No próximo domingo os papais do Brasil são celebrados.
A data, no nosso país, tem origem no ano de 1953 e surgiu através de uma campanha publicitária do jornal O Globo, visando atrair anúncios de produtos que poderiam ser dados de presente para os pais. O 16 de agosto foi escolhido por dois motivos: ser um domingo, dia propício para comemorações e encontros, assim como já acontecia no Dia das Mães; e ser dia de São Joaquim, na tradição católica, pai de Maria.
O dia de São Joaquim foi transferido para julho, mas a tradição de comemorar um dos responsáveis pela dádiva da vida permaneceu no segundo domingo de agosto, data conveniente para preencher o vazio de vendas entre o Dia das Mães e o Natal.
E é movido pelos ares paternos que norteio nossa prosa de hoje.
Aposto que, para aqueles que conhecem um pouco da história capixaba, quando se fala do cruzamento entre a história, pai e filho, de cara vêm à mente Vasco Fernandes Coutinho e seu filho de mesmo nome, que foram os primeiros comandantes da colonização portuguesa em nossas terras.
Condizente seria, mas vou por outro caminho. Escolhi uma dupla que não é capixaba de nascença, mas, em suas trajetórias históricas — que não foram miúdas —, muitas linhas foram escritas nos limites espírito-santenses. Falo de Maracajaguaçu e Arariboia! Pai e filho temiminós que, com seus feitos de liderança e bravura, fincaram nomes não só na história do Espírito Santo mas também na do Brasil.
Para entender a história dos líderes dos maracajás — como eram chamados os indivíduos de seu grupo — é preciso dar um pulo em terras cariocas. Por lá, o território que hoje é conhecido como a cidade do Rio de Janeiro foi, desde antes da colonização, um terreno de disputa entre os tamoios e temiminós, dois grupos indígenas.
Do lado temiminó, um líder se destacava pela bravura, espírito guerreiro e capacidade de liderança. Maracajaguaçu, “gato grande” na língua de seu povo, detinha um imenso respeito entre os seus iguais, fazendo com que seu nome ecoasse pelos quatro cantos da Guanabara indígena.
Muitas das suas potencialidades se reverberaram em sua cria. Arariboia — “cobra feroz”, em tradução para o português — cresceu vendo as vitórias militares de seu pai e colhendo experiências que resultaram em um segundo líder guerreiro para os maracajás.
A CHEGADA DOS EUROPEUS
Voltando ao embate com os tamoios, tudo ficou ainda mais acirrado com a chegada dos europeus. Inicialmente, os portugueses usaram os conflitos entre os nativos como ferramenta de manutenção das suas ações de escravismo e exploração de recursos naturais, aliando-se àqueles que lhes fornecessem vantagens em determinada ocasião.
Quando os franceses começaram a rondar e invadir o terreno, lá pelos anos de 1550, a coisa mudou de figura. Formaram-se as alianças luso-temiminós e franco-tamoios. De um lado, portugueses e temiminós; do outro, franceses e tamoios. Colonizadores e colonizados unidos para combaterem inimigos seculares.
Foram anos de embates até que, em 1555, a coisa ficou feia para os temiminós. Encurralados em um pequeno espaço de seu território, não tiveram outra saída a não ser bater em retirada da Baía de Guanabara. Pediram ajuda a Vasco Fernandes Coutinho, autoridade máxima da Capitania do Espírito Santo. Vasco ordenou o resgate dos indígenas aliados e, uma vez em terras capixabas e com o apoio do padre jesuíta Brás Lourenço, Maracajaguaçu e seu povo fundaram, em 1556, o aldeamento de Nossa Senhora da Conceição, que futuramente viria a se tornar a cidade da Serra.
Por aqui, os temiminós estabeleceram uma relação de amor e ódio com os colonizadores, variando entre conflitos, conversão ao catolicismo e auxílio na defesa da terra capixaba contra invasores. Sua estadia, é possível dizer, contribuiu na construção de uma identidade capixaba no que tange o pilar indígena.
Não à toa que, além do aldeamento que originaria uma das cidades mais importantes do Espírito Santo, Arariboia liderou, em 1562, a fundação de um outro aldeamento, esse mais próximo de Vitória, chamado de São João e que posteriormente receberia o nome de Carapina.
Anos mais tarde, em 1565, desta vez liderados por Arariboia, os temiminós regressaram à Baía de Guanabara, reforçando a expedição de Estácio de Sá, que tinha como objetivo tomar a região dos franceses que, naquela altura, já tinham fundado a França Antártica, uma colônia francesa no Brasil, sob a autoridade Nicolas Durand de Villegagnon.
Retomado o território, alcançado o objetivo e fundada a cidade do Rio de Janeiro, Arariboia recebeu de Estácio de Sá terras do outro lado das águas cariocas, ponto estratégico para a segurança da cidade. Nasceu assim a Vila de São Lourenço, que futuramente seria a cidade de Niterói.
A historiografia crava que Maracajaguaçu faleceu aqui mesmo, na Serra.
Não há registros de retorno de Arariboia, padecendo em terras fluminenses.
Os dois, pai e filho, flecharam seus nomes nas páginas de nossa história e elas, que são acostumadas com outro tipo de heróis, exibirão eternamente os feitos dos guerreiros líderes dos maracajás.
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