Publicado em 21 de maio de 2020 às 19:15
Após receber críticas pela falta de assinaturas e de referência a especialistas no documento que amplia o uso da cloroquina, o Ministério da Saúde divulgou nesta quinta-feira (21) uma nova versão do documento com o nome de todos os secretários da pasta.>
O texto é assinado por sete secretários do ministério, sendo que quatro são substitutos.>
Também houve mudanças nas dosagens indicadas, maior detalhamento em trecho que citava sinais de gravidade pela Covid-19 e reforço nas orientações para acompanhamento com eletrocardiograma.>
As novas orientações para uso de cloroquina foram divulgadas nesta quarta-feira (20), após exigência do presidente Jair Bolsonaro, que vinha pressionando pela ampliação da oferta do medicamento, na contramão das evidências científicas atuais.>
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O documento prevê o uso de cloroquina ou hidroxicloroquina associado a azitromicina para pacientes em todos os estágios da Covid-19, incluindo casos leves. Até então, o ministério previa uso apenas em pacientes graves ou críticos, monitorados em hospitais.>
O próprio texto, porém, reconhece que não há evidências suficientes de eficácia, e o termo de consentimento do paciente cita risco de agravamento da condição clínica.>
Versão inicial do documento divulgado na quarta-feira também não trazia assinaturas.>
A medida ia na contramão de outros documentos da pasta, como as diretrizes anteriores de tratamento --a qual trazia, além da assinatura de secretários, uma lista de especialistas consultados e que ajudaram na elaboração.>
Agora, o nome dos secretários foi incluído.>
Houve ainda outras mudanças, como a dosagem indicada para casos leves (que passou de 450 mg de cloroquina para 500 mg de difosfato de cloroquina) e reforço para eletrocardiograma.>
Antes, o documento orientava apenas "realizar monitoramento eletrocardiográfico". Agora, passa a citar a necessidade de exames no primeiro, no terceiro e no quinto dia do uso do medicamento.>
A pasta também retirou a referência ao termo "tratamento" no título do documento, que passou a ser nominado "Orientações para manuseio medicamentoso precoce de paciente com diagnóstico de Covid-19".>
Em nota, o Ministério afirma que o documento vinha sendo discutido no âmbito do ministério pela equipe técnica.>
"Para deixar clara a participação e o envolvimento de todas as secretarias, os titulares das pastas assinaram o documento ainda na quarta-feira (20)", informou. Embora traga a assinatura de secretários, a ampliação da oferta do medicamento enfrentou resistência dentro do ministério.>
Secretário de ciência e tecnologia, o médico e biofísico Antônio Carlos de Carvalho descartou participar da elaboração das novas orientações e pediu demissão na segunda-feira (18). O documento traz a assinatura de Vania Santos, que ficou como substituta.>
Em entrevista à Folha, Carvalho confirma que a pressão para mudança no protocolo colaborou para a saída. Para ele, a medida foi precipitada e pode trazer riscos graves à saúde. "Se induzir arritmia em um paciente propenso, isso pode levar inclusive a óbito.">
A ordem das assinaturas também chama a atenção. Áreas que seriam consideradas mais próximas do tema, como a secretaria de ciência e tecnologia, aparecem depois de outras mais afastadas dessa decisão, como saúde indígena.>
A secretária de gestão do trabalho e educação na Saúde, Mayra Pinheiro, responsável na pasta por ações de capacitação de profissionais, foi uma das coordenadoras do novo documento.>
Em coletiva nesta quarta-feira (20), ela justificou a mudança a um "clamor da sociedade".>
Pinheiro confirmou que a nova orientação não foi analisada pela Conitec, comissão que analisa a incorporação de medicamentos no SUS.>
Ela justificou a falta de avaliação pelo fato de que os remédios já são usados para outras doenças. Em geral, porém, o comitê costuma ser consultado também para mudanças de indicações de uso.>
"Estamos falando de disponibilizar uma orientação. Essas medicações já passaram pela Conitec em outras fases. Estamos falando de uma guerra onde precisamos disponibilizar o direito que é clamado por brasileiros", disse.>
Pinheiro também negou que o documento seja um protocolo, mas apenas orientações. A oferta, assim, ficará a critério médico.>
"O protocolo precisa ser algo cartorial, e normalmente com obrigação de 'cumpra-se'. O que estamos fazendo é uma orientação, a partir da liberação do Conselho Federal de Medicina, de que médicos brasileiros possam ter livre-arbítrio para prescrever", afirmou.>
Estudos recentes internacionais, publicados em revistas científicas de prestígio, no entanto, não mostraram benefícios do uso da cloroquina em reduzir internações e mortes e apontaram riscos cardíacos.>
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