Publicado em 29 de março de 2021 às 19:50
- Atualizado há 5 anos
Governadores de 16 estados divulgaram nesta segunda-feira (29) uma carta em que manifestam indignação contra uma onda de agressões e disseminação de fake news que tenta, segundo eles, criar instabilidade institucional nos estados e manipular policiais contra a ordem democrática.>
A manifestação acontece após a deputada Bia Kicis (PSL-DF), presidente da CCJ (comissão de Constituição e Justiça) da Câmara, publicar post em que chamou de herói o soldado da Polícia Militar da Bahia que fez disparos em ponto turístico de Salvador. A parlamentar, que também incitou um motim, apagou a mensagem, defendendo que o episódio seja investigado.>
Outro aliado do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), o ex-deputado Roberto Jefferson (PTB) também defendeu em uma live realizada no domingo (28) a criação de milícias para agredir fisicamente os guardas municipais que reprimem a abertura de comércio em cidades que estão sob lockdown por ordem dos governadores.>
A carta é assinada pelo governador da Bahia, Rui Costa (PT). Na noite de domingo, o soldado Wesley Soares foi baleado após ter passado cerca de quatro horas dando tiros para o alto e gritando palavras de ordem no Farol da Barra, um dos principais pontos turísticos de Salvador.>
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Ele foi atingido por tiros por volta das 18h30, após ter erguido um fuzil e disparado contra os colegas da PM que negociavam a sua rendição. O soldado chegou a ser socorrido por uma ambulância e levado para o Hospital Geral do Estado, mas não resistiu aos ferimentos morreu na noite deste domingo (28).>
No documento publicado nesta segunda (29), os governadores afirmam que estão lutando ao lado de servidores públicos e profissionais do setor privado para garantir apoio e atendimento à população diante da piora da pandemia.>
"Enquanto isso, alguns agentes políticos espalham mentiras sobre dinheiro jamais repassado aos estados, fomentam tentativas de cassação de mandatos, tentam manipular policiais contra a ordem democrática, entre outros atos absurdos", escrevem.>
"Registramos especialmente o nosso protesto quando são autoridades federais, inclusive do Congresso Nacional, que violam os princípios da lealdade federativa.">
A carta pede que Bolsonaro, os presidentes da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), e o presidente do STF (Supremo Tribunal Federal), Luiz Fux, tomem providências para coibir atos ilegais e imorais.>
"Os estados e todos os agentes públicos precisam de paz para prosseguir com o seu trabalho, salvando vidas e empregos", dizem. "Estimular motins policiais, divulgar fake news, agredir governadores e adversários políticos, são procedimentos repugnantes, que não podem prosperar em um país livre e democrático.">
Além de Rui Costa, assinam a carta os governadores de Maranhão, Flávio Dino (PCdoB); Pará, Helder Barbalho (MDB); Pernambuco, Paulo Câmara (PSB); São Paulo, João Doria (PSDB), Goiás, Ronaldo Caiado (DEM), Mato Grosso, Mauro Mendes (DEM); Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSDB); Ceará, Camilo Santana (PT); Paraíba, João Azêvedo (Cidadania); Espírito Santo, Renato Casagrande (PSB); Piauí, Wellington Dias (PT); Rio Grande do Norte, Fátima Bezerra (PT); Sergipe, Belivaldo Chagas (PSD); Mato Grosso do Sul, Reinaldo Azambuja (PSDB), e Amapá, Waldez Góes (PDT).>
A carta foi publicada em meio a uma tentativa de deputados bolsonaristas de incitarem policiais e a população a descumprirem ordens dadas por governadores e prefeitos.>
Na madrugada desta segunda, Kicis usou suas redes sociais para defender o soldado morto por colegas após surto psicótico em Salvador.>
"Soldado da PM da Bahia abatido por seus companheiros. Morreu porque se recusou a prender trabalhadores. Disse não às ordens ilegais do governador Rui Costa da Bahia", escreveu. "Esse soldado é um herói. Agora a PM da Bahia arou. Chega de cumprir ordem ilegal!">
Na manhã desta segunda, a deputada voltou às redes sociais para apagar o post e justificar a decisão. Kicis afirmou ter sido informada na madrugada que o PM morto durante o surto havia atirado para o alto e foi baleado por colegas.>
"As redes se comoveram e eu também. Hoje cedo removi o post para aguardarmos as investigações. Inclusive diante do reconhecimento da fundamental hierarquia militar", afirmou.>
Bia Kicis é investigada no inquérito das fake news e no que apura atos antidemocráticos. Assim como Bolsonaro, é crítica do isolamento social para evitar a propagação do novo coronavírus.>
Filho 03 do presidente Jair Bolsonaro, o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) também defendeu o PM morto pelos agentes do Bope.>
"Aos vocacionados em combater o crime, prender trabalhador é a maior punição. Esse sistema ditatorial vai mudar", disse. "Protestos pipocam pelo mundo e a imprensa já não consegue abafar. Estão brincando de democracia achando que o povo é otário. Que Deus conforte os familiares do PM-BA.">
Também nesta segunda, a Fenapef (Federação Nacional dos Policiais Federais) publicou nota de repúdio às declarações de Jefferson. "É impensável e inadmissível que uma pessoa que foi representante do povo incite a violência e defenda ações criminosas", afirma a nota.>
"As forças de segurança do País estão na linha de frente. Não pararam um dia sequer, mesmo em tempos de pandemia. E não é aceitável que um ex-representante do povo, que deveria compreender o que estabelece a lei ao invés de afrontá-la, se manifeste de maneira vil contra profissionais que estão fazendo seu trabalho.">
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