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Boa situação das contas públicas caminha para ser um 'falso positivo'

Alberto Borges, especialista em finanças públicas, faz alerta para cenário de aumento de gastos baseado em uma situação que ele considera extraordinária

Publicado em 11/07/2022 às 04h30
Dinheiro - real
Crédito: Carlos Alberto

As contas públicas - União, Estados e municípios - estão num bom momento. Mas será que o céu é de brigadeiro no médio e longo prazos? Será que é o momento de abrir mão de receitas e de ampliar o gasto? Para Alberto Borges, ex-secretário da Fazenda de Vitória e um estudioso das contas públicas, a resposta é "não". Na avaliação dele, estamos numa trilha perigosa.

"A sociedade precisa prestar atenção no que está acontecendo, é um perigo. Com base em eventos extraordinários estão sendo tomadas decisões que elevam o gasto público e abrem mão de receitas importantes. Onde isso vai dar? Como sairemos desse festival?", alerta o economista, um dos responsáveis pelo Anuário Finanças dos Municípios Capixabas.

Borges se mostra preocupado com a desoneração generalizada do ICMS cobrado em cima dos combustíveis. Aqui no Espírito Santo o governo ainda anunciou redução nas alíquotas em cima de energia elétrica e telecomunicação. Na outra ponta, a pressão por aumento de gastos só cresce - com servidores pressionando por reajustes (que estavam travados desde 2020) e os próprios governos concedendo benesses (vide os últimos movimentos do governo federal).

"Estão, por motivações diversas e em todo o país, tomando decisões em cima de eventos extraordinários que não se repetirão. É um falso positivo o que temos hoje. O gestor responsável tem que colocar uma data para isso acabar, caso contrário, teremos problemas graves logo ali na frente".

Para Borges, os eventos extraordinários que fizeram as receitas subirem e sobrar caixa são:

  1.  Energia elétrica e combustíveis são grandes recolhedores de impostos. Como tiveram forte alta em 2021 e começo de 2022, turbinaram os tesouros. Nos dois casos os preços começaram a retroceder;
  2. A inflação, que disparou no final de 2020 e só agora começa a dar sinais de queda, também contribui muito para a elevação da arrecadação, afinal, os tributos incidem em cima de valores. É o famoso imposto inflacionário;
  3. 2021 foi o primeiro ano dos novos prefeitos, como de costume, os investimentos foram lá para baixo, ajudando no caixa. A tendência é de uma aceleração nos investimentos municipais em 2023 e 2024, elevando as despesas. Os municípios capixabas fecharam o ano passado com R$ 1,8 bi em caixa, depois de muitos anos nenhuma das 78 prefeituras enfrenta a chamada insuficiência financeira;
  4. O funcionalismo, por conta da lei do socorro financeiro do auge da pandemia, em 2020, ficou com os reajustes travados até o final do ano passado, tirando a pressão sobre as despesas. Os reajustes voltaram este ano e, por conta da inflação, o servidores querem mais.

"São vários os eventos extraordinários e muitas as incertezas pela frente. Com a inflação caindo, precisamos de crescimento econômico para a arrecadação dar conta. Teremos crescimento? O cenário externo, com recessões em Estados Unidos e Europa, também parece não ajudar. O gestor precisa de um olhar estratégico, o cenário de agora, com toda essa suficiência de caixa, não é consistente", finalizou Alberto Borges.

Em coletiva à imprensa realizada no último dia 28 de junho, quando anunciou redução de ICMS para combustível, telecomunicações e energia elétrica, o governador Renato Casagrande deixou escapar que ainda não há um plano pronto no governo do Estado para tapar o buraco que será aberto no orçamento de 2023. "Projetamos que nos próximos seis meses, o Estado e os 78 municípios vão deixar de arrecadar R$ 1,14 bilhão. Teremos que compensar isso de alguma maneira. Este ano utilizaremos os superávits dos exercícios anteriores e o excesso de arrecadação, que está um pouco melhor do que o previsto. Para o ano que vem, nossa equipe terá que pensar em novas medidas”.

A conta não é baixa e a cabeceira da mesa, ao que parece, ainda não está ocupada.

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