É artista e escritora, e como observadora do cotidiano, usa toda sua essência criativa na busca de entender a si mesma e o outro. É usuária das medicinas da palavra, da música, das cores e da dança

Do poder da sutileza

Sutil é a natureza do amor. Concluo por mim. Mas não o amor cauteloso, aquele medido estrategicamente em doses, racionado por medo de que se acabe. Falo do amor que é uma “qualidade”, um estado de espírito devoto à própria vida. Percebe?

Publicado em 12/09/2020 às 09h00
Atualizado em 12/09/2020 às 09h00
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E quanta magia não acontece quando acessamos este estado amoroso, simplesmente?. Crédito: Shutterstock

Aurélio, o dicionário, diz que sutil é aquele muito astuto ao agir...

Aquele que se movimenta silenciosamente, que insinua e desperta curiosidade, mas sem alarde.

Que sutil é aquele de grande talento, dotado de humor inteligente... Perspicaz.

Que o sutil é feito com arte –– e é, por isso, capaz de se infiltrar em todas as partes.

Sutil é a natureza do amor. Concluo por mim.

Mas não o amor cauteloso, aquele medido estrategicamente em doses, racionado por medo de que se acabe. Falo do amor que é uma “qualidade”, um estado de espírito devoto à própria vida. Percebe? O amor condicionado a quaisquer circunstâncias é, na verdade, uma transação, uma conveniência, um projeto, um arranjo, um bem bolado...

Porque o amor, atente, não costuma ser conveniente. Ao contrário. Ele toma a vida e determina: você tem que entregar a si mesmo.

Nota, existe um Sadhana do Sadhguru que diz assim: “o amor nunca acontece entre duas pessoas. O amor acontece dentro de você, e sua interioridade não precisa ser escravizada por alguém ou por alguma outra coisa. Tente por quinze minutos ou mais: vá se sentar com algo que não signifique nada pra você agora –– talvez uma árvore, uma pedra, um verme ou um inseto. Faça isso por alguns dias seguidos. Depois de algum tempo, descobrirá que pode enxergá-lo com tanto amor quanto sua esposa ou seu marido, mãe ou filho. Talvez o verme não saiba disso. Não importa. Se puder olhar para tudo com amor, o mundo interior se tornará belo em sua experiência.”

Voltando, a sutileza da natureza do amor que falo vem dessa devoção à inteligência da vida. Uma aceitação completa, que se transforma na experiência mais doce possível. Um estado contemplativo e vivaz ao mesmo tempo. Desperto, mas não conclusivo. E perceptivo só que sem objetivos.

E quanta magia não acontece quando acessamos este estado amoroso, simplesmente?

*Eu mesma, ontem, sem querer, soprei um beijo de bom dia para o Bacana, um moço querido que lava os carros de todo nosso bairro (e ele naturalmente entendeu nada); mandei uma mensagem de agradecimento para meu ex-marido; passei meia hora observando o farfalhar das folhas de uma árvore; levei uma hora preparando um sanduíche de pastrami; tomei um banho da lama do fundo de um rio; bebi Campari; escrevi um poema; fiquei cheirando meu filho enquanto ele dormia; passei de mãos dadas e de pés descalços por uma trilha igualzinha a que visitei num antigo sonho indígena; vi um reflexo nítido na sutileza de alguém com coragem de ir além... Vi o azul não muito escuro na camisa. Suspirei longamente. Ainda suspiro.

Maria Sanz

cronista e artista

"Porque o dom da vida é intuitivo. Não pensa, sente. Não procura, acha. Não quer, ganha. Sem pressa, sem pausa. Num movimento silencioso, que insinua e desperta. Mas não faz alarde. E, sobretudo, é sutil como arte – e não por outra, está e resplandece por tudo quanto é parte."

Por isso, pratica. Aceita. Entrega. Tece. Amor-tece: coloca o pé, sutilmente.

Que o Universo põe o chão, comparece.

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