Publicado em 7 de outubro de 2022 às 09:38
A articulação dos economistas Pedro Malan, Pérsio Arida, Edmar Bacha e Armínio Fraga para apoiar a chapa Lula-Alckmin no segundo turno das eleições é histórica. Os quatro expoentes da economia brasileira - com passagens pelo Ministério da Fazenda e pelo Banco Central, além de participação na criação e na implantação do Plano Real - sempre foram alvo das críticas do PT >
Agora, unem-se para anunciar em nota conjunta que votarão em Lula com a "expectativa" de uma condução responsável da economia caso o ex-presidente seja eleito.>
No primeiro turno, eles apoiaram a candidatura de Simone Tebet (MDB). Não à toa, anunciaram o apoio a Lula em seguida à declaração de voto da emedebista, que ficou em terceiro lugar na corrida presidencial. Ela cobrou propostas de responsabilidade fiscal do PT.>
O apoio foi dado sem acordo programático com a campanha de Lula nem endosso à política econômica de um eventual governo do PT. Mas, no mercado financeiro, espera-se uma abertura de diálogo em torno de temas sensíveis para o grupo, como a responsabilidade fiscal e o tratamento da herança de gastos que governo e Congresso estão deixando a partir de 2023.>
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Lula publicou uma nota de agradecimento ao apoio dos economistas "Há momentos na história em que os valores civilizatórios e democráticos devem estar acima de qualquer divergência. E é isso, nessa encruzilhada histórica em que nos encontramos, que representa a declaração de apoio da equipe de economistas que comandou a elaboração e execução do Plano Real, responsável por retirar o Brasil da hiperinflação na década de 1990", diz a nota>
Trata-se de um reconhecimento público do legado de mudanças que foram feitas a partir do Plano Real. No lançamento do programa econômico, o PT foi uma força contrária.>
Ao Estadão, o ex-ministro da Fazenda e ex-presidente do Banco Central Pedro Malan afirmou que a esperança citada na nota se traduz na ideia de que é necessário um diálogo sobre como lidar com os legados que restarão para depois de 2023:>
"Será preciso fazer o que não foi feito até o momento, e espero que se faça ao longo das próximas semanas e dos próximos meses, antes que um eventual novo governo tome posse, que é a discussão sobre a necessidade de definir prioridades, fazer escolhas. É preciso ter responsabilidade não só na área monetária e cambial, mas fiscal também".>
Para ele, os rumos da política fiscal são o grande desafio do momento. "Achamos que é melhor tentar abrir para o diálogo mais cedo. Somos todos influenciados pela experiência de 2002, quando houve certo tipo de comunicação nos meses que antecederam. Isso não está ocorrendo agora. Eu sempre chamei atenção para o fato do discurso equivocado da herança maldita", diz o ex-ministro do governo Fernando Henrique Cardoso.>
Malan disse ainda que os riscos de incerteza que existem hoje na economia global são totalmente diferentes dos que existiam em 2003, quando Lula assumiu o seu primeiro mandato. "Mas ele (Lula) precisa reconhecer isso em algum momento. Espero que ele seja obrigado a reconhecer. Já temos riscos demais provenientes do mercado internacional para que se adicione riscos e incertezas derivadas de sinalizações que podem comprometer a parte política e econômica.">
Ex-presidente do BC e um dos formuladores do Real, Pérsio Arida disse ao Estadão que não há articulação com Lula ou uma discussão programática com o PT. "Nem uma coisa nem outra. A declaração de voto se deve a uma preocupação nossa com a democracia antes de tudo. As democracias morrem, para usar uma frase do Guimarães Rosa. Não de morte matada, mas, sim, de morte morrida", ponderou.>
Para ele, há também a esperança de uma boa política econômica. "É capaz que venha. Mas a decisão, sobretudo, é em defesa da democracia e do meio ambiente.">
Já Armínio, que foi presidente do BC no governo FHC, disse que o voto em Lula não significa endosso, mas um "voto pela democracia". >
"Não é um endosso sobre algo que apuramos na política econômica. Não apurei nada", esclareceu ele, destacando que não tem conhecimento sobre as propostas econômicas da campanha de Lula. Para ele, a política fiscal dentro dos temas econômicos é de "primeira grandeza", inclusive do ponto de vista social. No escuro da irresponsabilidade fiscal, ponderou, os pobres são os mais prejudicados.>
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