Publicado em 11 de novembro de 2021 às 18:02
Após o plenário do STF (Supremo Tribunal Federal) ter mantido a proibição ao pagamento das emendas de relator a deputados e senadores, o presidente da Câmara, Artur Lira (PP-AL), defendeu nesta quinta-feira (11) um projeto para tornar o mecanismo mais transparente. >
"Decisão não se comenta, decisão se cumpre e se contesta. Há uma discussão e ela é transversal a respeito desse assunto. Ela tem uma narrativa, e a nós só vai caber esclarecer mais ainda, com mais transparência, propondo o que pode ser possível com um projeto de lei que altera a resolução zero um para ficar mais transparente", afirmou.>
Aliado do governo Jair Bolsonaro, ele também afirmou que seria um retrocesso deixar o comando das emendas só com o Executivo. "Aí sim que nem a imprensa, nem os deputados, nem a população saberão da discricionariedade", disse.>
As declarações foram feitas na tarde desta quinta em Lisboa, após o presidente da Câmara participar de um evento de comemoração dos 25 anos da CPLP (Comunidade dos Países de Língua Portuguesa) organizado por políticos brasileiros.>
>
Lira pediu confiança para que os parlamentares esclareçam os pontos criticados.>
"Neste momento, em vez de se criticar o que tecnicamente não se conhece, é importante que se dê oportunidade ao Parlamento, que sempre foi aberto, que modifica a vida das pessoas com essas emendas, a chance de explicar e de deixar este debate mais claro, sem politizá-lo como tudo que vem acontecendo no Brasil.">
Incluída no Orçamento de 2020 pelo Congresso, a chamada emenda do relator é atualmente a principal moeda de troca do governo nas votações importantes. A verba disponível neste ano é de R$ 16,8 bilhões.>
Aliados do Planalto, incluindo o presidente da Câmara, têm usado estes recursos para privilegiar interesses políticos, ampliando a base de apoio do governo na Casa.>
Na última quarta-feira (10), o plenário do Supremo decidiu, por 8 votos a 2, manter a decisão monocrática proferida pela ministra Rosa Weber na semana passada, que determinava a proibição do repasse dessas verbas.>
Agora, os parlamentares debatem o que fazer após a decisão. Além do projeto mencionado por Lira, há outras alternativas.>
Uma das estratégias discutidas é alterar a classificação do dinheiro previsto nessa verba para uma outra classificação dentro do Orçamento: a chamada RP2, que é o código de despesas do governo.>
Se isso acontecer, o dinheiro de emendas ficaria na mesma conta das verbas normais de funcionamento da máquina pública, sem nem ser tornado público o valor negociado com parlamentares.>
"Se houver uma reversão, para o RP2, por exemplo, que volta para o comando do Executivo, aí sim que nem a imprensa, nem os deputados, nem a população saberão da discricionariedade do Poder Executivo. Ele vai dar a quem ele quiser atender, com quanto ele quiser atender, quando quiser atender", disse Lira.>
A cada ano, o governo tem que enviar ao Congresso até o final de agosto um projeto de lei com a proposta do Orçamento Federal para o ano seguinte. Ao receber o projeto, congressistas têm o direito de direcionar parte da verba para obras e investimentos de seu interesse. Isso se dá por meio das emendas parlamentares.>
As emendas parlamentares se dividem em:>
Emendas individuais: apresentadas por cada um dos 594 congressistas. Cada um deles pode apresentar até 25 emendas no valor de R$ 16,3 milhões por parlamentar (valor referente ao Orçamento de 2021). Pelo menos metade desse dinheiro tem que ir para a Saúde>
Emendas coletivas: subdivididas em emendas de bancadas estaduais e emendas de comissões permanentes (da Câmara, do Senado e mistas, do Congresso), sem teto de valor definido>
Emendas do relator-geral do Orçamento: As emendas sob seu comando, de código RP9, são divididas politicamente entre parlamentares alinhados ao comando do Congresso e ao governo>
Antes de 2015>
A execução das emendas era uma decisão política do governo, que poderia ignorar a destinação apresentada pelos parlamentares>
Por meio da emenda constitucional 86, estabeleceu-se a execução obrigatória das emendas individuais, o chamado orçamento impositivo, com algumas regras:>
a) execução obrigatória até o limite de 1,2% da receita corrente líquida realizada no exercício anterior;>
b) metade do valor das emendas destinado obrigatoriamente para a Saúde>
c) contingenciamento das emendas na mesma proporção do contingenciamento geral do Orçamento. As emendas coletivas continuaram com execução não obrigatória>
O Congresso amplia o orçamento impositivo ao aprovar a emenda constitucional 100, que torna obrigatória também, além das individuais, as emendas de bancadas estaduais (um dos modelos das emendas coletivas)>
Metade desse valor tem que ser destinado a obras>
O Congresso emplaca ainda um valor expressivo para as emendas feitas pelo relator-geral do Orçamento: R$ 30 bilhões>
Jair Bolsonaro veta a medida e o Congresso só não derruba o veto mediante acordo que manteve R$ 20 bilhões nas mãos do relator-geral>
Valores totais reservados para cada tipo de emenda parlamentar:>
Emendas individuais (obrigatórias): R$ 9,7 bilhões>
Emendas de bancadas (obrigatórias): R$ 7,3 bilhões>
Emendas de comissão permanente: R$ 0>
Emendas do relator-geral do Orçamento (código RP9): R$ 16,8 bilhões>
Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rápido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem.
Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta