Quem não conhece o ditado “de músico, poeta e louco, todos nós temos um pouco”? Pois isso está mais que provado. Basta ver o mar de poemas que bate nas praias literárias de agora. Muita resposta já foi dada para esse fenômeno: talvez porque publicar ficou muito mais fácil com as tecnologias; talvez porque seja uma forma de chamar atenção para si; talvez porque sirva para tirar proveito da mania identitária que assola o país etc. Eu cá, não sei nem quero explicar.
O que posso dizer é que todo mundo tem direito a cometer seus versos. Mas, na multidão de poetas de agora, pouco vão além disso. A maioria acredita piamente na inspiração; uns poucos acreditam na transpiração. Para muita gente, escrever um poema funciona como se as palavras e as ideias despencassem do céu, por obra e graça de alguma deidade divina.
Para uma minoria, mais comprometida com a profissão de escrever, quem cria um poema precisa fazer uso de procedimentos inventivos, empreender um trabalho de artesania, por vezes repetitivo e exaustivo. Mesmo assim por demais prazeroso. São poucos os que atuam desse último modo. “Seriam talvez uns dois em mil”, eu diria parodiando uma frase da extraordinária Wislawa Szymborska, ela mesma um ponto de luz na imensidão de “bardos menores”, que é como Nelson Archer define certas pessoas afoitas em produzir o que chamam de “poesia”.
Não é novidade que o senso comum costuma aplicar o termo “poesia” a um tipo de expressão textual em forma de versos. Nos domínios da poética, porém, cabem todos os modos de expressão, sejam literários, como romances, contos, poemas; sejam outros afazeres artísticos, como fotografias, pinturas, música e filmes. Daí se deduz que a palavra poesia é mais abrangente que a palavra poema. Os poetas que conhecem seu ofício entendem bem isso. Para eles, a poesia é uma forma de se situar diante do mundo.
Ler os poemas de alguém que escapa da geleia geral da supersafra de versejadores, atualmente invasores do quintal da Mãe Literatura, é um refresco aos olhos e um consolo à mente e ao coração. Aconteceu comigo. Um tropeço do acaso fez com que chegassem até mim os textos de um jovem escritor, ainda sem livro publicado. O nome dele é Lucas. Lucas Trevezzani. É estudante de Letras, na Ufes.
Os poemas de Lucas repartem-se entre a escolha das palavras e a cadência do ritmo, atam laços entre a realidade e a fantasia. São uma revelação evidente da consciência literária do ofício. Se não me enganam a probabilidade e a sensibilidade, encontrei um poeta.
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