Publicado em 22 de setembro de 2018 às 02:29
Deputados federais e senadores que votaram contra o fundo eleitoral, criado para compensar o fim das doações por empresas, receberam a verba dos seus partidos para usarem na campanha eleitoral. Dos 10 deputados, cinco votaram contra a criação do recurso. Já entre os três senadores, dois votaram contra. Independentemente de como votaram, todos receberam dinheiro do fundo, que variou de R$ 235 mil a R$ 2 milhões.>
Quase um ano depois da aprovação da reforma que instituiu o fundo, os deputados e senadores que tentam reeleição ou disputam outros cargos receberam a maior fatia do recurso distribuído entre os candidatos do Estado.>
Um exemplo é o da deputada federal Norma Ayub (DEM). Ela votou contra o fundo, mas recebeu 100% de tudo o que o partido doou para os candidatos do Espírito Santo. Norma vai poder usar R$ 1 milhão do fundo na campanha.>
O deputado Jorge Silva (SDD) também votou contra o fundo, mas vai receber 83% da verba do fundo destinado aos candidatos do partido no Estado. Ao todo, ele vai poder usar R$ 1.050.000.>
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PLEITO>
Carlos Manato não vai disputar a reeleição, mas está no pleito para governador. Do partido dele, o PSL, Manato recebeu 63,69% da verba destinada para o Estado. Mas em valores absolutos é o que tem menos dinheiro do fundo, entre os que permanecem na disputa R$ 235 mil. Ele também votou contra o fundo.>
Os dois senadores que tentam se reeleger, Magno Malta (PR) e Ricardo Ferraço (PSDB), não queriam aprovar o fundo, mas agora recebem R$ 2 milhões e R$ 1 milhão, respectivamente. O valor é mais da metade do que cada partido destinou aos candidatos capixabas.>
Ainda entre os que votaram contra e receberam verba do fundo para campanha estão Evair de Melo (PP) e Paulo Foletto (PSB). Enquanto Evair recebeu R$ 657.632 de fundo (cerca de 37% do total do partido no Estado); Foletto recebeu R$ 1,3 milhão e 20%. Mas, se considerarmos que no partido de Foletto há o candidato ao governo do Estado, Renato Casagrande, e excluindo o valor recebido por ele do fundo, o deputado recebeu 59% do fundo.>
O cientista político e professor da PUC-Rio, Ricardo Ismael, classificou a atitude da bancada como "incoerente", mas que está agindo como o esperado.>
Para Ismael, o fundo é um recurso alto em um país em crise um total de R$ 1,7 bilhão distribuído por 35 partidos. "Foi criado para ajudar os atuais deputados federais e senadores a conseguir uma reeleição. Vai reduzir a renovação, porque termina favorecendo quem tem mandato", completou.>
VOTO A FAVOR>
Ainda entre os que votaram contra e receberam verba do fundo para campanha estão Evair de Melo (PP) e Paulo Foletto (PSB). Enquanto Evair recebeu R$ 657.632 de fundo (37,76% do total do partido no Estado); Foletto recebeu R$ 1,3 milhão (20%). Mas, se considerarmos que no partido de Foletto há o candidato ao governo do Estado, Renato Casagrande, e excluindo o valor recebido por ele do fundo, o deputado recebeu 59% do fundo.>
Outros três deputados votaram a favor do fundo. São eles: Helder Salomão (PT), Lelo Coimbra (MDB) e Givaldo Vieira (PCdoB). >
Salomão recebeu R$ 900 mil do PT, que corresponde a 31% da verba do partido para os candidatos capixabas. Lelo recebeu R$ 1,5 milhão (38,1%); e Givaldo, R$ 982.106,81 (100% de tudo o que o PCdoB distribuiu para capixabas com o fundo).>
Marcus Vicente (PP) e Sérgio Vidigal (PDT) não votaram a proposta do fundo. Eles não estavam presentes na sessão no dia da votação na Câmara dos Deputados. Para a campanha eleitoral deste ano Marcus Vicente recebeu R$ 983.981 (56,50% da verba do partido no Estado) e Vidigal, R$ 500 mil (83,33%). Outra que não votou foi a senadora Rose de Freitas (Podemos), que disputa o governo do Estado nesta eleição. Ela recebeu R$ 1 milhão via fundo eleitoral (100% do repassado pelo partido). >
O OUTRO LADO>
Os parlamentares capixabas que votaram contra o fundo eleitoral se posicionaram sobre o uso do recurso. Entre eles, a opinião diverge. Enquanto uns afirmaram que vão repassar esse dinheiro para outros candidatos, outros dizem que vão usar para não ficar em desvantagem com outros concorrentes.>
Dos candidatos ouvidos pela reportagem do Gazeta Online, apenas o deputado federal e candidato a governador Carlos Manato (PSL) disse não vai usar o benefício. Ele alega que o dinheiro não está sendo utilizado em sua campanha para governador e que encaminhou a quantia para as despesas das candidaturas a deputados de seu partido.>
O senador Magno Malta, que à época da votação chamou a criação do fundo de "cachorrada", afirma que foi voto vencido, mas está seguindo a legislação e vai doar parte do recurso para outros candidatos do partido.>
Evair de Melo afirmou que sempre defendeu o financiamento privado de campanha e que se pudesse repassaria todo o recurso para serviços essenciais. Mas afirmou que vai aplicar o recurso nestas eleições e, se reeleito, quer defender mudanças e voltar com o financiamento empresarial.>
Para Norma Ayub, o fundo não é a melhor forma de custear uma campanha, mas pontua que não há outra escolha para os candidatos e que vai usá-lo para não ficar em desvantagem em relação aos concorrentes.>
Os deputados federais Jorge Silva e Paulo Foletto, e também o senador Ricardo Ferraço foram procurados para justificar o uso do recurso do fundo, mas não deram retorno até o fechamento desta edição.>
DINHEIRO PÚBLICO EM CAMPANHAS>
FUNDO ELEITORAL>
O Fundo Especial de Financiamento de Campanha, conhecido como fundo eleitoral, foi criado para compensar o fim do financiamento de empresas nas eleições. O fundo, que soma R$ 1,7 bilhão, é abastecido com dinheiro público. Aprovado em 2017, a verba é dividida entre 35 partidos registrados na Justiça Eleitoral. De acordo com a legislação, os recursos não utilizados têm que ser devolvidos ao Tesouro Nacional até o fim do ano. Nestas eleições, o partido Novo optou por não fazer o uso do fundo.>
FUNDO PARTIDÁRIO>
O Fundo Partidário é abastecido com recursos públicos. É recebido mensalmente e usado para manter a estrutura dos partidos. Em 2018, o Orçamento da União reservou R$ 888,7 milhões para o Fundo. O dinheiro é distribuído de forma proporcional à bancada dos partidos no Congresso. Cada partido deve reservar ao menos 20% para manter suas fundações (institutos de pesquisa e formulação ideológica) e outros 5% para promover as mulheres na política. Parte do dinheiro também pode ser usada nas eleições.>
DIVISÃO>
Os partidos têm privilegiado políticos com mandato, inclusive deputados e senadores, na hora de distribuir os recursos para a campanha. Assim, além de mais visibilidade, eles ainda contam com essa "ajuda".>
ERRAMOS>
Diferentemente do que havia sido publicado anteriormente, os deputados federais Sérgio Vidigal (PDT) e Marcus Vicente (PP) não votaram a favor da criação do fundo eleitoral. Os dois não estavam presentes no dia da votação na Câmara dos Deputados, em 5 de outubro de 2017.>
Vidigal, à época, estava afastado do trabalho parlamentar em decorrência de um acidente sofrido poucos dias antes da votação, em 1º de outubro de 2017. >
Já Marcus Vicente se ausentou da votação para cumprir uma missão, com autorização da Câmara, em compromissos da Seleção Brasileira de futebol, já que o deputado é vice-presidente da Confederação Brasileira de Futebol (CBF). O parlamentar foi o chefe da delegação brasileira nos jogos contra Bolívia, em La Paz, e Chile, em São Paulo, pelas eliminatórias da Copa do Mundo.>
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