É professor do mestrado em Segurança Pública da UVV. Faz análises sobre a violência urbana e a criminalidade, explicando as causas e apontando caminhos para uma sociedade mais pacífica. Escreve aos domingos

A geração Z está acabando com o crime organizado no Japão

Para a juventude japonesa, os Yakuza são uns dinossauros que sobraram do período medieval. Com o pouco ingresso de jovens, as organizações estão envelhecendo e ficando cada vez mais com cara de “coisa de velho”, mesmo

Publicado em 25/05/2025 às 03h30

Os Yakuza, no Japão, formam organizações muito diferentes das que conhecemos. Eles sempre tiveram uma grande parte de suas atividades perfeitamente legítimas e muitos de seus integrantes são ostensivos. Na verdade, eles publicam revistas oficiais e quadrinhos. E procuram não incomodar os “cidadãos de bem”, concentrando suas atividades ilícitas nos chamados “crimes sem vítima”: ganham dinheiro com tráfico, prostituição e jogo ilegal, principalmente, algum contrabando etc.

A sociedade japonesa aprendeu a conviver com eles e até a polícia. É claro que eles têm armamento, mas não costumam levá-lo para passear: as desavenças geralmente são resolvidas apenas com socos. Não é à toa que o Japão tem uma das menores taxas de homicídios do mundo, perto de zero.

Claro que tem o outro lado. São organizações altamente tradicionalistas e radicalmente hierarquizadas, mas é mentira aquela história de que eles cortam uma falange do seu dedo se você cometer algum erro: é o próprio vacilão quem deve fazer isso e entregá-la ao chefe embrulhada num lenço.

Ultimamente, a cumplicidade do governo e da sociedade vem diminuindo e, por isso, foram criadas leis que realmente infernizam os Yakuza. Traduzindo para a realidade brasileira, é como se eles não tivessem CPF: não podem ter conta em banco, nem adquirir imóveis ou carros.

Isso obviamente cria muitos embaraços, mas sempre terá o jeitinho japonês, o “laranja” para movimentar seu patrimônio etc. No entanto, as organizações do tipo Yakuza estão em franca decadência, nem tanto por conta dessas medidas oficiais e muito mais por causa da geração Z.

Os jovens japoneses simplesmente não estão interessados em trabalhar duro e obedecer cegamente a seus chefes. Eles querem morar com os pais e se vestir como crianças ou se fantasiar de personagens dos mangás: nem em pensamento admitiriam fazer aquelas extremamente dolorosas tatuagens em todo o corpo para mostrar masculinidade, valentia e indiferença à dor. Querem começar por cima, não por baixo, trabalhar pouco, ganhar muito e a maioria está tentando fazer carreira como influenciador digital e outras “profissões” do tipo.

Para a juventude japonesa, os Yakuza são uns dinossauros que sobraram do período medieval. Com o pouco ingresso de jovens, as organizações estão envelhecendo e ficando cada vez mais com cara de “coisa de velho”, mesmo.

Japão
Jovens no Japão. Crédito: Pixabay

Em resumo, os Yakuza estão em franca decadência, embora, é claro, vá levar décadas para que realmente acabem, mas esse parece ser um caminho sem volta. Isso sem que o governo tenha feito grande coisa contra eles, como tampouco os jovens, que não lutam contra o crime organizado, apenas não renovam suas linhas de frente e os deixam sem a mão de obra na base da hierarquia.

Detalhe importante: não podemos afirmar que isso será o fim do crime organizado no Japão. É bem possível que a geração Z descubra a sua própria forma de banditismo, dessas onde você só trabalha 3 dias por semana e tem direito a sala de jogos. Se nem isso acontecer, simplesmente o convidativo espaço será ocupado por organizações estrangeiras, talvez em união com os Yakuza remanescentes ou algo assim. Não existe vácuo no tráfico; corrupção, jogo e prostituição não ficam com vagas abertas. Ainda assim, é algo muito interessante a ser estudado para ver o que podemos fazer para o Brasil.

Este texto não traduz, necessariamente, a opinião de A Gazeta.

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