Aquiles Reis é músico e vocalista do MPB4. Nascido em Niterói, em 1948, viu a música correr em suas veias em 1965, quando o grupo se profissionalizou. Há quinze anos Aquiles passou a escrever sobre música em jornais. Neste mesmo período, lançou o livro "O Gogó de Aquiles" (Editora A Girafa)

"A Vida é" sem spoiler

Colunista mostra suas impressões sobre o novo disco de Celso Viáfora

Publicado em 30/03/2021 às 15h29
Atualizado em 30/03/2021 às 15h29
O cantor e compositor Celso Viáfora
O cantor e compositor Celso Viáfora. Crédito: Divulgação/Site oficial

Ao titular o texto, empaquei. Uma dúvida aturdia a minha cabeça. Não era uma decisão fácil. Pensei e repensei que a escolha daquela palavra embutia uma grande responsabilidade, tanto para o alvo da exaltação (um compositor), quanto para o arqueiro do elogio (este vocalista). Sem dúvida, desistir é mais difícil do que ir.

Vamos a "A Vida É" (independente), de Celso Viáfora e com o apoio carinhoso de Anna e Mauricio Silveira e Flávia Risaliti. Um primeiro detalhe me chamou a atenção: o CD vem encartado num livreto de 91 páginas (!). Todas as informações que se possa imaginar, desde o porquê das letras, passando pelas partituras musicais e pela ficha técnica, estão esmiuçados faixa a faixa.

A capacidade criativa do compositor, diretor musical e arranjador do álbum vem de muito tempo, quando suas músicas e letras já revelavam belezas extraordinárias. Eu o conheço há décadas. Admiro-o desde então. Ainda assim, não deixo de me emocionar ao ouvi-lo cantar suas músicas – as de hoje e as de sempre.

"A Vida É" tem treze músicas desse cantor e violonista que ganharam novas belezas: o cara se aperfeiçoou e assim escreveu mais e melhores arranjos, com levadas várias e sons virtuosos.

Suas músicas expressam sua personalidade, um cronista com extensa variante cultural. Livros? Vários! Exemplo de fecundidade? O soberbo arranjo para as cordas em “A Vida É”, que titula o álbum.

E nos versos da sua “Acelerado”, raio-x do trampo dos motoboys: “Amontoa o frete no baú da bagageira, põe viseira, capacete e aí já é/ Monta na bicheira, bota a chave no contato e sai rasgando depois de quicar no pé (...)”.

Em “Cara ao Sol” (Rafael Altério e CV) rola improviso de guitarra (Webster Santos) e balanço de versos com termos amapaenses, que o cara tão bem conhece: “Me encara cara a cara já como um carajá me escancararia (...)”. Notas agudas o fazem soltar a voz com ardor.

Com improviso do flugel (Claudio Faria) e da batera (Thiago Big Rabelo), “Comunidade” (Vicente Barrelo e CV) inicia leve, mas logo cresce até roçar o véu da noite.

A tampa fecha com a bela “A Vida Vi” (Pedro Viáfora e CV). Apenas com o violão (CV) e o cello de Vana Block, é a hora de ainda mais se comover. Meu Deus!

A linha de montagem buscada e obtida por CV põe "A Vida É" em lugar de destaque dentre as suas criações de ontem e de hoje.

Você, que gosta de boa música, ouça esse trabalho de um cara que tem o que dizer, seja cantando ou conversando, e o faz com manifestações espirituosas e pertinentes.

Todo o seu poder de criação está no mundo: músicas que emocionam, arrepiam, cordas que pontificam em meio a imagens apuradas, agudos vibrantes, emoções expoentes e instrumentistas virtuosos.

A dúvida: titular este texto foi que me embaraçou. Com um nome pré-escolhido, encontrei outro, titubeei... vingou.

Todavia, arrependido pelo vacilo (mas o título que valeu não é tão ruim assim não, né, gente!), mostro agora o que tinha escolhido primeiro, mas bobeei e não usei: “Celso Viáfora é um gênio!” Simples assim.

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