Publicado em 28 de outubro de 2024 às 19:34
As eleições municipais mostraram um PL forte nas grandes cidades, mas com dificuldades de vencer as diputas de segundo turno, evidenciando os limites de uma direita mais radical, liderada pelo ex-presidente Jair Bolsonaro, analisa o cientista político Jairo Nicolau, professor e pesquisador da Fundação Getulio Vargas, em entrevista à BBC News Brasil.>
A grande vitoriosa de 2024, continua, foi a direita moderada, enquanto o PT, mais uma vez, mostrou dificuldades em construir jovens lideranças.>
Na sua visão, a recuperação lenta da sigla do presidente Luiz Inácio Lula da Silva não ocorre por falta de propostas e ideias, mas pela ausência de novos quadros que cativem o eleitor.>
"A direita está se renovando. O PT precisa se modernizar internamente e formar líderes. Essa é a minha ideia, diferente desse negócio de fazer documento [com novas propostas], chamar intelectual para conversar, ouvir pastores", afirma Nicolau.>
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"Não, [a esquerda] precisa de um pastor carismático petista, que seja querido na comunidade evangélica e mostre que você pode ser evangélico e petista, que a vida vai bem", reforça.>
O PT venceu em 252 municípios em 2024, uma alta em relação a 2020 (182), mas ainda longe do recorde de 2012 (624). E conquistou apenas uma capital, em vitória apertadíssima de Evandro Leitão sobre o bolsonarista André Fernandes (PL) no segundo turno.>
Em contraste, o PL fechou essa eleição conquistando o maior número de grandes cidades (aquelas com mais de 200 mil eleitores, em que pode haver segundo turno): foram 16 municípios, sendo quatro capitais — Maceió (AL), Rio Branco (AC), Cuiabá (MT) e Aracaju (SE).>
A sigla, no entanto, acumulou derrotas no round final da disputa municipal. O partido só levou seis das 22 cidades em que disputava o segundo turno. >
Jovens expoentes do bolsonarismo, como Bruno Engler, em Belo Horizonte, e André Fernandes, em Fortaleza, tiveram votações expressivas, mas não foram capazes de atrair a maioria do eleitorado.>
Para Nicolau, esses resultados mostram uma rejeição da maioria do eleitorado a candidatos de direita com discurso mais ideológico, em uma eleição que o foco estava em questões locais de cada cidade.>
Na sua leitura, a tendência da próxima eleição nacional, em 2026, quando o Brasil elegerá governadores e o presidente da República, é que os candidatos moderem seu discurso nas disputas de segundo turno.>
Para Nicolau, a vitória de Bolsonaro em 2018, quando o agora ex-presidente foi eleito sem suavizar suas ideias radicais, foi atípica e não deve se repetir.>
"O Bolsonaro [eleito em 2018] é uma exceção e, talvez, tenha criado a ilusão de que a radicalização leva à vitória numa eleição", disse, ao comentar a atuação de candidatos aliados ao ex-presidente, como Cristina Graeml (PMB), que manteve o discurso fortemente bolsonarista na reta final da disputa e perdeu para Eduardo Pimentel (PSD).>
Leia a seguir os principais trechos da entrevista concedida à BBC News Brasil, editada por razões de concisão e clareza.>
BBC News Brasil - Candidatos do PL tiveram bom desempenho em grandes cidades no primeiro turno, mas o partido perdeu quase todas as capitais que disputava no segundo, principalmente para outros candidatos de direita ou da centro-direita. Isso evidencia os limites do bolsonarismo?>
Jairo Nicolau - Eu gosto de trabalhar com os resultados das eleições para as câmaras municipais. Esse dado captura melhor o enraizamento, o espraiamento dos partidos pelo território. >
Por esse critério, o PL foi um dos partidos que mais cresceram. É, claro, na última eleição municipal, eles não tinham ainda recebido a migração da família Bolsonaro [ocorrida no final de 2021] e dos políticos mais próximos ao Bolsonaro.>
Mas o que mais me surpreendeu foi o desempenho do PL nas grandes cidades. O PL é o partido mais votado para as câmaras municipais das cidades com mais de 500 mil habitantes. Ele praticamente empata com o PSD nas cidades entre 100 mil e 200 mil habitantes.>
Então, é um partido que sai das urnas muito bem no primeiro turno. Ainda não vi os números fechados após o segundo turno, mas o PL, certamente, ficou entre os três partidos com mais prefeituras nas grandes cidades [o PL é o partido que comandará mais cidades com mais de 200 mil eleitores, com 16 prefeituras, seguido de PSD, com 15].>
Agora, o que você chamou atenção é muito importante. São derrotas fortes [nas capitais no segundo turno], em cidades em que os candidatos eram lideranças emergentes, como Belo Horizonte [em que Fuad Noman, do PSD, derrotou Bruno Engler] e Fortaleza [em que Evandro Leitão, do PT, venceu André Fernandes]. Em Curitiba, Cristina [Graeml, do PMB, que perdeu para Eduardo Pimentel, do PSD] não era do PL, mas era uma figura ligada ao mundo bolsonarista. E isso chama atenção: a derrota desses candidatos, na média, mais jovens e mais radicais politicamente.>
BBC News Brasil – Isso mostra um limite para candidaturas mais radicalizadas?>
Jairo Nicolau - É cedo pra fazer uma generalização, eu não acompanhei no detalhe todas as disputas, mas vi que alguns desses candidatos radicalizaram em questões comportamentais, morais, na última semana. >
Isso aconteceu em Belo Horizonte, em Fortaleza, em Curitiba. Uma mobilização de temas de família e acusações pessoais aos outro candidatos, mobilizando discursos que ficaram muito vinculados à direita nos últimos anos. É um erro de estratégia que, nos anos 90, muitas vezes a esquerda cometeu [ao não moderar suas pautas].>
Essa é décima eleição municipal depois que a nova Constituição foi aprovada. Os eleitores vão aprendendo que querem um gestor das questões da cidade. >
Eu não vi nenhum candidato radicalíssimo, que foi pro segundo turno, ganhar a eleição, seja pela direita ou pela esquerda, porque a eleição no segundo turno, salvo algumas exceções, e uma delas foi justamente o Jair Bolsonaro em 2018, é uma eleição [que o candidato se move para o centro]... >
Dificilmente você conquista uma vitória radicalizando como candidatos da direita bolsonarista fizeram.>
E alguns candidatos de esquerda, não é que eles radicalizaram [nesta eleição], eles fizeram um movimento para o centro, mas não deu, como o caso da Maria do Rosário [petista que perdeu em Porto Alegre para Sebastião Melo, do MDB] e do Guilherme Boulos [do PSOL, que perdeu para Ricardo Nunes, do MDB, em São Paulo]. >
São cidades que têm uma rejeição à esquerda forte. É uma dificuldade vencer enquanto, no outro lado, tem uma grande frente conservadora.>
Então, no balanço final, acho que, da perspectiva partidária, o PL é um vencedor. Da perspectiva política, de conquistar cidades, o PL é um perdedor nesse segundo turno.>
Lembro que isso aconteceu algumas vezes com a esquerda nos anos 90: ía para muitas cidades no segundo turno, mas perdia porque a cidade rejeitava a política à esquerda. Agora, eu acho que aconteceu o contrário. >
As cidades rejeitando políticos mais à direita ou querendo trazer uma discussão doutrinária, uma discussão ideológica, para o âmbito de uma eleição que as pessoas sabem que o prefeito vai cuidar é do transporte, do posto de saúde, das questões locais.>
Houve um superdimensionamento do papel do Bolsonaro [para alavancar candidaturas]. E, se fosse o Lula [atuando com força nas campanhas deste ano], ou qualquer liderança, eu diria o mesmo. >
A maioria dos eleitores municipais não vai fazer uma escolha porque o seu candidato a presidente [na eleição anterior] indicou.>
BBC News Brasil – Você pontuou que 2018 foi uma eleição atípica, em que o Bolsonaro ganhou sem moderar seu discurso. E em 2022, ele perdeu, mas por muito pouco. O resultado dessa eleição municipal pode sinalizar que um candidato tão radicalizado vai ter dificuldade de derrotar Lula ou outro candidato que ele apoiar em 2026?>
Jairo Nicolau - Essa lição já deveria ter sido aprendida olhando as eleições municipais desde 1992.>
A eleição de 1988, a primeira eleição geral para prefeito e vereador [após a Ditadura Militar], foi a única nacionalizada por conta da morte dos operários em Volta Redonda [em uma greve na CSN reprimida pelo Exército] a poucos dias da eleição. >
Aquilo criou uma onda de comoção [que favoreceu algumas vitórias da esquerda, como a eleição de petista Luiz Erundina, em São Paulo].>
