistir. Por mais que tenhamos vontade de não ver e nem ouvir as notícias trágicas do nosso Brasil, precisamos estar atentos e fortes, como canta Caetano Veloso, para não perdemos a chance de lutar por uma sociedade que reconheça inalienavelmente a dignidade das pessoas.  

O preconceito mata e mata a nossa capacidade de amar

O extremo ódio e intolerância que presenciamos todos os dias contra a comunidade LGBTQIA+ demonstra o quanto as pessoas se acham juízes do mundo, sem humanidade, e equivocados a respeito da diversidade. Além disso, se houvesse punição para toda e qualquer violência, certamente a homofobia seria confrontada. Num Brasil como o que estamos vivendo hoje, desconhecemos o valor das necessidades do outro, e realçamos o desrespeito na sua intensidade.

A violência contra essa população produz desordens psicológicas e fisiológicas que interferem no bem-estar, e muito repercutem negativamente na interação social e na sua vida diária. Por isso, a produção de políticas públicas, sociais e de saúde, sobre o combate a tais problemas e garantia dos direitos humanos se fazem necessárias para enfrentarmos os golpes contra a moral.

Intolerância apenas com a discriminação - basta!

Graças à organização social das pessoas LGBTQIA+, o Brasil não deverá fechar os olhos para questões que envolvem a afetividade e o amor entre as pessoas. Ainda há um caminho longo a ser percorrido para se distanciar da intolerância, sabemos. Porém, as conquistas das últimas décadas fazem com que as pessoas LGBTQIA + se constituam cada vez mais como sujeitos de direito.

Reitero o convite, que para além da reflexão, possamos ampliar a visão, a mente, para essa e outras situações que revelam ser imprescindíveis novos esforços, de todos os lados, para que o conceito de “todos iguais perante a lei” se multiplique e se fortaleça diante da ignorância e das trágicas atitudes de preconceitos, da falta de informação, de profissionalismo e principalmente, falta de dignidade.

Este texto não traduz, necessariamente, a opinião de A Gazeta.

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