É artista e escritora, e como observadora do cotidiano, usa toda sua essência criativa na busca de entender a si mesma e o outro. É usuária das medicinas da palavra, da música, das cores e da dança

Crônica: Tapa na cara

A cena colocou o mundo inteiro para pensar que o amor maior é o auto respeito. E esse, ah! Esse vem de dentro, nunca do crivo alheio

Publicado em 03/04/2022 às 02h00
Will Smith agride Chris Rock na cerimônia do Oscar
Will Smith deu um tapa em Chris Rock na cerimônia do Oscar . Crédito: Reuters/Folhapress

Tanto Will Smith quanto Chris Rock bateram e apanharam, um do outro – e de si mesmos, na noite da cerimônia do último Oscar.

De um lado o comediante que esperava o riso às custas da dor alheia, do outro o homem de família que se indignou para manter a dignidade.

Ambos, sujeitos que acreditaram naquilo que pensavam…

Perceba, às vezes “acreditar piamente naquilo que se pensa”, é tornar-se escravo dos processos involuntários da mente. Bem como de seus julgamentos, suas críticas, suas limitações, seus medos… Porque, você sabe, a mente não para! Ela julga o presente com olhos do passado o tempo inteiro.

Ela tortura, ataca e pune. A mente apronta: dá comandos, senta a mão, faz o diabo! E é por isso que livrar-se dela é a única possibilidade de nos libertarmos.

Inteligentes que são, um queria o riso da plateia; o outro, respeito, admiração.

Ambos presos nas teias do crivo alheio.

Porque a estrutura do ego é assim mesmo: busca o amor do lado de fora. Deseja um amor que acolha, sustente, conforte. Mas enquanto busca amparo do lado de fora, o ego nos deixa esquecer que somos feitos de pura energia amorosa. Amorosa e universal! Força motriz que a tudo move.

Ora! O ego, a vaidade, a mente, a lógica, como queira, duvida que esse amor sem condições, esse que desejamos a vida inteira, na verdade mora na gente mesmo.

E esquece que só quando o encontramos de fato, é que tudo, tudo, vai virar amor ao nosso redor.

Naquela noite, Will Smith e Chris Rock esqueceram… Olharam pra fora, obedeceram ao ego e fizeram feio. Pobres celebridades, ainda devem estar sem dormir direito…

Mas não sem efeito! A cena colocou o mundo inteiro para pensar que o amor maior é o auto respeito. E esse, ah! Esse vem de dentro, nunca do crivo alheio.

Finalmente, em essência Chris Rock não é um homem mau; assim como, em essência, Will Smith também não é um “bad-boy”. Essa uma questão para reflexão, e não para julgamento. Afinal, não somos só bons, nem só maus: somos a consciência superior em forma de gente (não é fácil mesmo).

Assim seguimos nessa aventura humana buscando espaço para a manifestação da nossa porção mais brilhante!

Mas não tem jeito, fazemos isso enquanto lidamos com um complexo instrumento chamado “Ego”… Que em nome da proteção, sobrevivência, apego ou medo, pode agir como um escorpião, e no fim das contas, envenenar a si mesmo. Matar e morre ao mesmo tempo, no meio do picadeiro.

Este texto não traduz, necessariamente, a opinião de A Gazeta.

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