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"Não estou satisfeito com o Brasil. Candidatos não animam", diz Pedro Janot

Ex-CEO da Zara e da Azul, que se reinventou após acidente que o deixou tetraplégico, afirma que cidadão precisa participar e jogar duro com governantes

Publicado em 25/06/2022 às 04h31
Pedro Janot
Depois do acidente, Pedro Janot mudou completamente o estilo de vida. Crédito: Divulgação

Executivo de sucesso, no auge da carreira, Pedro Janot viu sua vida dar uma guinada em 2011, quando sofreu uma queda de cavalo e acabou tetraplégico. Do dia para a noite, o ex-CEO da Zara e então à frente da Azul viu imóvel e um estranho na própria casa. "Foi dramático e importante".

Janot, que esteve em Vitória sexta-feira (24) para uma palestra, reorganizou sua vida pessoal e profissional. "Eu acumulei conhecimento na minha trajetória, passei a querer dividir". Ele também passou a investir em empresas pequenas e muito inovadoras. Em conversa com a coluna, se disse insatisfeito com o Brasil do presente e do futuro próximo. A saída? A participação das pessoas: "o cidadão precisa se colocar. Mandar e-mail para os ministérios, entrar na vida pública, infernizar a vida pública via WhatsApp".

No final do papo, disse ter gostado muito de Vitória e se disse entusiasmado a se mudar para cá. "Não estou de brincadeira, gostei muito daqui".

Estamos num mundo de disrupções, crise econômica, guerra, pandemia, crise política e de várias boas oportunidades. Como liderar nesse momento?

A liderança tem de estar próxima do time e de maneira aberta. Tem que ouvir as críticas e analisar as oportunidades. Quando digo próximo é saber como está o filho, conhecer a equipe de verdade, fazer com que a confiança traga comunicação aberta, isso trará informações valiosas. A segunda coisa é a preservação do caixa de qualquer maneira. O caixa é soberano, o líder precisa cuidar disso. A terceira coisa é se conectar com o novo mundo que está entrando, afinal, muitos de nós, executivos, não temos todas as informações do mundo digital. Você vai ter uma equipe digital, ok, mas você líder precisa conhecer o que está acontecendo aqui e lá fora.

Como se conectar ao novo mundo?

Tem que ter um pouco de calma. A sua marca ainda vale, é um trabalho de muitos anos. É como se fosse um carro de rolimã, você empurra para frente e ele ainda tem velocidade. A sua empresa está andando e tem reconhecimento, mas um dia não vai ter. Dá tempo de correr atrás do digital e aqui vai uma dica muito importante: onde o cliente toca na sua companhia? Vou falar aqui do meu caso: tá tudo certo no banheiro para deficientes? O Pedro vai elogiar meu banheiro? O cara entrou na minha loja: a vitrine está ok? Como está o provador? O vendedor está entendendo o cliente? Atenção com o cliente é fundamental.

O senhor está satisfeito com o Brasil?

Eu não estou satisfeito com o Brasil. O presidente fez coisas importantes, mas não fez de forma coordenada. A autonomia do Banco Central foi um golaço. Tem as privatizações que o ex-ministro (da Infraestrutura) Tarcísio (de Freitas) deixou encaminhadas. O governo tem coisas boas, mas a incapacidade do Bolsonaro de organizar as ideias, colocar tudo junto e caminhar... ele não conseguiu. Para se recompor politicamente ele seguiu por um caminho que não tem volta, que é o caminho de ficar na mão do Centrão. E os candidatos que estão aí para assumir a presidência poucos me animam. Não estou vendo ninguém capaz de colocar o país num caminho de crescimento sustentado.

E aí?

O cidadão precisa se colocar. Mandar e-mail para os ministérios, entrar na vida pública, infernizar a vida pública via WhatsApp, enfim, por meio de toda a comunicação digital que já existe. Tem que ir pra cima do governo. O cidadão vai ter que começar a ir para a rua mesmo, como os europeus vão para a rua lutar por seus direitos, afinal, o tempo inteiro, é tudo para o governo e nada para investimentos no país. Qual é o percentual do PIB que sobra para investimento? Muito pouco. Tem que jogar o jogo, o jogo é duro.

O senhor sofreu um grave acidente, acabou ficando tetraplégico. Como foi essa recuperação, essa vida nova? O senhor disse certa vez que queria transformar sua vida numa startup de sucesso.

Foi dramático e importante. Do dia para a noite eu estava imóvel. Eu era um ser estranho dentro de casa 24h por dia. Antes do acidente, saía para trabalhar cedo, voltava de noite e isso me deixava distante dos filhos e da mulher. De repente, me vi precisando da ajuda de todos. Primeiro, precisava preservar essa pessoas, para isso eu precisava cuidar de mim. Não fui pessimista em momento nenhum, ninguém me viu pelos cantos. Eu fui fazer o que tinha de ser feito, na época, muita fisioterapia. Depois eu fui reconstruir a minha vida profissional. Eu acumulei conhecimento na minha trajetória, passei a querer dividir. Lancei livros, faço palestras, depois fui ser mentor de empresas, participar de conselhos. Fui conselheiro de empresas grandes, de capital aberto, mas depois me voltei para as pequenas e médias, que era o que me dava mais prazer. Trazendo do zero até o crescimento sustentado, como fiz com a Richards, Azul... Estou preparando um MBA e estou à frente do grupo Solum, focado em ativos alternativos.

A sua startup é um sucesso?

Considero que sim (risos). É tocar a vida devagarinho, sempre prestando atenção.

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