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"Fed irá até o fim para controlar inflação", avisa professora do MIT

A brasileira Lira Mota, professora de Finanças, afirma que não apostaria contra aumento de juros nos Estados Unidos: "é uma questão de credibilidade"

Publicado em 30/07/2022 às 03h59
Lira Mota, professora do MIT
Lira Mota, professora do MIT. Crédito: Roni Peçanha/Divulgação

A brasileira Lira Mota, professora de Finanças do MIT (Massachusetts Institute of Technology), esteve em Vitória esta semana participando do Encontro Brasileiro de Finanças, realizado na Fucape. Em conversa com a coluna, a especialista em risco e retorno afirmou que a inflação é um dos grandes riscos enfrentados pelo mundo e que o Fed (banco central dos Estados Unidos) não medirá esforços e nem poupará aumento de juros, se for necessário, para controlar o avanço dos preços na maior economia do planeta.

"Estamos na maior inflação em 40 anos e, se o Fed tem um único objetivo, este objetivo é controlar a inflação. Ele vai ter que agir para isso. O que nós estamos buscando entender é qual o impacto da ação do Fed nos Estados Unidos e no mundo".

Diante de tanta turbulência, a receita para os poupadores é diversificar os investimentos. "Estatisticamente é muito melhor e mais seguro aportar num fundo do que numa ação específica, é aquela velha história de não colocar todos os ovos numa cesta só".

A senhora é uma especialista em risco. Num mundo que passa por turbulências, quais são os maiores riscos que estão em cima da mesa?

A inflação é um grave problema e traz outro junto: a variação da taxa de juros. Sabemos que haverá um aumento da taxa de juros nos Estados Unidos e na Europa, assim como já aconteceu com o Brasil. Comparando com o que tínhamos há dez anos, o mundo está muito mais exposto a esses dois riscos. Mas uma coisa é importante para o investidor: os riscos estão aí e são os mesmos para todos, a questão fundamental é quanto você está exposto a eles.

Vamos olhar para quem está querendo entrar no mercado. É uma boa hora?

(Risos) Posso responder sim e não? O mercado financeiro é a forma de você maximizar o seu retorno diversificando o seu risco. Por exemplo: se você é um trabalhador da construção civil, é razoável que você use o mercado para diversificar o seu risco da construção civil se expondo a outros tipos de indústrias: varejo, mineração e por aí vai. Sob este aspecto, é sempre hora de começar. No geral, diversificar é sempre positivo para a sua renda futura. Agora, se entrar agora é melhor do que ter entrado há dois anos ou se é melhor esperar mais dois, esta é uma grande dificuldade. O que eu posso te afirmar é que estamos passando por um período turbulento, principalmente no Brasil, onde temos o risco político, além de todo o risco internacional. Precisar um dia ideal para a entrada é praticamente impossível.

Bom, diante de um cenário de turbulência, que dica a senhora dá para o investidor?

Vejo que muita gente não observa como deveria as ferramentas de diversificação de risco, de baixo custo, que hoje o mercado entrega. As ETFs (fundos de investimentos negociados em Bolsa que replicam o desempenho de um índice de referência), por exemplo. Estatisticamente é muito melhor e mais seguro aportar num fundo do que numa ação específica. É aquela velha história de não colocar todos os ovos numa cesta só.

Lira Mota

Professora do MIT

"Uma coisa é importante para o investidor: os riscos estão aí e são os mesmos para todos, a questão fundamental é quanto você está exposto a eles"

A senhora mora em Boston, é professora do MIT, como os estrangeiros estão olhando para o Brasil?

O mercado emergente é visto como arriscado, como uma fonte de risco. Mas temos um contexto interessante, já que o investidor americano investe muito apenas nos Estados Unidos, ou seja, não cumpre a regra básica de diversificar. Assim como o investidor brasileiro concentra demais no Brasil. Diante deste cenário, o Brasil é visto como uma possibilidade de diversificação. O problema, hoje, é que o risco embutido no Brasil está alto, a questão política e eleitoral sempre impacta. Como eles não conhecem muito bem a dinâmica, optam por deixar o país.

O Fed, banco central americano, anunciou mais uma subida na taxa básica de juros. Qual é o cenário que a senhora está enxergando?

De volatilidade. Da mesma maneira como as pessoas não entenderam, lá atrás, essa alta da inflação que estamos vivendo, diziam que era temporária, vejo que acontece agora com a análise desse movimento de alta dos juros. Como economista jovem que sou, a inflação não era uma realidade, via apenas em relatos históricos. Mas o fato é que estamos na maior inflação em 40 anos e, se o Fed tem um único objetivo, este objetivo é controlar a inflação. Ele vai ter que agir para isso. O que nós estamos buscando entender é qual o impacto da ação do Fed nos Estados Unidos e no mundo. Qual vai ser o efeito colateral? Pelas nossas análises, nos últimos vinte anos o mercado de ações passou a ser muito mais sensível às ações do banco central, por isso, minha expectativa é de muita volatilidade no mercado.

Até onde vai o Fed?

Difícil te dar um número. Creio que haverá uma série de tentativas de limite. Sobe o juro. Deu resultado? Não deu. Sobe mais um pouco. Deu? Mantém. O Fed vai aumentar os juros até a inflação retroceder, é uma questão de credibilidade. Se o Fed não controla a inflação, você tem um problema de credibilidade no futuro. O custo disso é muito alto. O Fed irá até o fim para controlar a inflação nos Estados Unidos. Eu não apostaria contra isso.

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