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Moraes diz que Justiça não aceitará coação após EUA sancionarem sua esposa

Moraes diz que Justiça não aceitará coação após EUA sancionarem sua esposa

Alvo da Lei Magnitsky desde julho, ministro do STF se pronuncia pela 1ª vez após anúncio de sanções financeira contra Viviane Barci

Publicado em 22 de setembro de 2025 às 17:59

BRASÍLIA - O ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal), afirmou nesta segunda-feira (22) que o Judiciário não aceitará coação nem abrirá espaço para impunidade diante da sanção financeira imposta pelo governo Donald Trump contra sua esposa.

"A ilegal e lamentável aplicação da Lei Magnistsky à minha esposa não só contrasta com a história dos Estados Unidos da América, de respeito à lei e aos direitos fundamentais, como também violenta o Direito Internacional, a Soberania do Brasil e a independência do Judiciário", disse Moraes, em nota.

"Independência do Judiciário, coragem institucional e defesa à Soberania nacional fazem parte do universo republicano dos juízes brasileiros, que não aceitarão coações ou obstruções no exercício de sua missão constitucional conferida soberanamente pelo Povo brasileiro", completou.

Ministro Alexandre de Moraes durante julgamento de Bolsonaro no STF
Moraes disse que cumprirá missão constitucional de julgar com independência e imparcialidade Crédito:  Rosinei Coutinho/STF

O ministro ainda afirmou que as instituições brasileiras são fortes e sólidas e que não há "possibilidade constitucional de impunidade, omissão ou covarde apaziguamento".

"Como integrante do Supremo Tribunal Federal, continuarei a cumprir minha missão constitucional de julgar com independência e imparcialidade", disse.

A declaração escrita de Moraes foi a primeira feita pelo ministro desde que o governo Donald Trump incluiu sua esposa, Viviane Barci de Moraes, na lista de sancionados pela Lei Magnitsky na manhã desta segunda (22).

O Supremo também divulgou um comunicado. O tribunal diz que a sanção financeira contra Viviane é injusta e baseada em narrativas falsas.

"Infelizmente, as autoridades norte-americanas foram convencidas de uma narrativa que não corresponde aos fatos: estamos diante de um julgamento que respeitou o devido processo legal e o amplo direito de defesa, com total publicidade", afirma em nota.

Segundo o Supremo, quase toda a população brasileira reconhece a "importância histórica de um julgamento e punição por uma tentativa de golpe de Estado".

"Se já havia injustiça na sanção a um juiz pela sua atuação independente e dentro das leis e da Constituição, ainda mais injusta é ampliação das medidas para um familiar do magistrado", completa.

O governo Donald Trump incluiu Viviane Barci de Moraes e o instituto que pertence à família do ministro do STF na lista de sancionados pela Lei Magnitsky.

Um pouco mais tarde, o ministro Flávio Dino, importante apoio de Moraes na corte, publicou nas redes sociais uma manifestação de solidariedade a Moraes e sua esposa.

Na publicação, ele afirmou haver admiração às instituições jurídicas dos Estados Unidos, sobretudo à Suprema Corte e disse esperar por uma resposta do Judiciário do país.

"Temos uma tradição de admiração às instituições jurídicas dos Estados Unidos, especialmente à sua Suprema Corte. Espero que essas mesmas instituições saibam iluminar os caminhos de tão importante Nação, consoante o Direito Internacional, em direção ao respeito à nossa soberania e às famílias brasileiras", afirmou.

"Lamento que séculos de boas relações culturais entre Brasil e Estados Unidos estejam sendo atingidos de modo tão absurdo", disse.

A punição, que já havia sido aplicada ao magistrado no fim de julho, foi estendida depois de bolsonaristas apontarem que Viviane seria importante braço financeiro da família.

A Lei Magnitsky prevê que pode ser incluído no rol de sancionados quem colaborar com as condutas condenadas pelos EUA.

Por meio da decisão, o governo americano determina o congelamento de qualquer bem ou ativo que a pessoa sancionada tenha nos Estados Unidos e também pode proibir entidades financeiras americanas de fazerem operações em dólares com ela. A medida incluiria o uso das bandeiras de cartões de crédito Mastercard e Visa, por exemplo.

Ao responder por que Viviane foi incluída na Lei Magnitsky, o secretário do Tesouro dos EUA, Scott Bessent, comparou Moraes e Viviane ao casal de criminosos Bonnie e Clyde, que atravessou os EUA no período da Grande Depressão cometendo crimes.

"Não há Clyde sem Bonnie", afirmou Bessent, segundo a agência Reuters.

O casal Bonnie e Clyde cruzou o sul dos EUA nos anos 1930 assaltando bancos, roubando carros e matando policiais. Seus nomes viraram presença frequente na imprensa. Foram mortos a tiros por um destacamento de policiais em Louisiana em maio de 1934.

Bessent afirmou também que Moraes "é responsável por uma campanha opressiva de censura, detenções arbitrárias e processos politizados", incluindo Bolsonaro, e que a sanção desta segunda-feira deixa claro que o governo americano seguirá mirando pessoas que derem suporte ao magistrado.

O Departamento de Estado também divulgou nota destacando as sanções ao entorno do ministro e dizendo que quem protege "atores estrangeiros malignos como Moraes ameaçam os interesses dos EUA e também serão responsabilizados".

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