"Você não acha que o ambiente é muito hostil ainda aí no Espírito Santo?” Foi com esta frase que o representante de um fundo de investimentos de São Paulo, que está querendo fazer negócios com o Estado, questionou uma liderança capixaba sobre alguns acontecimentos e comportamentos que estão ecoando, negativamente, Brasil afora.
A preocupação dos potenciais investidores veio principalmente de três episódios recentes protagonizados por parlamentares da Assembleia Legislativa do Espírito Santo. Cito aqui de forma breve cada um deles:
1) Em setembro, o deputado Capitão Assumção (PSL) ofereceu, na tribuna da Casa, R$ 10 mil para quem matasse um suspeito de assassinato. “[Tenho] R$ 10 mil aqui do meu bolso pra quem mandar matar esse vagabundo, isso não merece tá vivo não”, declarou.
2) Nesse mesmo mês, foi a vez do deputado Enivaldo dos Anjos (PSD) tentar comprar “uma solução”: “Eu gostaria de oferecer R$ 7 mil do meu bolso para quem resolver esse problema do pedágio. E o Capitão Assumção vai dar mais R$ 3 mil para quem der uma coça no presidente do consórcio por não cumprir a obrigação que é ou de acelerar a duplicação ou liberar o pedágio”, referindo-se à concessão da ECO101, que inclusive é tratada pelo político como “consórcio 171”.
3) E, agora no mês de outubro, o deputado Euclério Sampaio (sem partido) pediu, durante reunião extraordinária da CPI da Sonegação, a prisão preventiva do diretor-presidente da Fundação Renova, Roberto Silva Waack. Ele acusa o executivo de mentir e se negar a prestar informações.
Todas essas declarações estão sendo vistas como uma ameaça para a imagem do Espírito Santo. Fontes ouvidas pela coluna consideram que a linguagem, a postura e o tom de intimidação que vêm sendo adotados por alguns parlamentares em nada acrescentam ao ambiente institucional e de negócios do Estado. Pelo contrário, apenas afastam interessados em construir relações com o Espírito Santo.
“Estão tratando de temas importantes de forma agressiva e desordenada. Isso atrapalha e muito a ambiência local. Muitos grupos que querem investir aqui têm acompanhado mais de perto tudo o que acontece no Estado e o que estão vendo não é nada bom!”, avalia um importante nome da economia capixaba.
Fonte da coluna diz que, no caso específico do empresário que chamou o Estado de hostil, o que está em xeque são negócios na área portuária. “Ele é um dos interessados em entrar no leilão de desestatização da Codesa, ou seja, podemos afastar alguém que pode vir a representar melhorias para a nossa infraestrutura”, alerta.
A apreensão interna e externa é mais do que pertinente. Não trata-se de exagero dizer que parlamentares que deveriam contribuir para o desenvolvimento do Estado estejam jogando fora o capital institucional que foi construído com muito esforço ao longo dos últimos anos. Aliás, exagerada é a forma como alguns dos nossos representantes resolveram se posicionar.
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E aqui é preciso deixar bem claro que isso não significa passar a mão na cabeça de empresas que estejam atuando em dissonância aos anseios da sociedade. Cabe sim aos deputados atuar de forma vigilante, acompanhar, cobrar, apontar os erros, defender o cidadão. Mas o caminho deve ser respeitoso e pautado em ações legais.
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