Publicado em 12 de outubro de 2022 às 13:00
Conteúdo investigado: Tuíte que compartilha trecho de uma entrevista do presidente Jair Bolsonaro (PL), no qual ele diz que o ex-presidente Fernando Collor de Mello (PTB) será ministro, em um eventual segundo mandato, e que o governo vai “confiscar a aposentadoria dos aposentados”. A postagem é complementada por um segundo tuíte, no qual o autor pede aos seus seguidores que “chequem antes de baixar e repassar”. >
Onde foi publicado: Twitter.>
Conclusão do Comprova: É enganoso que, em entrevista ao podcast Pilhado, no domingo (9), o presidente Jair Bolsonaro tenha afirmado que o ex-presidente Fernando Collor de Mello seria seu ministro, em um eventual segundo mandato, e que o governo iria “confiscar a aposentadoria dos aposentados”.>
A peça de desinformação foi publicada no Twitter pelo deputado André Janones (Avante-MG), que integra a campanha presidencial de Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Ele pegou um trecho descontextualizado de uma entrevista concedida por Bolsonaro ao podcast Pilhado e transmitida ao vivo no domingo (9).>
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Bolsonaro estava, na verdade, sendo sarcástico e listando acusações infundadas feitas contra ele, dentre as quais uma segundo a qual ele seria canibal. O presidente negou qualquer convite a Collor ao final da entrevista. O Comprova não encontrou nenhuma evidência concreta e pública que o desminta.>
Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.>
Alcance da publicação: O tuíte original recebeu mais de 41,5 mil interações, entre retuítes, curtidas e tuítes com comentários até a tarde de segunda-feira (10), quando ele foi excluído pelo próprio Janones, após o Comprova tentar contactá-lo. O tuíte complementar, em que o autor insiste em não se responsabilizar pela precisão do conteúdo, recebeu apenas 11,9 mil interações no mesmo período.>
O que diz o autor da publicação: O Comprova entrou em contato com o autor do tuíte verificado, o deputado André Janones, por meio de sua assessoria pelo Whatsapp, mas não obteve retorno até a publicação desta checagem.>
Como verificamos: Ao pesquisar, no Twitter, pelas palavras-chave “Bolsonaro”, “Collor” e “ministro”, encontramos uma versão ampliada do vídeo compartilhado pelo tuíte verificado. Ela foi publicada pelo ex-secretário de Cultura e deputado eleito por São Paulo Mário Frias (PL). Também identificamos a versão completa do vídeo em questão no Youtube.>
Ainda buscamos indícios do eventual convite que Bolsonaro teria feito a Collor ao pesquisar, no Google, pelas palavras-chave, “Bolsonaro”, “Collor” e “ministro”. Para refinar a pesquisa, procuramos apenas conteúdos que precedessem a entrevista, ou seja, publicados até 8 de outubro.>
Também buscamos contato com o autor da publicação, o deputado André Janones, por meio de sua assessoria de imprensa pelo Whatsapp.>
A publicação de Janones, aqui verificada, distorceu um comentário sarcástico de Bolsonaro, no início da entrevista ao podcast Pilhado. Como mostra o contexto da fala, na versão original da entrevista, entre 3:26 e 4:15, o presidente estava, na verdade, listando acusações infundadas feitas contra ele.>
“A esquerda faz muito bem esse trabalho. Agora estão falando duas coisas aí. Primeiro, que eu sou canibal. Pô, é f…, né? Aguentar um trem desse aí. E a outra é que o Collor vai ser ministro e nós vamos confiscar as aposentadorias dos aposentados. E jogam. É o tempo todo assim”, disse Bolsonaro.>
Ao final da entrevista, um dos apresentadores, o influenciador Paulo Figueiredo, neto do último ditador do regime militar brasileiro, João Figueiredo, expôs o tuíte de Janones – o parlamentar publicou a peça de desinformação enquanto a entrevista ainda estava ocorrendo. Ao denunciar o deputado, Figueiredo pediu a Bolsonaro para desmentir a alegação.>
“Não existe convite ao senhor Collor de Mello para ser ministro. Não existe convite, não existe. Iria convidá-lo para ser ministro, segundo o Janones, para confiscar o salário dos caras, para deixar os velhinhos sem aposentadoria, a senhorinha sem pensão. Que loucura é essa? Meu Deus do céu. Que loucura é essa?”, disse Bolsonaro.>
Essa parte final da entrevista se passa entre 3:51:00 e 3:53:05 da versão original do vídeo, como publicada no canal do Pilhado no Youtube.>
Ainda nesta segunda-feira (10), após o Comprova tentar contactá-lo via assessoria de imprensa, Janones deletou o tuíte verificado.>
Bolsonaro é aliado de Collor e a própria legenda do presidente, o PL, compôs a chapa do petebista ao governo de Alagoas, que acabou derrotada no primeiro turno, no dia 2 de outubro. Mesmo assim, Bolsonaro nunca deu nenhuma declaração, em registro público, afirmando que o convidou para compor seu governo em um eventual segundo mandato.>
