Publicado em 29 de março de 2021 às 12:01
- Atualizado há 5 anos
Após incitar um motim e chamar de herói um soldado da Polícia Militar da Bahia que foi morto após fazer disparos em um ponto turístico de Salvador, a deputada Bia Kicis (PSL-DF), presidente da principal comissão da Câmara, apagou o post e defendeu que o episódio seja investigado. >
Na madrugada desta segunda (29), Bia Kicis usou suas redes sociais para se manifestar sobre o soldado da PM que morreu após ser atingido por colegas policiais.>
Bia Kicis é investigada no inquérito das fake news e no que apura atos antidemocráticos. Assim como Bolsonaro, é crítica do isolamento social para evitar a propagação do novo coronavírus.>
O soldado Wesley Soares foi baleado no início da noite de domingo (28) após ter passado cerca de quatro horas dando tiros para o alto e gritando palavras de ordem no Farol da Barra, um dos principais pontos turísticos de Salvador.>
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Ele foi atingido por tiros por volta das 18h30, após ter erguido um fuzil e disparado contra os colegas da PM que negociavam a sua rendição. O soldado chegou a ser socorrido por uma ambulância e levado para o Hospital Geral do Estado, mas não resistiu aos ferimentos morreu na noite deste domingo.>
Bia Kicis, inicialmente, usou suas redes sociais para defender o soldado.>
"Soldado da PM da Bahia abatido por seus companheiros. Morreu porque se recusou a prender trabalhadores. Disse não às ordens ilegais do governador Rui Costa da Bahia", escreveu. "Esse soldado é um herói. Agora a PM da Bahia arou. Chega de cumprir ordem ilegal!">
Na manhã desta segunda, a deputada voltou às redes sociais para apagar o post e justificar a decisão. Bia Kicis afirmou ter sido informada na madrugada que o PM morto durante o surto havia atirado para o alto e foi baleado por colegas.>
"As redes se comoveram e eu também. Hoje cedo removi o post para aguardarmos as investigações. Inclusive diante do reconhecimento da fundamental hierarquia militar", afirmou.>
O comandante da Polícia Militar da Bahia, coronel Paulo Coutinho, afirmou nesta segunda-feira (29) que a PM só atirou contra o soldado que protestou no Farol da Barra após ter sido alvo de disparos de fuzil.>
O comandante da PM afirmou que as esquipes que conduziram a negociação seguiram os protocolos internacionais de gerenciamento de crises, mas acabaram reagindo após terem sido atacados com tiros de fuzil, arma de alta letalidade.>
"Não obstante todos os recursos que nós utilizamos de isolamento e contenção, ele direcionou essa arma para a tropa e efetuou disparos que poderiam ter atingido mortalmente não só policiais militares, mas também da comunidade", afirmou o coronel Paulo Coutinho em entrevista à imprensa.>
Filho 03 do presidente Jair Bolsonaro, o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) também defendeu o PM morto pelos agentes do Bope.>
"Aos vocacionados em combater o crime, prender trabalhador é a maior punição. Esse sistema ditatorial vai mudar", disse. "Protestos pipocam pelo mundo e a imprensa já não consegue abafar. Estão brincando de democracia achando que o povo é otário. Que Deus conforte os familiares do PM-BA.">
A reação inicial da deputada gerou fortes críticas de colegas parlamentares. O senador Angelo Coronel (PSD-BA) afirmou ser um "absurdo uma parlamentar querer politizar um fato dessa natureza".>
Ele disse ainda que a presidente da CCJ (Comissão de Constituição e Justiça da Câmara) faltava com a verdade ao dizer que a PM parou. "Precisamos nos unir em busca de salvar vidas imunizando o povo brasileiro com mais celeridade. O momento não comporta factoides em busca de clicks", escreveu.>
Líder da minoria na Câmara, o deputado Marcelo Freixo (PSOL-RJ) criticou a parlamentar.>
"A extremista Bia Kicis, presidente da CCJ, que já discursou a favor da intervenção militar dentro do parlamento, agora estimula um motim da PM na Bahia. Mais uma vez utiliza o cargo para pregar a violência contra o Estado de Direito e a Democracia. É um crime contra a Constituição", escreveu em uma rede social.>
Para Freixo, Kicis e demais deputados bolsonaristas "querem alimentar o caos" usando a PM para provocar guerra com governadores e "justificar o golpe". "O Congresso Nacional precisa reagir imediatamente.">
O soldado Wesley Soares era lotado no batalhão de polícia de Itacaré, cidade do sul da Bahia a 250 km de Salvador. Ele estava de serviço neste domingo, mas deixou o batalhão armado e, dirigindo o próprio carro, seguiu até Salvador.>
"Era um policial militar que não apresentava problemas, não deu sinais em qualquer momento de surto", afirmou o coronel Paulo Coutinho. Formado em 2008, o soldado tinha 13 anos de atuação na PM.>
Ele ainda se solidarizou com a família do soldado, com a tropa da PM e lamentou o desfecho do caso com a morte do policial: "Essa ocorrência teve um término que nós não gostaríamos".>
Um inquérito policial militar foi instalado para apurar as circunstâncias da morte do soldado.>
Policiais ligados à Aspra, associação que representa soldados e praças, convocou um protesto para o Farol da Barra na manhã desta segunda. Líder da associação, o deputado estadual Soldado prisco (PSC), que já liderou greves da PM na Bahia em 2012 e 2014, conclamou os policiais a aderirem a um novo motim.>
O comandante da PM descartou uma possível paralisação dos policiais: "Não há possibilidade de greve. Prestamos um serviço extremamente essencial para a comunidade", afirmou.>
O coronel Paulo Coutinho ainda disse lamentar outro episódio que aconteceu na noite deste domingo: policiais avançaram contra jornalistas que atuavam na cobertura do caso próximos ao Farol da Barra e chegaram a dar tiros para o alto para afastar a imprensa.>
O soldado Wesley Soares chegou à região do farol da Barra por volta das 14h30 e rompeu as barreiras que isolavam a região, um dos principais pontos turísticos de Salvador. Deu mais de uma dezena de tiros para o alto e gritou palavras de ordem, provocando pânico entre moradores da região.>
O policial estava fardado, armado com um fuzil e uma pistola e estava com com o rosto pintado de verde e amarelo.>
Em vídeos publicados por testemunhas nas redes sociais, o policial gritou palavras de protesto, falando em desonra e violação da dignidade dos policiais.>
"Comunidade, venham testemunhar a honra ou a desonra do policial militar do estado da Bahia", gritou o policial militar em um dos vídeos, logo após ter dado um tiro para o alto com uma pistola.>
Em outro momento, ele grita: "Não vou deixar, não vou permitir que violem a dignidade e honra do trabalhador". A região do Farol da Barra foi isolada.>
Em nota, o Governo da Bahia confirmou que se trata de um policial em situação de "surto psicológico".>
Ainda segundo o governo baiano, o soldado "alternava momentos de lucidez com acessos de raiva, acompanhados de disparos". E chegou a iniciar uma contagem regressiva antes de começar a atirar contra os colegas.>
No Twitter, o deputado federal e ex-presidente da Câmara Rodrigo Maia (DEM-RJ) comentou as postagens de Bia Kicis: "Não se pode esperar nada de uma pessoa desequilibrada. Como já disse: viramos um hospício".>
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