Aquiles Reis é músico e vocalista do MPB4. Nascido em Niterói, em 1948, viu a música correr em suas veias em 1965, quando o grupo se profissionalizou. Há quinze anos Aquiles passou a escrever sobre música em jornais. Neste mesmo período, lançou o livro "O Gogó de Aquiles" (Editora A Girafa)

Rede Loucos por Aldir apresenta o esperado "Aldir Blanc Inédito"

Reavivando obras inéditas do Aldir, inúmeros parceiros formaram o repertório do disco

Publicado em 16/11/2021 às 15h14
O cantor Aldir Blanc posa para foto em seu escritório, no Rio de Janeiro, em 2005
O cantor Aldir Blanc posa para foto em seu escritório, no Rio de Janeiro, em 2005. Crédito: Alexandre Campbell/Folhapress

(Saudade quando aperta, o corpo dói. Dolorido, o esqueleto se contrai e chora)

Quando conheci Aldir, em 1970, ele trazia uma música nas mãos – parceria com Silvio Silva Jr. – e um convite na cabeça: convocar o MPB4 para defender a música “Amigo É Pra Essas Coisas”, no III Festival Universitário, realizado pela TV Tupi, em 1970.

Hoje sua viúva, Mary Lúcia de Sá Freire, reuniu manuscritos, letras e poesias inéditos e levou-os para a cantora e compositora Ana de Hollanda e para Sônia Lobo, da gravadora Biscoito Fino, que lançou o CD "Aldir Blanc Inédito". Estava criada a rede “Loucos por Aldir”.

A música brasileira se alvoroçou: e foi um tal de cutucar a memória em busca daquela letra antiga ou de uma poesia que ninguém nunca ouvira. Reavivando obras inéditas do Aldir, inúmeros parceiros formaram o repertório de Aldir Blanc Inédito.

Mestre Elifas Andreato idealizou uma capa branca, com o nome de Aldir Blanc no alto; abaixo, uma caneta da qual escorre tinta vermelha, sinônimo da saudade que comove os “Loucos por Aldir”.

Um grupo de ótimos arranjadores/instrumentistas revezou-se para tocar um repertório que, graças à memória afetiva dos participantes, foi reavivado.

João Bosco, uma das mais frutíferas parcerias com AB, gravou “Agora Eu Sou Diretoria” (dele e Aldir). A tampa abre sob o arranjo e o piano de Cristóvão Bastos. A ele ajuntaram-se Jorge Helder (baixo acústico), Pretinho da Serrinha (cavaquinho e percussão) e Vittor Santos (trombone).

“Baião da Muda” (Moyseis Marques, Nei Lopes e AB) é o subúrbio pintando na área. Moyseis Marques parece nascido com a missão de bem cantar Aldir Blanc. Contando com o acordeom de Bebê Kramer, o contrabaixo elétrico de Jorge Helder e a percussão de Pretinho da Serrinha, ali o samba renasceu.

Com arranjo e piano de Cristóvão Bastos, o contrabaixo elétrico de Jorge Helder e o cello brilhante de Jaques Morelembaum, vem “Voo Cego” (Leandro Braga e AB). É quando rola um novo encontro entre os imensos Chico e Aldir: acho que nem o Chico tem ideia do quanto o seu cantar é superlativo.

“Aqui, Daqui” (Joyce Moreno). Lembro-me da alegria da Joyce Moreno ao se ver somada ao repertório do álbum. E lá está ela cantando e tocando um violão de responsa. Cristóvão Bastos criou o arranjo e tocou piano, Jorge Helder, baixo acústico, e o grande Tutty Moreno, batera. Ofereceram um caminho pavimentado para que Joyce arrase - e arrasar é com ela mesmo.

Olha quem também está no CD: Maria Bethânia, Leila Pinheiro, Guinga, Dori Caymmi, Ana de Hollanda, Moacyr Luz, Clarisse Grova, Sueli Costa e Alexandre Nero. Meu Deus!

Unindo-se a craques como ele – escrevendo versos sem medir palavras e somando predicados –, Aldir Blanc veio à música popular brasileira.

PS. Aldir tem o desprendimento de um Wilson Batista; a naturalidade de um Noel Rosa; a amargura de um Nelson Cavaquinho; a brasilidade de um João Cabral de Melo Neto; a convicção política e a genialidade de um Chico Buarque.

Este texto não traduz, necessariamente, a opinião de A Gazeta.

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