É economista e cronista. Neste espaço, aos sábados, dedica-se a crônicas que dialogam com a memória recente do Espírito Santo, da cultura à política, sem deixar de alfinetar os acontecimentos da atualidade locais e nacionais

Nossos pais deram mole: não nos ensinaram a lavar as mãos!

A escola ensina a construir edifícios. Mas foi sua mãe que lhe ensinou a fazer castelos de areia. Aposto. E nos fins de semana foi seu pai quem o levou à banca de jornais para iniciar você na leitura prazerosa

Publicado em 25/04/2020 às 12h00
Atualizado em 25/04/2020 às 12h00
Não nos ensinaram a lavar as mãos!
Não nos ensinaram a lavar as mãos!. Crédito: Amarildo

Com muito tempo sobrando pra conversar, ler, assistir e inventar moda, passei a prestar atenção numa prática muito comum do jornalismo atual. Nos jornais, nas rádios e na televisão, volta e meia, somos chamados para matérias especiais, sobre assunto de real interesse de todos. Mas o que chama a atenção é a retranca dessas chamadas: “Reportagem completa”. Então fiquei a imaginar como seria uma reportagem incompleta. Pelo menos anunciada como tal.

Queimei a mufa – como se falava – buscando um exemplo dessa possibilidade. Talvez uma matéria que relatasse o mundo de ensinamentos que recebemos de nossos pais nunca fosse completa.Vejamos. Desde o saudável arroto, um providencial alívio para os gases depois da mamada, até a maneira certa de escanhoar a barba, na adolescência,aprendemos com eles.

Na escola nos ensinaram para que serve a tabela periódica (pra que serve mesmo?). Mas foi um pai que ensinou aos filhos como soltar uma pipa. Foram as mães que ensinaram as filhinhas a treinar com bonecas os futuros banhos de suas possíveis netas. Na escola nos contaram tudo sobre a vida de Tiradentes. Da qual lembramos mais ou menos. Mas foi em casa que nos tornamos íntimos de Chapeuzinho Vermelho. E de suas aventuras nunca mais nos esquecemos.

Andar de bicicleta, pular corda, fazer um estilingue, ganhar figurinhas no bafo. Amassar um bolo de farinha pra pescar piaba; meter a mão na loca, no barranco do rio, pra pegar cascudo, se você é do interior. Pescar siri no jereré e catar budigão na areia da praia, se é do litoral. São heranças eternas de pais para filhos. Foram as mães que ensinaram às filhas a fazer tranças, a juntar graça e conhecimento e serem obstinadas na conquista de seus ideais.

Foram os pais que ensinaram boas maneiras aos filhos. A cumprimentar as pessoas, a reverenciar os avós, os tios e os amigos da família. Foram as mães que abriram para os filhos as cortinas do palco de todas as história infantis que conhecemos: a Gata Borralheira, João e Maria ,Os Três Porquinhos.... e mais uma ou duas que todas acabavam inventando para ver se você dormia mais depressa.

A escola ensina a construir edifícios. Mas foi sua mãe que lhe ensinou a fazer castelos de areia. Aposto. E nos fins de semana foi seu pai quem o levou à banca de jornais para iniciar você na leitura prazerosa.

Quem lhe ensinou a andar de bicicleta? Seu pai, claro. E quem levou você aos primeiros bailes infantis de carnaval? Sua mãe, claro.

Os pais são na verdade os maiores e mais competentes mestres do universo. Plenos de conhecimento, rigorosos, excessivamente duros às vezes, mas cheios de amor até não caber mais. Com eles aprendemos tudo de mais importante desta vida.

Tudo, tudo mesmo. Tudo mesmo? Mais ou menos. Um vacilo imperdoável deles deixou a reportagem incompleta. Não é que só agora aprendemos, na televisão, como lavar corretamente as mãos? Dá pra acreditar? Ninguém é perfeito.

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