Pós-doutora em Saúde Coletiva (UFRJ), doutora em Bioética (UnB), mestre em Direito (FDV) e coordenadora do doutorado em Direito da FDV

Covid-19 é um teste à ciência, à resiliência e à nossa humildade

Quanto tempo ficaremos imunizados? Viveremos de onda em onda? De mutação em mutação? Voltaremos à vida normal? Só temos uma certeza: a de que a doença nos é completamente desconhecida

Publicado em 22/12/2020 às 05h00
Alguns países já iniciaram a vacinação contra a Covid-19
Alguns países já iniciaram a vacinação contra a Covid-19. Crédito: Freepik

Quando esperávamos encerrar um dos anos mais difíceis de nossas vidas com alguns lampejos de esperança, possíveis somente agora em razão da aprovação de algumas vacinas que começam a ser aprovadas e já aplicadas em alguns países, vemos ampliarem-se os sentimentos de desalento e impotência diante das notícias de que uma mutação no vírus causador da Covid-19 já começa a infectar pessoas em várias partes do mundo, com potencial de contágio em torno de 70% superior ao atual.

A triste notícia chega em meio a um crescimento assustador do número de casos e mortes, considerado por alguns como segunda onda, quando muitos já começavam a sentir-se retornando ao status quo anterior, reestabelecendo o modo de vida que levavam antes de março de 2020, especialmente no Brasil, no qual nossos lideres, formadores de opinião por excelência, em razão dos cargos que ocupam, optaram por ignorar ou negar a gravidade da crise e do potencial lesivo e mortal do coronavírus.

A morte se aproxima cada vez mais de nossas casas e de nossos amados, enquanto muitos continuam a cirandar por bares, praias, lojas, festas clandestinas, igrejas e tantos outros lugares, vivendo em um mundo de fantasia no qual os corpos que transitam parecem sentir-se imortais ou sem qualquer compromisso com suas próprias vidas e saúde, bem como com a de seus contemporâneos.

A banalização da morte e o desprezo pelas orientações originadas daqueles que dedicam suas vidas a compreender o fenômeno da pandemia, tanto em seus aspectos sociais, políticos, econômicos, de saúde , entre outros, nos levam a questionar como se comportarão agora essas pessoas, que têm tratado com descaso esse já tão agressivo e incontrolável vírus que se espalha por todos os lugares em uma capilaridade nem sempre tão democrática quanto se anuncia em uma tentativa de ignorar a desigualdade social na qual estamos envolvidos de forma injusta e sem a sensibilidade necessária para o enfrentamento de momentos como esse.

A notícia da mutação do vírus era tudo que não precisávamos nesse final de ano tão trágico. Além de todas as incertezas que já nos povoavam os pensamentos já tão confusos em razão de informações dispares que nos chegam em um emaranhado de notícias verdadeiras, misturadas com fake news, estamos agora a nos encontrar com outros questionamentos, angústias e incertezas.

A vacina que ainda não tomamos, mas que já esperamos como uma dádiva da ciência, vai nos imunizar dessa mutação? Quanto tempo ficaremos imunizados? Ela chegará até nós? Já chegou? Viveremos de onda em onda? De mutação em mutação? Voltaremos à vida normal? Haverá uma vida normal?

Uma certeza apenas temos: a de que a doença nos é completamente desconhecida. Não sabemos nada acerca de seu potencial de letalidade, de potencial de contágio, das consequências da doença no nosso corpo, dos impactos sociais, econômicos e de saúde psíquica que ela nos causará.

Talvez seja hora de nos recolhermos na nossa insignificância humana, impotência diante da grandeza do problema, guardando energia, afeto e solidariedade para a luta que se anuncia maior do que pensávamos.

A hora é de humildade, desenvolvimento de uma cultura de solidariedade, grandeza ética e compartilhamento da nossa condição de fragilidade humana que precisa nos fazer sentir iguais a todos os homens e mulheres com os quais compartilhamos a vida e a história.

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