Publicado em 18 de janeiro de 2021 às 20:58
- Atualizado há 5 anos
O governo Jair Bolsonaro teme que os planos da Índia de priorizar a exportação de vacinas contra a Covid-19 para países vizinhos gere um novo atraso no lote de 2 milhões de doses de imunizantes contratados pelo Brasil. >
De acordo com a imprensa indiana, o país quer priorizar seu entorno geográfico na chamada "diplomacia da vacina". Os primeiros atendidos seriam Nepal, Butão, Bangladesh e Myanmar, entre outros. A expectativa de Nova Déli, de acordo com o jornal The Times of India, é que as primeiras exportações ocorram "nas próximas semanas".>
Pessoas no governo Bolsonaro que acompanham a negociação receberam com preocupação os informes da Índia, que podem sinalizar uma demora ainda maior na chegada das doses da Oxford/AstraZeneca ao Brasil. O material estava previsto para ser entregue pelo Serum Institute, um dos centros de produção da vacina vinculados à AstraZeneca.>
A aeronave que transportará a carga chegou a ficar pronta para decolar do aeroporto do Recife (PE), mas a falta de autorização dos indianos frustrou os planos do Palácio do Planalto de ter o lote no Brasil ainda no domingo (17). No mesmo dia, a vacina teve o seu uso emergencial liberado pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária).>
>
Com o fracasso da operação, Bolsonaro viu consolidada uma vitória política de seu provável rival em 2022, o governador de São Paulo, João Doria (PSDB). Fiador da Coronavac -desenvolvida por uma farmacêutica chinesa em parceria com o Instituto Butantan-, Doria liderou o ato da primeira vacinação no Brasil.>
Até o desembaraço da importação da Índia, o Ministério da Saúde só terá à disposição a Coronavac para imunizar os brasileiros.>
Em 8 de janeiro, o presidente enviou uma carta ao premiê indiano, Narendra Modi, pedindo urgência nos trâmites para o envio das vacinas. Dias depois, Araújo fez novas gestões junto ao chanceler do país, Subrahmanyam Jaishankar, mas tampouco conseguiu êxito.>
Nesta segunda (18), Bolsonaro recebeu em audiência no Palácio do Planalto o embaixador indiano em Brasília, Suresh Reddy. Horas depois do encontro, o ministro Eduardo Pazuello (Saúde) foi questionado sobre o tema, mas não deu prazo para o envio da carga.>
"O fuso horário é muito complicado. Estamos recebendo a sinalização de que isso deverá ser resolvido nos próximos dias desta semana", afirmou.>
Interlocutores destacam que existe um problema político que dificulta o aval. Grande polo produtor de vacinas, a Índia começou sua campanha de vacinação no sábado (16) e considera que o envio de imunizantes para o exterior pode ser percebido como uma falta de compromisso com a própria população.>
Pessoas que acompanham as negociações dizem trabalhar hoje com a expectativa de que a carga receba sinal verde de Nova Déli até o final do mês. A informação é de que o material está pronto e falta apenas a licença governamental para o embarque.>
Um dos pontos que os indianos têm pedido ao governo brasileiro é que haja mais discrição nas negociações, justamente para não acirrar os ânimos nacionalistas no país.>
A preocupação da Índia, no entanto, é difícil de ser cumprida, uma vez que as tentativas de compra das vacinas tiveram ampla divulgação pelo Palácio do Planalto.>
Além do mais, a aeronave da Azul destacada para a missão foi adesivada pelo Ministério da Saúde, e a intenção do Brasil de buscar os imunizantes ainda no final de semana recebeu destaque na imprensa da Índia.>
Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rápido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem.
Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta