Que privilégio para o país ter tido um brasileiro como Sebastião Salgado, e que privilégio para o Espírito Santo ter tido esse mineiro capixaba como um dos seus filhos.
Nascido em Aimorés, na divisa do ES, manteve ao longo da vida uma profunda conexão com o Estado, onde estudou Economia e conheceu Lélia, a sua “Lelinha”. Mesmo tendo morado mais de 50 anos em Paris, possuía até há pouco tempo uma acolhedora casa na Ilha do Boi.
Tião sempre foi orientado por propósitos. Exímio na arte da fotografia, não fez dela um fim, mas um meio para alcançar seu propósito de contribuir para um mundo mais justo e equilibrado.
Na década de 70, trabalhando como economista em Londres, abandonou a carreira e passou a dedicar-se exclusivamente à fotografia, após ganhar uma câmera de Lélia, que despertou nele a vocação adormecida.
Trabalhou para algumas das principais agências fotográficas internacionais, até fundar com Lelia a Amazonas Images, que também tornou os 2 parceiros profissionais, ele fotografando e ela organizando a edição de livros e a curadoria das exposições mundo afora.
Primeiro foram os grandes êxodos e massacres provocados pela fome e por guerras como as da África, muitas vezes ignorados pela grande mídia internacional, e que capturaram o limite do sofrimento, como a troca de olhares desesperados entre um bebê faminto e sua mãe sem meios de alimentá-lo.
Também desta fase são as fotografias sobre trabalhadores, como os de Serra Pelada, que descreveu como um "formigueiro humano", onde cerca de 50 mil homens trabalhavam simultaneamente em condições extremas, numa cratera aberta e sufocante em que se entregavam ao limite do corpo, trabalhando até onde aguentavam, movidos pelo sonho do ouro e da riqueza, apesar das condições perigosas e extenuantes.
Muitas vezes deixou a câmera de lado para chorar. Apesar do seu engajamento, a sensibilidade de Tião fez com que a dor superasse o limite do suportável e o fizesse adoecer.
Conciliar os limites da sua sanidade com o propósito de contribuir para um mundo melhor demandou uma catarse de profundidade psicanalítica, que o fez trocar a denúncia das tragédias sociais pela exaltação da riqueza daquilo que se não fosse cuidado em tragédia se transformaria.
Este processo teve impulso com a ideia de Lelia de recuperar a vegetação da fazenda de gado do seu pai, fundando neste processo o Instituto Terra, que inicialmente restaurou a vegetação da fazenda, e atualmente trabalha para recuperar a vegetação na região do médio Rio Doce, nos estados de Minas e Espírito Santo.

Passou também a revelar, com suas fotos, a beleza daqueles ambientes que corriam o risco de serem destruídos. Com seu talento, Sebastião Salgado conseguiu que a Humanidade se emocionasse com a Amazônia e seus povos originários, mostrados em seu próprio habitat, procurando com isso revelar tesouros escondidos do olhar da maioria da sociedade.
"O Brasil é um dos poucos países do mundo onde se pode ver, ao mesmo tempo, o século atual e o século XI. Onde convivem populações urbanas contemporâneas e povos indígenas que vivem como há mais de mil anos. Preservar este tesouro é um privilégio, mas também uma grande responsabilidade”, alertou em entrevistas.
Essa forma de olhar fez de Sebastião Salgado um dos maiores brasileiros do seu tempo, mundialmente exaltado. Seu legado é imortal e permanecerá como um presente para a Humanidade, para lembrá-la dos horrores da violência e do valor do meio ambiente que lhe dá sustentação, mobilizando-a para a luta por um mundo melhor.
José Armando Campos, membro do Conselho do Instituto Terra, define Sebastião Salgado com profundidade: “um homem que transcendeu a arte para tocar a alma do planeta”.
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