O plano de governo apresentado à Justiça Eleitoral pela campanha de reeleição de Bolsonaro não lista nenhuma mudança ou reforma na estrutura da previdência brasileira. O documento apenas afirma que, em eventual segundo mandato, o governo Bolsonaro “continuará e fortalecerá o aprimoramento do sistema previdenciário, com o objetivo de garantir a sustentabilidade financeira e a justiça social”.>
Esta não é a primeira vez que Janones associa o presidente a Collor e ao confisco de pensões. Apenas no perfil dele no Twitter, o deputado publicou, pelo menos, sete tuítes com a peça de desinformação. O conteúdo mais antigo encontrado data de sexta-feira (7). Por meio da ferramenta de registro de conteúdos na internet Wayback Machine, o Comprova arquivou os tuítes para preservar a evidência caso Janones os delete de sua conta.>
Em um desses tuítes, publicado no sábado (8), Janones compartilhou o print de uma suposta matéria jornalística com o título “Bolsonaro confirma que ex-presidente Collor será seu ministro em caso de vitória”. Neste caso, Janones usa do mesmo estratagema de sua postagem que distorce a entrevista de Bolsonaro ao Pilhado. Ele afirma estar repassando conteúdo cuja veracidade não seria conhecida: “Alguém sabe se isso aqui é verdade?”.>
O print mostra uma página diagramada aos moldes do site de notícias G1, da Globo. A agência de checagem de fatos Lupa desmentiu que o G1 tivesse publicado tal matéria.>
O Comprova também encontrou um vídeo publicado no canal oficial de Janones, ainda no sábado (8), com o título “URGENTE AO VIVO: AUXÍLIO BRASIL, APOSENTADORIAS E PENSÕES PODEM SER CONFISCADAS!! ENTENDA:”. Nele, o deputado afirma: “O ex-presidente Fernando Collor de Mello, o Collor, tá voltando, como ministro da Previdência, muito provavelmente. E os benefícios que o povo brasileiro conquistou com tanta luta, como o Auxílio Brasil e talvez até mesmo as aposentadorias, as pensões, começam a correr risco, já que o Collor tem essa longa história de confiscar o dinheiro do povo brasileiro.”>
O Comprova arquivou, por meio do Wayback Machine, esse vídeo também.>
Janones, de 38 anos, é deputado federal por Minas Gerais desde 2019, após se eleger ao Congresso, pela primeira vez, no ano anterior. Ele foi o terceiro candidato mais votado no estado, obtendo 178.660, ou 1,77%, dos votos válidos. Janones é conhecido por sua influência nas redes sociais – ele tem 7,9 milhões no Facebook. Assim, em sua reeleição neste ano, conseguiu 238.967, ou 2,13% dos votos válidos, sendo o segundo candidato à Câmara mais votado em Minas Gerais. Ele obteve 30.000 votos a mais que o terceiro colocado e só ficou atrás de Nikolas Ferreira (PL), que teve a maior votação da história do estado.>
Antes de concorrer à reeleição, porém, Janones foi o candidato do seu partido, o Avante, à Presidência da República. A própria legenda oficializou a candidatura em 23 de julho. Na pesquisa Datafolha do final daquele mês, Janones tinha 1% das intenções de voto. O deputado desistiu da candidatura menos de duas semanas depois, em troca de apoiar Lula (PT) e integrar a campanha do ex-presidente nas redes sociais. Como descreveu a revista piauí, “ele atua com autonomia, mas também executa demandas da campanha petista”.>
Sua atuação nas redes pela eleição de Lula já foi descrita por veículos de imprensa como “serviço sujo” (O Estado de S. Paulo) e “agressiva e ‘zoeira’” (G1). Ele também é comparado ao vereador do Rio de Janeiro Carlos Bolsonaro (Republicanos), filho 02 de Jair Bolsonaro e infame por disseminar desinformação e atacar rivais nas redes sociais. Nos bastidores do debate presidencial de 28 de agosto, nos estúdios da Band, em São Paulo, Janones provocou aliados de Bolsonaro e protagonizou uma briga com o ex-ministro bolsonarista e agora deputado eleito por São Paulo Ricardo Salles (PL).>
Por que investigamos: O Comprova investiga conteúdos suspeitos que viralizam na internet relacionados às eleições presidenciais de 2022, à pandemia e a políticas públicas do governo federal. O conteúdo aqui investigado atribui enganosamente o confisco de aposentadorias em caso da reeleição de Jair Bolsonaro. A desinformação é uma prática nociva à democracia, porque a população tem direito de fazer suas escolhas baseadas em conteúdos confiáveis.>
Outras checagens sobre o tema: O site de notícias O Antagonista também desmentiu a publicação de Janones aqui verificada, enquanto que a agência de checagem de fatos Lupa denunciou outra peça de desinformação, citada aqui e compartilhada pelo deputado, que atribui ao G1 uma matéria associando Bolsonaro a Collor e ao confisco de pensões.>
O Comprova já verificou conteúdos de desinformação que imputaram ao PT e ao candidato derrotado Ciro Gomes (PDT) o confisco de bens. Um vídeo falso afirmava que o confisco estaria previsto “no estatuto do PT”. Outra verificação apurou que são falsas as mensagens que circulam no WhatsApp dizendo que o PT tem um projeto de confisco da poupança e que ele será automaticamente aprovado caso o candidato do partido, Fernando Haddad (PT), ou mesmo Ciro, vencesse a eleição.>
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