É artista e escritora, e como observadora do cotidiano, usa toda sua essência criativa na busca de entender a si mesma e o outro. É usuária das medicinas da palavra, da música, das cores e da dança

Da perfeita solidão

O amor é mesmo o maior, o mais plumoso, o mais importante de todos, ele então precisa estar sempre acompanhado, escoltado por uma dupla imprescindível: a inteligência e a vontade.

Publicado em 25/04/2021 às 02h00
Mulher livre
Amar a si próprio é das principais providências para que o elo com o outro seja sadio, seja potente e mantenha o equilíbrio. Crédito: Freepik

“A grande, a perfeita solidão exige uma companhia ideal”, Nelson Rodrigues

Você sabe, o amor é um dos acontecimentos mais maravilhosos possíveis.

Mas, isso não significa que ele não seja complexo... Ao contrário, dependendo da configuração, ele também pode envolver inúmeros tipos de frustrações.

Fazer o quê?

Nos relacionamos para nos tornarmos maiores, para amplificarmos a existência, para experimentarmos a sensação de unidade. E fazendo isso desde que nascemos, logo aprendemos que a criação dos laços, ou o cultivo da gosma que nos mantém unidos, dependem das emoções.

E como das emoções, o amor é mesmo o maior, o mais plumoso, o mais importante de todos, ele então precisa estar sempre acompanhado, escoltado por uma dupla imprescindível: a inteligência e a vontade.

Porque sem isso, sem este cuidado, que também podemos chamar de aprendizagem, o amor pelo outro bem pode tornar-se perigoso.

Ou seja, no lado sombrio do amor, que se dá quando ele se perde da inteligência ou da vontade, podem surgir sentimentos de vibrações muito baixas, como a insegurança, o ciúme, a posse, a carência... E quando isso acontece, a energia vital que nos sustenta, vai ladeira abaixo.

Ou você não conhece alguém que tenha caído em depressão por conta de um amor mal sucedido?

E se isso acontece é porque na ausência da “vontade” estagnamos, perdemos o poder de ação. E na falta da “inteligência”, ilusionamos, caímos na fantasia, no medo, na distorção da realidade.

Portanto, não por outra razão, amar a si próprio é das principais providências para que o elo com o outro seja sadio, seja potente e mantenha o equilíbrio.

Na falta do amor-próprio o outro se transforma num encarregado, num condenado a suprimir essa falta. Bem, aí é batata! Nesse caso o enlace vira nó cego, e o abraço, o do afogado: aquele que leva todos ao fundo do poço.

De modo que ter uma vida interior rica e sadia é única forma de fazer elos sadios com os outros.

Atente, vida interior rica significa cultivar motivações íntimas que nos guiem para um horizonte de realizações materiais e espirituais. Buscando a constante nutrição de um sentido, de um propósito ou de um caminho evolutivo.

Ou em português claro, o que estou dizendo é que para se relacionar com o outro, é preciso primeiro se relacionar consigo. Ponto.

Criar e sustentar o amor-próprio. Amar e suportar a solidão – essa, existencial; essa que não tem a ver com sofrimento, mas sim com a consciência de que chegamos e partiremos sós deste mundo; essa que no fim das contas é o que nos define; essa que diz do nosso caminho espiritual, que é sempre individual, ainda que tenhamos irmãos gêmeos; essa em que somos nós, nossas bênçãos, nossos carmas e nossos botões.

Enfim, como bem disse Nelson Rodrigues, essa grande, perfeita solidão, precisa, deseja, procura, anseia por uma companhia ideal.

E assim voltamos ao ponto inicial: como podemos nos relacionar, sem ter amor de sobra? Amor com escolta, amor como escola, amor como propósito, amor como revolução?

Então cultivar a vida é cultivar a força da vontade para realizar, cultivar a inteligência para aprender e transformar, cultivar todas as formas possíveis de se nutrir de dentro pra fora.

Finalmente, o outro pode caminhar ao meu lado; o outro pode ser um companheiro, marido, parceiro, esposa, namorado; pode ser um elo que nos deixa mais felizes, mais fortes. Mas para isso há uma premissa irrevogável: sermos todos inteiros.

Este texto não traduz, necessariamente, a opinião de A Gazeta

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