Tirando essa eleição, as outras todas foram eleições em que a pauta local de cada cidade prevaleceu.>
Então, esse aprendizado já teria que ter sido feito por todos os políticos. O Bolsonaro [eleito em 2018] é uma exceção e, talvez, tenha criado a ilusão de que a radicalização leva à vitória numa eleição.>
Aquela eleição é muito excepcional, sobretudo, porque Bolsonaro ganhou uma eleição em casa. Não estou dizendo que foi isso [que o elegeu], mas, vamos lembrar: Bolsonaro não foi a um debate, a uma sabatina.>
Ele ficou em casa o segundo turno inteiro, e uma boa parte do Brasil só foi conhecer o Bolsonaro falando e apresentando suas ideias, depois que ele assumiu a Presidência.>
Então, é uma eleição absolutamente atípica, e acreditar que esse modelo vai se repetir é desconhecer o Brasil e forçar a mão nessa ideia da polarização.>
Quer dizer, ele [Bolsonaro] presente é capaz ainda de cultivar uma parte do país. Radicalizando, ele tem essa capacidade. >
Mas, nessa eleição, ele foi mais moderado, por incrível que pareça, e também tinha uma máquina [partidária], uma máquina do centrão, do PL. >
Fez uma campanha em que defendia o seu legado na Presidência, era outra lógica.>
Se pegarmos as manchetes de 2020, amanhã [segunda-feira] você pode repetir [as mesmas machetes]: foi uma vitória do centro, da centro-direita.>
Eduardo Paes [reeleito no Rio de Janeiro pelo PSD]. Belo Horizonte reelegeu [Fuad Nomam, do PSD]. São Paulo também [com a vitória de Ricardo Nunes, do MDB]. Salvador já tinha [reeleito Bruno Reis, do União Brasil] no primeiro turno.>
No Recife, exceção [com a reeleição do João Campos, do PSB, no campo da esquerda]. No cômputo geral, é uma vitória das forças de direita moderada. Mas já tinha sido assim, não é novidade nenhuma. As novidades acontecem na margem.>
BBC News Brasil - Uma novidade foi o Bolsonaro como cabo eleitoral dos candidatos do PL, em um partido estruturado. Qual o saldo do desempenho do Bolsonaro?>
Jairo Nicolau - Eu, que acompanho mais a política com ênfase em processos de longo prazo, mais estruturais, estou menos interessado no Bolsonaro, como pessoa física, e mais no PL como pessoa jurídica.>
A gente hoje tem um partido de direita, urbano, majoritário em termos de votação nas grandes cidades, estruturado. Aqui no Rio de Janeiro, tem a segunda maior bancada [na Câmara de Vereadores]. >
Em São Paulo, tem a segunda [empatado com MDB, ambos atrás do PT]. Em Belo Horizonte, a primeira [empatado com o PT]. Nas câmaras municipais, ele foi bem em várias cidades. Aqui no Rio, se interiorizou. Em São Paulo, conquistou algumas cidades importantes, espraiou também pelo território.>
O Bolsonaro continua como uma liderança inconteste do campo da direita. Se ele fosse concorrer daqui a dois anos, e a probabilidade é baixíssima [devido a sua condenação na Justiça Eleitoral que o deixou inelegível], eu ficaria muito preocupado com o desempenho.>
Ele sempre foi criticado por nunca ter sido um líder partidário. Dessa vez, ele resolveu organizar um partido. Ou seja, a gente tem um casamento entre uma liderança popular de direita, a mais popular que a direita brasileira já produziu depois da redemocratização, e um partido que podia ser qualquer um desses de direita, e ele escolheu o PL.>
Agora, vamos olhar o lado mais estrutural [do desempenho dos candidatos do PL no segundo turno]: quantos desses derrotados serão candidatos ao Senado em 2026 com chances de serem eleitos? >
Vamos ver também como o PL se saiu nas outras cidades, cidades médias. Acho que é mais interessante para a gente pensar esse processo da política brasileira no tempo.>
BBC News Brasil – Mas, retomando à pergunta anterior, essas derrotas do PL no segundo turno indicam um espaço menor para candidaturas mais radicais na disputa presidencial de 2026?>
Jairo Nicolau - Se perguntarem antes de qualquer eleição, a estratégia boa para o candidato, seja de direita ou de esquerda, é se movimentar para o eleitor de centro.>
E centro no Brasil não é só o centro representado pela Simone [candidata do MDB derrotada em 2022 e hoje ministra do Planejamento] ou setores do PSDB mais moderados e intelectualizados. Isso não é a massa que muda uma eleição presidencial.>
O centro é onde ficam as pessoas mais anódinas, politicamente menos informadas, mais desinteressadas. É esse lugar que os políticos precisam mirar para ganhar uma eleição, e foi o que o Lula fez.>
A gente fala da vitória do Lula, como [resultado de] um apoio do centro, vindo da Simone Tebet, da Marina silva [ministra do Meio Ambiente], mas é [resultado de] um eleitor pragmático de São Paulo, das regiões metropolitanas, insatisfeito com a política de saúde da pandemia, como as pesquisas mostraram, que dão não para o Bolsonaro [em 2022].>
Então, eu vejo que o processo foi centrífugo, foi pros polos [em 2018 e 2022]. >
Agora, se eu tivesse que apostar, eu imaginaria uma eleição, na disputa presidencial e dos governadores, com uma tendência mais centrípeta, com os candidatos buscando uma certa moderação, independente de quem concorrer.>
BBC News Brasil - E quem está bem posicionado a partir da eleição municipal para disputar a Presidência em 2026? Ou está muito em aberto?>
Jairo Nicolau - Está muito aberto. O Lula continua sendo o candidato óbvio [da esquerda], mas, por razões outras, não pelo [desempenho do] governo, mas pelas razões alegadas de saúde, da [possível falta de] vontade dele, pode ser que ele não disputa e reeleição.>
A direita teria um grande nome competitivo, se fosse [o Bolsonaro como] o nosso [Donald] Trump [que disputa a eleição novamente nos EUA] voltando. Se o nosso Trump não puder concorrer, abre-se ali um vazio no campo não de esquerda: desde os segmentos moderados de centro, tipo PSD, passando por setores da direita, como o União Brasil, até o PL.>
E, claro, que sempre se coloca o nome do Tarciso [de Freitas, governador de São Paulo, do Republicanos] como o nome óbvio [na disputa presidencial], mas acho que tem muito chão para rolar.>
Lembra que em 2020 o Dória também apareceu como nome óbvio para presidente, após Bruno Covas se eleger [prefeito de São Paulo] com seu apoio. Doria tanto acreditou que ele largou o governo de São Paulo [mas acabou não viabilizando sua candidatura presidencial].>
O jogo está muito mais aberto que em 2020. É muito cedo para fazer qualquer especulação, sobretudo por conta das singularidades que afetam as duas lideranças mais populares do Brasil atualmente.>
BBC News Brasil - O Tarcísio sai dessa eleição fortalecido como uma liderança mais independente do Bolsonaro?>
Jairo Nicolau - Eu não sei. O que eu ouço é que o movimento [para eventualmente disputar a eleição presidencial] é que ele se filie ao PL. Com exceção da vitória do Bolsonaro [em 2018], que concorreu com um partido praticamente inexistente [o PSL], os partidos fazem diferença para a disputa presidencial.>
Concorrer pelo Republicanos é um desafio: é menos tempo de televisão, é pouco dinheiro. Então, naturalmente, ele iria para o PL. Indo para o PL, acho que ele não vai abrir mão do prestígio, da força do Bolsonaro.>
Mas acho que tem muita água para rolar. As eleições municipais não são as eleições [locais] americanas, em que há uma espécie de prévia da força dos partidos. Elas [as eleições municipais brasileiras] servem para reacomodação muito pontual das forças políticas.>
A gente já sabe que o PL cresceu, o PSDB afundou, que o PT não foi tão mal, que não ganhou muitas cidades, mas melhorou nas câmaras municipais. Enfim, o partido respira.>
O PSB também [foi bem], mas o PDT foi mal. Esse tipo de coisa a gente aprende porque tem processo de longo prazo. Agora, eu não gosto muito dessas especulações, porque eu sei que elas, em geral, falham, sobretudo das eleições municipais para as nacionais.>
BBC News Brasil - Você tem apontado que essa eleição mostra, mais uma vez, a falta de novas lideranças na esquerda. Por que há dificuldade de renovação nesse campo?>
Jairo Nicolau - Eu não sei. O que me irritou um pouco foi esse clichê [em algumas análises] de que a esquerda não sabe conversar com o Brasil e precisamos fazer um novo programa para falar com a periferia, entender o empreendedorismo, entender os evangélicos.>
Eu acho que o que falta à esquerda não é ideia, não é proposta, mas novas lideranças. Precisa de um estudo sobre organização do PT, sobre como funciona o processo decisório do partido, para dizer por que o PT envelheceu com as suas lideranças.>
A Natália [Bonavides], de Natal, que perdeu a eleição [para Paulinho Freire, do União Brasil], é uma das jovens mais talentosas que vi no PT nos últimos dez, 15 anos.>
Por que o PSOL consegue? 'Ah, por questões de pauta identitária'. Não acho que seja isso. O PSOL, de alguma maneira, atrai a juventude universitária em muitas cidades, atrai uns setores da classe média, e o PT não tem atraído.>
A gente vê muita renovação pela direita. O pessoal torceu muito o nariz com cursos [de formação política] como o que a [deputada federal do PSB por São Paulo] Tabata Amaral fez [RenovaBR]. Será que não é o caso do PT começar a criar quadros, atrair jovens para assistirem cursos de formação e serem candidatos? >
A Tabata Amaral não começou no movimento estudantil. Ela começou como uma liderança do mundo acadêmico, tinha acabado a formação nos Estados Unidos, chegou aqui, fez um curso desses, montou uma rede e começou a carreira.>
O PT precisa se modernizar internamente e formar líderes. Essa é a minha ideia, diferente desse negócio de fazer documento, chamar intelectual para conversar, ouvir pastores... Não, precisa de um pastor carismático petista, que seja querido na comunidade evangélica e mostre que você pode ser evangélico e petista, que a vida vai bem.>
BBC News Brasil - O resultado do PT nessa eleição diz algo sobre o potencial de Lula em 2026?>
Jairo Nicolau - Nada, não quer dizer nada. O PT melhorou sua votação para câmaras municipais, subiu nas grandes cidades. O desempenho desastroso do PT foi em 2016, melhorou um pouquinho em 2020, melhorou um pouquinho agora.>
Em 2022, fez a segunda bancada [da Câmara dos Deputados]. Com essa votação para as câmaras municipais [em 2024], o PT deve continuar com a segunda ou, no máximo, terceira bancada na Câmara dos Deputados [em 2026], vai continuar com poder.>
E o desempenho do Lula não tem nada a ver com o PT. O desempenho do Lula é Lula. O PT vai, sim, ter problema, se o Lula não puder ser candidato.>
BBC News Brasil - O João Campos pode ser apontado como uma nova liderança da esquerda? Tem potencial para liderar o campo nacionalmente no futuro?>
Jairo Nicolau - Eu vejo como a principal [nova liderança], se você pensa líderes abaixo de 40 anos [João Campos tem 30].>
Ele é muito talentoso, um fenômeno eleitoral. Sem dúvida, a probabilidade de que ele continue como uma das principais lideranças da próxima década é óbvia. Mas ele não está o PT, está num partido menor.>
BBC News Brasil - O João Campos não ser do PT e ser de Pernambuco, um Estado que não é tão importante em tamanho eleitoral, pode limitar a capacidade de liderança?>
Jairo Nicolau - Acho que não, um político se nacionaliza. Sem fazer uma comparação descabida, o pai dele [Eduardo Campos, morto em um acidente aéreo em 2014, quando disputava a eleição presidencial pelo PSB], que também foi um grande político, se nacionalizou quando virou ministro do Lula [de 2004 a 2005], foi governador de Pernambuco [de 2007 a 2014].>
Ele ainda é muito jovem, é pouco conhecido nacionalmente. Então, ainda tem um longo processo de nacionalização do nome que precede qualquer especulação [sobre seu futuro].>
BBC News Brasil - O resultado das disputas municipais, com uma alta taxa de reeleição e predomínio da centro-direita, sinaliza algo sobre a composição do Congresso em 2026?>
Jairo Nicolau - Eu acho que o [próximo] Congresso vai ser muito parecido com o atual. Tem sido esse padrão.>
Provavelmente, 20% a 25% [dos próximos congressistas serão] da esquerda. Alguns segmentos de centro devem subir, MDB, PSD, e alguns partidos à direita. Por outro lado, teremos o PL, provavelmente, como maior partido de novo, pelos resultados das municipais, pela presença do Bolsonaro, e pelas lideranças, porque eles têm lideranças emergentes, como o Bruno Engler, o André Fernandes, o Fred Rodrigues [derrotado em Goiânia por Sandro Mabel, do União Brasil]. São todos jovens e têm uma carreira [pela frente].>
E mesmo a Cristina [Graeml], que não é tão jovem assim, mas ela apareceu com muita força e já se fala na candidatura dela ao Senado pelo no Paraná. Eles vêm com muita força.>
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