Publicado em 19 de outubro de 2021 às 16:13
A decisão do CNMP (Conselho Nacional do Ministério Público) de aplicar a pena de demissão ao procurador que bancou em Curitiba um outdoor em homenagem à Operação da Lava Jato tem sido considerada desproporcional por colegas de Diogo Castor de Mattos e sua própria defesa, que tentará reverter a situação. >
Apesar disso, há um entendimento de que não é o momento de enfrentar o conselho em meio à votação de uma PEC (proposta de emenda à Constituição) que altera a sua composição e, na prática, dá mais poder ao Congresso no colegiado. >
Castor de Mattos foi membro da antiga força-tarefa de Curitiba e cedeu recursos para a propaganda colocada na saída do aeroporto da capital paranaense no início de 2019, por ocasião dos cinco anos da investigação. >
"Bem-vindo a República de Curitiba. Terra da Operação Lava Jato, a investigação que mudou o país. Aqui a Lei se cumpre", afirmava o outdoor. >
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Por 6 votos a 5, o plenário do CNMP entendeu nesta segunda-feira (18) que o procurador cometeu ato de improbidade administrativa. Segundo o entendimento, a infração impõe a pena de demissão. >
Para que haja demissão, no entanto, o procurador-geral da República, Augusto Aras, ainda precisa designar um procurador para ajuizar ação de perda de cargo. >
"Não é que a situação não tenha ocorrido nem que não seja grave. Mas não é grave o suficiente para uma demissão", afirma o presidente da ANPR (Associação Nacional dos Procuradores da República), Ubiratan Cazetta. >
"A dimensão [do fato] não é proporcional ao tamanho da pena. Isso causa um mal muito grande quando entra no casuísmo, por ele estar vinculado à legenda da Lava Jato. Não é um sinal de funcionamento do sistema, mas de disfuncionamento", afirma Cazetta. >
No processo, Castor de Mattos afirmou que à época estava com problemas de natureza psiquiátrica, que resultaram no seu afastamento das atividades. >
Para ele, era injusto os ataques contra os trabalhos desenvolvidos pela força-tarefa e uma pessoa que integrava movimento de apoio à operação o procurou para financiar uma divulgação para "elogiar e levantar o 'moral' do grupo". Ele pagou pela divulgação, com recursos próprios, cerca de R$ 4.000. >
O procurador não afirmou ter contratado a publicidade em seus modelos finais, mas apenas bancado com os seus recursos. >
A defesa dele tem frisado que o dinheiro doado foi privado, que a contratação do outdoor foi feita por terceiros e que Castor de Mattos nunca foi punido antes pelo CNMP, e, portanto, ele deveria ter uma punição mais branda, como suspensão. >
"Diogo Castor nunca esteve em julgamento, quem esteve em julgamento é a Operação Lava Jato. Diogo usou recursos privados e fez doação a uma pessoa da sociedade civil, e isso não constitui improbidade administrativa", afirma Alexandre Vitorino Silva, seu advogado. >
As opções para Castor de Mattos passam agora por recursos que ele pode apresentar no próprio CNMP e também ao STF (Supremo Tribunal Federal). >
Uma das possibilidades da defesa é aguardar a sanção pelo presidente Jair Bolsonaro da nova lei de improbidade administrativa, que menciona proibição a autopromoções que usem "recursos do erário". >
Para a defesa, há entendimentos de tribunais superiores de que essa nova lei pode ser considerada retroativa, por ser mais benéfica a acusados. >
A decisão do CNMP contra Castor de Mattos gerou reações tímidas de procuradores nas redes sociais, que estão concentrados em campanha contra a aprovação da PEC no Congresso. A previsão é a de que ela seja votada ainda nesta terça (19) no plenário da Câmara. >
Alguns deles também trataram a decisão do conselho como desproporcional. Deltan Dallagnol, que coordenou a força-tarefa de Curitiba, não mencionou o caso em suas publicações no Twitter e no Instagram. >
Especialista em direito público consultada pela reportagem também vê desproporcionalidade na decisão do conselho, à véspera da votação da PEC. >
Segundo Vera Chemim, advogada constitucionalista e mestre em direito público pela FGV, outros casos mais graves não foram punidos com o mesmo rigor. >
"Trata-se de uma questão de bom senso e equilíbrio que foi substituída pelo afã de escolher aquele procurador, como forma de dar o exemplo oportuno e conveniente de sua imparcialidade e apreço aos dispositivos constitucionais e à legislação existente sobre o tema", afirma. >
Segundo ela, existem divergências de entendimento se uma eventual demissão de Castor de Mattos também irá fazer com que ele perca a aposentadoria. >
No CNMP, o corregedor nacional Rinaldo Reis Lima e o conselheiro Sílvio Amorim Júnior propuseram a conversão da pena em suspensão - o primeiro sugeriu 90 dias, e o segundo, 16. Contudo, foram vencidos na discussão sobre a possibilidade de aplicação dessa pena. >
O conselheiro Amorim Júnior afirmou que considerava atenuantes o fato de o procurador sofrer, à época dos fatos, de grave quadro depressivo, além de ter admitido o pagamento pelo outdoor. >
A conselheira Fernanda Santos, relatora do caso, entendeu, porém, que a norma não permitiria a conversão da pena em casos em que o cometimento de improbidade administrativa foi reconhecido. >
"Entendo que o ato foi grave pelos danos ao Ministério Público como um todo", afirmou ela. >
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