É artista e escritora, e como observadora do cotidiano, usa toda sua essência criativa na busca de entender a si mesma e o outro. É usuária das medicinas da palavra, da música, das cores e da dança

Bruxa contemporânea

Ela pratica o que fala e vive em nome da busca da própria verdade. Ela se propõe a investigar desde a raiz as causas do seu próprio desconforto, do seu próprio sofrimento

Publicado em 31/10/2020 às 06h00
Mulher selvagem, sagrado feminino
Nós bruxas somos sobretudo empáticas. Nos identificamos como o outro, especialmente com aqueles que nos refletem por dentro. Crédito: Shutterstock

Você sabe, nossa construção histórica diz: mulher é assim, assim. Se não, é assada.

Acontece que nós já nascemos oceânicas, e portanto sedentas por avançar a linha, por saber mais, por ir além e nos autoconhecermos sem medidas.

Curiosas, desde Eva, viemos para descobrir e expandir os sentidos, sobretudo o sentido da vida. Por isso somos assim, tão intensas... É que para nós, todas as relações, seja com o outro, seja como aquilo que nos alimenta, precisa estar encharcada de energia, de força, de sentido e significado.

Maria Sanz

Cronista

"É que para nós, todas as relações, seja com o outro, seja como aquilo que nos alimenta, precisa estar encharcada de energia, de força, de sentido e significado"

Nós bruxas somos sobretudo empáticas. Nos identificamos como o outro, especialmente com aqueles que nos refletem por dentro e acendem a confiança, cumplicidade, alegria, leveza, amizade, aconchego, paixão e a transgressão...

Como não?

Ora, não há dúvida: somos a materialização de um conflito.

Quero onde não quero. Sou onde não sou. Sou duas partes...

Sempre partidos.

Exatamente por isso a espécie humana se tornou perita em culpar o outro por essa partição. Dualidade como condição: séculos de fogueira para os que não se enquadram e para os que desafiam as classificações pré-estabelecidas. Aliás, fogueira, culpa, dogmas e outros estratagemas institucionalizados que nos domesticaram.

Inclusive a própria ideia do que seja “o feminino” passa por isso.

Acontece que na busca e sustento da própria singularidade, aos poucos nos fortalecemos. Reconhecemos nossa potência nosso elo vital com a natureza sagrada, e estruturamos nossos traços e habilidades para negociação e amorosidade, entre poções e feitiços mágicos (brincadeira. Só que é verdade).

Aprendemos que a predominância do mais forte sobre o mais fraco é a matemática do sofrimento exato.

A começar em nós mesmas, porque toda bruxa sabe que precisa fazer as pazes com as próprias sombras. Do contrário dá tudo errado. Ou seja, sem integrar o carrasco interno e seguir negociando com ele dia pós dia, o desconforto persiste.

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De modo que toda bruxa contemporânea é coerente consigo mesma. Ela pratica o que fala e vive em nome da busca da própria verdade. Ela se propõe a investigar desde a raiz as causas do seu próprio desconforto, do seu próprio sofrimento.

Ela se pergunta qual seu grau de atividade dentro de uma relação em que ela sofre? Qual sintoma dela está em jogo? E, apesar de ser vítima, o que ela tem a ver com aquilo que acontece a ela? Como o inconsciente dela faz dela uma presa?

Eis a questão: enquanto sujeitos, homens e mulheres, “nos sujeitamos” todos às marcações simbólicas da nossa trajetória –– mesmo quando não sabemos disso. Por isso o acesso aos próprios sintomas, que uma vez descobertos e analisados se amenizam, libertam o sujeito da sua condição de algoz ou de vítima. Mas essa é uma escolha, uma busca, um tratamento, um caminho a ser percorrido. Mas tem gente que jura que isso é bruxaria... Vai vendo.

Portanto, como via de regra não é simples curar-se de si mesmo, então o sistema em que operamos segue oprimindo pela via do mais forte sobre o mais fraco, o que é absurdamente injusto com as mulheres. E precisa ser transformado!

(Por quem mesmo?)

Bruxas e bruxos contemporâneos, pessoas interessadas na ampliação, na abundância, na liberdade, e no bem como força soberana. Eu acho.

– Certo?

Então não tem mistério!

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