SÃO PAULO - A 23ª edição da Parada do Orgulho LGBT de São Paulo assumiu o caráter de movimento político e de oposição ao governo Jair Bolsonaro. Resistência é a palavra mais repetida entre os participantes do evento, que teve início por volta do meio-dia neste domingo, 23. Expectativa dos organizadores é a de reunir 3 milhões de pessoas na Avenida Paulista.
Ainda na concentração da parada, a deputada federal Sâmia Bomfim (PSOL) puxou uma vaia contra o presidente. Além de críticas ao governo, a Parada também reforçou a defesa da decisão do STF que criminalizou a homofobia. Gritos de Lula Livre também foram ouvidos no início do evento.
Os primeiros discursos oficiais reforçaram o tom político. A ex-prefeita de São Paulo e senadora Marta Suplicy afirmou que essa é a mais importante Parada da história. É a luta contra todo o retrocesso civilizatório que tem se apresentado, completou Marta.
O deputado federal David Miranda (PSOL) também reforçou a ideia de que a Parada é um movimento político. Esse é um movimento contra um projeto de poder que atenta contra as nossas vidas. Uma Parada que ganha mais importante porque temos um presidente declaradamente homofóbico, afirmou.
O prefeito Bruno Covas chegou ao vão livre do Masp por volta das 13h15. Em entrevista coletiva, Covas disse ser importante que a cidade de São Paulo continue sendo palco de manifestações contra ou a favor do governo - ressaltando que no mesmo feriado aconteceram a Marcha para Jesus e agora a Parada LGBT.
Sobre as críticas ao governo federal e o presidente Jair Bolsonaro, Covas não quis se aprofundar, mas voltou a repetir críticas sobre a demissão de diretores do Banco do Brasil por contratarem atores e atrizes da comunidade LGBT para um comercial. A gente espera que isso não seja uma política de governo.
Prefeito
O prefeito afirmou que a cidade de São Paulo celebra a diversidade e que pretende ser referência mundial em termos de direitos humanos.
Entre os participantes, muitas famílias que foram ao evento para apoiar filhos e amigos. É a minha primeira vez . Eu era uma pessoa com muitos preconceitos. Meu filho me ensinou a ver a vida de outro jeito. Hoje estou aqui para apoiá-lo", comentou Lourdes Fragoso, de 66 anos.
A transexual Vanessa Leite, de 30 anos, levou a mãe para a parada LGBT. Minha mãe é uma mulher evoluída. Ela não é juíza de ninguém. E me apoia, disse. Já Erundina Moreira, de 70 anos, mãe de Vanessa, retribuía a admiração da filha. Tenho muito orgulho. Não admito que nenhum preconceituoso chegue sequer perto de mim.
Sou hétero, mas estou aqui pelos meus amigos. Vivemos um período de perseguição e violência contra a comunidade gay. Não vou soltar a mão deles. Mexeu com eles, mexeu comigo", falou o engenheiro Hernandes Souza, de 32 anos.
A estudante Luciana Santos, de 22 anos, exibia uma camisa com a mensagem: A única cura que eu quero é a do câncer. Segundo ela, a política hoje obriga todo mundo a defender o óbvio: A gente precisa lutar para explicar que homofobia é crime, que cura gay é um absurdo e que a terra é plana, enumera.
Os vendedores que atuam na Avenida Paulista também se adaptaram ao evento. Canecas, chocolates e adereços com referências às cores do arco-íris estiveram em alta. Além disso, os próprios ambulantes se adaptaram. Eu votei no Bolsonaro, mas não tenho nada contra ninguém. É preciso garantir o sustento da família, disse o ambulante Jorge Amadeus, de 40 anos, que vendia adereços para a cabeça.
Depois dos primeiros discursos, a Parada ganhou ares de festa. Com a música alta, a Avenida Paulista e a Rua da Consolação viraram uma balada. Dançar e beijar na boca também é político, gritou um rapaz para a reportagem - que tentou, mas não conseguiu ouvir o nome dele.
No posto médico, na Paulista, a maioria dos casos de atendimento era decorrente de excesso de consumo de bebidas alcoólicas. A reportagem flagrou duas pessoas procurando postos policiais para reclamar de furto de celular. Até o momento, a polícia não apresentou um balanço das ocorrências, mas policiais dizem que a impressão é de muitos casos de furto de celular.
Atrações
A Parada conta com 19 trios elétricos e a participação de uma ex-integrante do grupo Spice Girls. A concentração ainda acontece na frente do Museu de Arte de São Paulo (Masp). Em seguida, a passeata desce a Rua da Consolação até a Praça Roosevelt.
Para esta edição, a atração mais aguardada é o show da cantora Melanie C, ex-Spice Girl. Também estão confirmadas Aretuza Lovi, Gloria Groove, Iza, Lexa, Luísa Sonza e MC Pocahontas.
Às 19 horas, um palco montado na Praça da República receberá shows. O tema deste ano é "50 anos de Stonewall - nossas conquistas, nosso orgulho de ser LGBT+". Ele relembra a série de manifestações da comunidade LGBT contra batidas violentas da polícia de Nova York em um bar, o Stonewall Inn, no fim da década de 1960.
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