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Montagem de 2018 volta a circular para atacar sistema eletrônico de votação

Montagem de 2018 volta a circular para atacar sistema eletrônico de votação

É falsa uma imagem de um suposto Boletim de Urna que seria uma evidência de fraude nas eleições presidenciais de 2018, ao mostrar 9.909 votos no então candidato Fernando Haddad (PT) enquanto registra 777 eleitores aptos e 452 votos nominais.

Publicado em 20 de julho de 2022 às 09:39

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Passando a Limpo: Montagem de 2018 volta a circular para atacar sistema eletrônico de votação
A imagem é uma montagem e circula desde 2018, tendo sua veracidade desmentida pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) à época e também agora, quando voltou a circular nas redes sociais. (Divulgação/Comprova)

Conteúdo investigado: Postagem no Twitter chama atenção para a disparidade de números em um Boletim de Urna de 2018: 9.909 votos em Haddad, o que seria impossível, já que o documento mostra 777 eleitores aptos na seção e 452 votos nominais. Os dados, marcados na imagem, seriam prova de fraude, como afirma o texto: “FRAUDE 2018 VAI VENDO BRASIL”.

Onde foi publicado: Twitter e Kwai.

Conclusão do Comprova: É falsa a postagem que mostra imagem adulterada de um boletim real de votação na cidade de Nagóia, no Japão, após o primeiro turno das eleições presidenciais de 2018. O conteúdo manipulado altera os números de votos para os então candidatos Fernando Haddad, Jair Bolsonaro e Geraldo Alckmin (PSDB) para afirmar, falsamente, que houve fraude na eleição.

O conteúdo, que foi desmentido em 2018 pelo próprio Comprova e diversos outros veículos, voltou a circular agora, sendo desmentido novamente, inclusive pelo TSE, que voltou a apontar manipulação de dados.

Falso, para o Comprova, é todo o conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma falsidade.

Alcance da publicação: Até o dia 18 de julho, o tuíte tinha quatro mil interações. O conteúdo foi marcado como informação falsa pelo Twitter, que bloqueou as funções de curtir, compartilhar ou comentar. Já no Kwai, foram 516 visualizações.

O que diz o autor da publicação: O perfil no Twitter não permite o envio de mensagens. A conta posta conteúdo de apoio a Jair Bolsonaro e retuitou por várias vezes a postagem falsa aqui verificada, com o texto: “Derrubaram? POSTO DE NOVO”.

Como verificamos: O Comprova localizou checagens de 2018 (ComprovaG1UOLTribunal Regional Eleitoral-MTFolha de S.Paulo e Terra) e deste mês (AFP ChecamosEstadão Verifica e Boatos.org) sobre a mesma imagem: todas com a conclusão de que houve manipulação com o objetivo deliberado de atacar, a partir de informação falsa, o sistema eletrônico de votação.

Também foram consultadas informações no site do TSE, que, procurado novamente pelo Comprova, reafirmou que o conteúdo é uma fraude.

Números foram adulterados em boletim

A imagem compartilhada na postagem falsa, feita em 13 de julho, circula desde 2018, quando a disputa eleitoral para a Presidência da República foi marcada por ataques à lisura do sistema eletrônico de votação, o que também acontece agora. Na época, o Comprova mostrou que a imagem era falsa e tinha sofrido adulteração.

Os números referentes a Haddad foram alterados de 0009, como mostra foto do documento original obtido pelo Comprova, para 9909. Já os votos em Jair Bolsonaro, também candidato à época, tiveram o número manipulado de 0372 para 0000.

Passando a Limpo: Montagem de 2018 volta a circular para atacar sistema eletrônico de votação
Imagem do documento original fornecida pelo TSE. (Divulgação/Comprova)

A fraude também foi mostrada, à época, pelo Fato ou Fake, do G1, e agora, pela AFP Checamos, quando volta a circular. À agência, o TSE reafirmou que o conteúdo se trata de fraude.

“Trata-se de reprodução adulterada de boletim oficial, que apresenta os mesmos códigos de verificação mostrados na imagem e que foi publicado pela Justiça Eleitoral”, disse o TSE à AFP.

À época em que o conteúdo falso circulou pela primeira vez, os códigos de verificação do boletim, que não foram adulterados, permitiram a localização do boletim real. Nele, é possível encontrar diversas outras correspondências com a imagem manipulada, como data, horário de fechamento, ordem dos candidatos na lista de votação, os números de eleitores aptos, total de votos nominais, brancos e nulos etc.

O boletim real se refere à votação na cidade de Nagoia, no Japão, e pode ser consultado no site do TSE. Os dados reais são: 0009 votos em Haddad e 0372 em Jair Bolsonaro. Na imagem adulterada, os votos em Geraldo Alckmin também foram modificados, de 0011 para 0000.

A inscrição 0000, como também aparece para Bolsonaro no conteúdo manipulado, é mais uma evidência de que a imagem foi alterada, já que, como informou o TSE ao Comprova, os boletins de urna não exibem nomes de candidatos que não receberam votos.

TSE reafirma ao Comprova que conteúdo sofreu montagem

Procurado novamente pelo Comprova, o TSE reafirmou que a imagem “trata-se de reprodução adulterada de boletim oficial, que apresenta os mesmos códigos de verificação mostrados na imagem e que foi publicado pela Justiça Eleitoral”.

No e-mail, o TSE ainda acrescenta outro indício de manipulação na imagem: “Os dígitos 9 estão desalinhados do resto dos números, o que sugere alteração digital da foto”.

Em anexo, encaminhou novamente o boletim real.

Por que investigamos: O Comprova investiga conteúdos suspeitos que viralizam na internet e estão relacionados com as eleições presidenciais, a realização de obras públicas e a pandemia da covid-19. Depois de ter sido desmentido em 2018, o conteúdo aqui verificado volta a circular com o intuito de tumultuar o processo eleitoral em andamento, uma prática adotada pelo presidente e candidato à reeleição Jair Bolsonaro e seus apoiadores.

Outras checagens sobre o tema: O Comprova, o G1, a AFP Checamos, o Estadão Verifica, o Boatos.org, o UOL, o Tribunal Regional Eleitoral-MT, a Folha de S.Paulo, e o portal Terra foram alguns dos sites que desmentiram a informação, em 2018 e agora.

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Em relação às urnas eletrônicas, o Comprova já realizou diferentes checagens como a da contagem de votos feita pelo TSE e não por empresa terceirizada, como afirmava post. Também, recentemente, o Comprova verificou que não há dispositivo nas urnas eletrônicas capaz de alterar votação, ao contrário do que dizia conteúdo. No ano passado, outra checagem do Comprova apurou que urnas eletrônicas brasileiras não foram hackeadas nos EUA.

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