Publicado em 9 de agosto de 2024 às 09:16
Conteúdo investigado: Vídeo manipulado que mostra um abraço entre Celso Amorim e Nicolás Maduro circula nas redes sociais. O vídeo foi compartilhado pelo deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP), acompanhado de uma mensagem que questiona a legitimidade das eleições na Venezuela. No post, o parlamentar ironiza jornalistas que perguntariam a Amorim sobre a validade ou fraude das eleições no país. >
Onde foi publicado: X.>
Conclusão do Comprova: É falso um vídeo que mostra um abraço entre o assessor-chefe da Assessoria Especial da Presidência da República, Celso Amorim, e o ditador venezuelano Nicolás Maduro. A gravação, manipulada por meio de Inteligência Artificial (IA), mostra diversas imagens distorcidas, incluindo um filtro de corações e uma música romântica ao fundo.>
Alguns detalhes no vídeo indicam manipulação por Inteligência Artificial. Um exemplo é quando, durante o abraço mais próximo entre Celso Amorim e Nicolás Maduro, a barba de Amorim parece “afundar” no ombro de Maduro. Além disso, a frase e as estrelas da bandeira do Brasil ao fundo aparecem visivelmente distorcidas.>
>
O Comprova utilizou o Deepware, ferramenta que analisa possíveis usos de IA para manipulação de vídeo, e obteve a conclusão de que o vídeo é suspeito. O Fato ou Fake, do G1, usou o mesmo programa, que indicou que o conteúdo é 60% falso, já que as imagens manipuladas por IA estão misturadas com trechos reais.>
Além disso, a publicação foi desmentida pelo governo federal. Segundo nota divulgada por meio da Secretaria de Comunicação Social (Secom), o próprio Amorim apontou o vídeo como “totalmente manipulado e falso”, afirmando que a gravação é uma clara tentativa de desinformação. Amorim disse que o material também não tem relação alguma com sua viagem recente à Venezuela, para acompanhar as eleições presidenciais.>
Um dia após publicar a imagem, Eduardo Bolsonaro publicou o vídeo original e caracterizou o anterior como “claramente editado” e “caricato”. Apesar disso, o deputado federal não apagou a gravação manipulada de suas redes sociais.>
Após a repercussão, a Advocacia-Geral da União (AGU) notificou as redes sociais para removerem o conteúdo manipulado de suas plataformas. O pedido destaca a gravidade da conduta por conta do efeito de confundir a população sobre a posição do Estado brasileiro a respeito das eleições na Venezuela.>
O X classificou o vídeo como “mídia manipulada”, acrescentando uma nota de que não é permitido compartilhar mídia sintética, manipulada ou fora de contexto que possa enganar ou confundir pessoas e causar danos.>
A base do conteúdo enganoso é um vídeo de 2023. Celso Amorim e Nicolás Maduro se encontraram em março daquele ano e se cumprimentaram, mas não de forma tão afetuosa como exibe o vídeo manipulado (foto mais abaixo). O conteúdo enganoso sugere que o encontro teria ocorrido no contexto das discussões a respeito das eleições venezuelanas realizadas no último dia 28 de julho.>
Celso Amorim realizou sua última visita à Venezuela em 26 de julho de 2024 para acompanhar o processo eleitoral que ocorreria dois dias depois. O objetivo era coletar impressões e relatos para ajudar o Palácio do Planalto a se posicionar após a divulgação dos resultados.>
Seu primeiro encontro foi com o ministro das Relações Exteriores da Venezuela, Yvan Gil. A visita é considerada um protocolo diplomático, e, em razão de sua função no Brasil, é recomendável que Amorim busque o principal representante da diplomacia local ao chegar em outro país.>
A Advocacia-Geral da União (AGU) notificou as redes sociais X, Instagram e Facebook para removerem de suas plataformas o conteúdo manipulado. O pedido de remoção, segundo a AGU, fundamentou-se “na gravidade da conduta, já que tem o efeito de confundir a população sobre a posição do Estado brasileiro a respeito das eleições venezuelanas”. Caso não seja acatado o pedido, o órgão requereu que os vídeos sejam marcados com informação de que foram gerados por inteligência artificial.>
Segundo a Procuradoria Nacional de Defesa da Democracia (PNDD), além de enganoso e fraudulento, o vídeo configura como ato antijurídico, uma vez que viola o direito à informação, conforme previsto no artigo 5º, inciso XIV e 220, da Constituição Federal, e extrapolam os limites da liberdade de expressão, caracterizando como abuso de direito, conforme artigo 187 do Código Civil.>
“A veiculação de vídeos ou imagens manipuladas pelo uso de inteligência artificial, criando cenas não condizentes com a realidade, retira da sociedade o direito fundamental à informação”, explica a coordenadora-geral de Defesa da Democracia da PNDD, Priscilla Rolim de Almeida. “A sociedade tem o direito de ser informada com base nos valores éticos e sociais, conforme garante a Constituição Federal, em seu artigo 221, inciso IV”, complementa.>
O Comprova procurou a assessoria de imprensa do deputado Eduardo Bolsonaro, mas até a última atualização desta verificação não houve retorno.>
Falso, para o Comprova, é o conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma falsidade.>
Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais. Até o dia 8 de agosto, o post tinha 557,1 mil visualizações, além de 9,4 mil curtidas e 2,7 mil compartilhamentos.>
Fontes que consultamos: Procuramos por informações verificadas em portais de notícias, além de informações oficiais nos sites do governo federal e da AGU.>
Por que o Comprova investigou essa publicação: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas, saúde, mudanças climáticas e eleições e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.>
Outras checagens sobre o tema: Outras iniciativas de checagem também verificaram o conteúdo, como o Fato ou Fake (G1), Aos Fatos, AFP e Crusoé. O Comprova também já atuou em outras publicações falsas relacionadas ao governo e à Venezuela. Uma delas foi uma montagem de uma publicação do ministro Fernando Haddad com elogios a Nicolás Maduro. Em outra, o projeto checou um print falso com uma suposta reportagem do G1 de que Lula teria dito que o país vizinho “não precisa de críticas”, mas de “financiamento e empréstimos”.>
Investigação e verificação
Investigado por: imirante.com e O DIA
Texto verificado por: Folha, A Gazeta e Metrópoles
O Projeto Comprova é uma iniciativa colaborativa e sem fins lucrativos liderada e mantida pela Abraji – Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo e que reúne jornalistas de 42 veículos de comunicação brasileiros para descobrir, investigar e desmascarar conteúdos suspeitos sobre políticas públicas, eleições, saúde e mudanças climáticas que foram compartilhadas nas redes sociais ou por aplicativos de mensagens. A Gazeta faz parte dessa aliança.
Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rápido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem.
Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta