Publicado em 25 de abril de 2023 às 10:54
BRASÍLIA, DF - Os ministros do STF (Supremo Tribunal Federal) concluíram, na noite desta segunda-feira (24), o julgamento da primeira leva de denunciados de participação nos ataques golpistas de 8 de janeiro. Eles tornaram réus cem acusados de serem executores e autores intelectuais dos atos.>
Sete ministros seguiram o entendimento do relator, Alexandre de Moraes, pelo recebimento das denúncias contra todos os suspeitos. O julgamento do mérito das acusações, que vai condenar ou absolver os acusados, ainda não tem data definida.>
Os dois indicados do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) na corte, ministros Kassio Nunes Marques e André Mendonça, divergiram parcialmente de Moraes e defenderam que apenas as denúncias dos supostos executores dos atos deveriam ser acolhidas — no caso de Kassio, mesmo assim com uma série de ressalvas.>
Votaram com Moraes os outros ministros: Luís Roberto Barroso, Dias Toffoli, Gilmar Mendes, Edson Fachin, Cármen Lúcia, Luiz Fux e Rosa Weber.>
>
A primeira leva de denúncias do 8 de janeiro é formada por 50 pessoas investigadas no inquérito dos executores e outras 50 na ação dos instigadores e autores intelectuais.>
Kassio e Mendonça apresentaram seus votos nos dois inquéritos em análise horas antes do fim do prazo do julgamento no plenário virtual, que se encerrou na noite desta segunda.>
A primeira divergência dos dois é em relação ao foro do julgamento. Ambos consideram que a ação deveria ser analisada pela Justiça Federal do Distrito Federal, não pelo STF.>
No caso de a competência do Supremo ser reconhecida, como foi pela maioria dos ministros, eles argumentam que não há elementos para acolher as denúncias sobre os acusados de serem instigadores e autores intelectuais dos ataques>
Em relação aos instigadores e autores intelectuais, Kassio argumentou que o grupo é formado pelos manifestantes que estavam no QG do Exército em Brasília e "lá permaneceram, não havendo quaisquer elementos a apontar que tivessem participado, sob qualquer forma, dos atos de vandalismo ocorridos na praça dos Três Poderes".>
"Com as mais respeitosas vênias, de tudo quanto foi exposto, entendo que não se pode caracterizar a justa causa para instauração da ação penal lastreada no simples fato de alguém estar acampado ou 'nas imediações do Quartel-General do Exército' em Brasília, sem que se demonstre e individualize sequer uma conduta criminosa atribuída aos denunciados", escreveu o magistrado.>
Sobre os acusados de serem executores dos ataques, Kassio apresentou uma série de ressalvas.>
Além de defender que a competência do caso não é do STF, ele disse que apenas parte dos crimes imputados deveria ser reconhecida: no caso, "dano qualificado pela violência e grave ameaça, com emprego de substância inflamável, contra o patrimônio da União e com considerável prejuízo para a vítima"; "abolição violenta do Estado democrático de Direito"; e "deterioração de patrimônio tombado".>
Nesse sentido, o ministro também disse que não deveriam ser reconhecidas as denúncias pelos crimes de "associação criminosa armada" e "golpe de Estado".>
Em palestra em São Paulo nesta segunda-feira, Mendonça já havia indicado que poderia divergir da maioria. Ele chegou a afirmar que enfrentava um "dilema ao julgar se tornaria réus o grupo de detidos em frente ao Comando do Exército no dia seguinte aos atos.>
Disse que era preciso distinguir a situação desse grupo daquele das 50 pessoas que foram presas por envolvimento direto nos atos de depredação na praça dos Três Poderes.>
O magistrado também afirmou ainda que não cederia a pressões e lembrou o julgamento do ex-deputado Daniel Silveira, acusado de ofender ministros do Supremo.>
Mendonça, no entanto, votou pelo recebimento da denúncia contra os supostos executores em relação a todos os crimes imputados.>
"Aqui (no inquérito dos executores), as prisões se deram em meio a atos de violência, depredação, enfrentamento, medo, corre-corre. De outro lado, as prisões do dia posterior se deram em contexto completamente diverso", escreveu o ministro em seu voto.>
O Supremo analisou nos últimos dias primeira leva de julgamentos das 1.390 pessoas denunciadas pela PGR (Procuradoria-Geral da República) por participarem dos ataques. O julgamento começou a ser feito no plenário virtual da corte na terça (18).>
Relator da investigação, Moraes sustentou a existência de justa causa para a abertura de ação penal de todos os acusados.>
A pedido do ministro, a presidente do Supremo, Rosa Weber, já pautou a análise de um segundo pacote de denúncias da PGR. Esão sendo analisados 200 casos em julgamento que começou nesta terça-feira (25) e também terá o prazo de uma semana.>
Em seu voto, o ministro relator afirmou que parte dos denunciados, segundo apontou a Procuradoria, integrava o núcleo responsável pela execução dos atentados materiais contra as sedes dos três Poderes.>
Segundo Moraes, outros associaram-se, por intermédio de uma estável e permanente estrutura montada em frente ao Quartel General do Exército Brasileiro, "aos desideratos criminosos dos outros coautores, no intuito de modificar abruptamente o regime vigente".>
Ainda conforme o voto, havia o interesse de insuflar as Forças Armadas e a população à tomada do poder e à subversão da ordem política e social, gerando, ainda, animosidades entre os militares e as instituições republicanas.>
Moraes reiterou não haver dúvidas sobre a competência do STF para analisar as denúncias e, caso sejam recebidas, para processar e julgar a ação penal.>
Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rápido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem.
Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta