Publicado em 15 de novembro de 2024 às 11:43
As explosões ocorridas na noite de quarta-feira (13) na praça dos Três Poderes motivaram discursos distintos no mundo político e jurídico. Da parte do governo e do STF (Supremo Tribunal Federal), as falas vinculam o atentado aos ataques golpistas de 8 de janeiro de 2023. Já a oposição sustenta que houve uma ação isolada de um "lobo solitário".>
Embora essas posições ainda dependam de confirmação pelas investigações, há objetivos claros em torno da discussão de possível anistia aos que participaram do 8 de janeiro.>
Na manhã desta quinta-feira (14), o ministro do STF Alexandre de Moraes e o diretor-geral da Polícia Federal, Andrei Rodrigues, foram a público com discursos em tom uníssono, o de que o ato do chaveiro e ex-candidato a vereador Francisco Wanderley Luiz tem clara conexão com as mensagens de ódio bolsonaristas e com os ataques golpistas do início de 2023.>
A argumentação vai na direção contrária aos interesses dos que defendem anistia, como o ex-presidente Jair Bolsonaro e seus aliados, que conseguiram emplacar o tema em uma comissão especial da Câmara dos Deputados.>
>
"Só é possível essa necessária pacificação do país com a responsabilização de todos os criminosos. Não existe possibilidade de pacificação com anistia a criminosos", disse Moraes. A investigação da PF sobre o ataque foi enviada ao ministro após a corte ver conexão com os ataques de 8 de janeiro, que já estão sob a guarda dele no tribunal.>
Moraes afirmou ainda que o ocorrido não é um ato isolado e começou com o chamado "gabinete do ódio" na gestão Bolsonaro.>
Já Andrei declarou que, ainda que a "ação visível" seja individual, "por trás nunca há só uma pessoa, é sempre um grupo ou ideias de um grupo, ou extremismos e radicalismos que levam ao cometimento desses delitos".>
O presidente do STF, Luís Roberto Barroso, e o decano, Gilmar Mendes, foram na mesma linha. "Querem perdoar sem antes sequer condenar", disse o primeiro. "O discurso de ódio, o fanatismo político e a indústria de desinformação foram largamente estimulados pelo governo anterior", completou o segundo.>
Já Cármen Lúcia disse, ao abrir sessão do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), presidido por ela, que se tratou de um ato grave e que "o Brasil foi dormir preocupado com os acontecimentos".>
A presidente do PT, Gleisi Hoffmann, publicou em rede social que, como disse Moraes, o atentado "confirma que é imprescindível processar e punir todos os envolvidos no 8 de janeiro, [...] a começar pelos mandantes e pelo chefe de todos, que é o maior inspirador do terrorismo da extrema direita", em referência a Bolsonaro.>
Na opinião de líderes partidários e ministros, o ato de Francisco, que concorreu ao cargo de vereador pelo PL em 2020, fortalece o papel do STF na condução do inquérito sobre o 8 de janeiro e ajuda a frear o impulso político aos bolsonaristas ocorrido com a eleição de Donald Trump nos Estados Unidos.>
Titular da Secretaria de Comunicação da Presidência, o ministro Paulo Pimenta sugere que o autor do atentado estaria atendendo a orientações de lideranças.>
"Por que está acontecendo isso? Por que o Alexandre de Moraes como alvo? Basta abrir as redes [sociais], é o tal do apito de cachorro: a liderança fala, e as coisas acontecem embaixo. Eles têm que responder por isso. Essas conexões têm que ser investigadas, se tem financiamento, se não tem, [eles] têm que ser responsabilizados.">
O ministro da Secretaria de Comunicação também questiona a versão de que o autor do atentado teria se suicidado. Argumenta que, ao analisar o vídeo, chegou à conclusão de que ele teria caído quando uma bomba estourou em sua mão.>
Sobre a repercussão política, Pimenta afirma que compromete o avanço do debate em favor da anistia dos participantes dos ataques de 8 de janeiro. "Impunidade é o fermento do ódio e da violência.">
Sob reserva, um ministro diz que a anistia virou palavrão neste momento.>
Líder do governo na Câmara, o deputado José Guimarães (PT-CE) afirma que o fato "enterra de vez qualquer possibilidade de votação de anistia" na Casa, opinião compartilhada reservadamente por outros parlamentares governistas.>
"Nunca foi nem será um ato isolado. É um projeto encorajado de violência e retrocesso", escreveu em suas redes a ministra Anielle Franco (Igualdade Racial).>
Simone Tebet, ministra do Planejamento, também relativizou a ideia de iniciativa individual, afirmando que, "no ataque à democracia, os 'lobos' nunca são solitários" e "há, sempre, um 'apito' a encorajá-los". Para ela, o ato "foi mais um sinal de alerta de que, enquanto permanecerem esses 'apitos', a luta democrática não permite qualquer tipo de trégua".>
O vice-presidente, Geraldo Alckmin (PSB), defendeu por sua vez apuração célere e classificou o episódio como triste e grave. "Triste pela perda de vida e grave por ser um atentado a uma instituição da República, Poder da República, e que deve ser apurado com extrema rapidez e com extremo rigor.">
Na oposição, o tom predominante foi o de lamentar o episódio, mas afastar o atentado de Bolsonaro e também de vínculos com o 8 de janeiro.>
Tanto o ex-mandatário quanto os presidentes do PL, Valdemar Costa Neto, e do PP, Ciro Nogueira, usaram a expressão "fato isolado".>
"Apesar de configurar um fato isolado, e ao que tudo indica causado por perturbações na saúde mental da pessoa que, infelizmente, acabou falecendo, é um acontecimento que nos deve levar à reflexão", escreveu Bolsonaro em suas redes.>
"Já passou da hora de o Brasil voltar a cultivar um ambiente adequado para que as diferentes ideias possam se confrontar pacificamente, e que a força dos argumentos valha mais que o argumento da força", continuou o ex-mandatário.>
"Temos quase 1 milhão de filiados no Brasil, claramente esse era um sujeito desequilibrado. Foi um caso isolado", disse Valdemar à coluna Painel.>
"O ato isolado de um desequilibrado é o que é: um absurdo. Mas daí a extrapolar uma atitude mentecapta de um indivíduo para dar contornos institucionais a esse incidente abominável é dizer que nossa democracia não é sólida e resiliente como ela é", afirmou Ciro Nogueira.>
O líder da oposição no Senado, Rogério Marinho (PL-RN), criticou Moraes e reafirmou articulação para a concessão de anistia.>
O deputado federal Chico Alencar (PSOL-RJ) ironizou a posição dos bolsonaristas. "Lobo solitário? De alguma matilha ele saiu".>
Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rápido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem.
Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta