Publicado em 10 de outubro de 2021 às 14:54
O Brasil tentará negociar na COP-26, reunião sobre o clima que acontece em Glasgow a partir do final deste mês, um aumento no valor prometido por países mais desenvolvidos, que se industrializaram antes, para financiar a transição ambiental dos não desenvolvidos. >
O financiamento de longo prazo é um dos pilares do Acordo de Paris, no qual 149 países se comprometeram, em 2015, a interromper o aquecimento climático. Os caminhos para cumprir essas metas, porém, ainda precisam ser aprovados nas cúpulas anuais sobre o clima. >
A promessa dos países mais ricos foi a de mobilizar US$ 100 bilhões por ano, valor que, para o ministro do Meio Ambiente, Joaquim Leite, pode ser maior, embora o pleito não implique um "condicionamento" --ou seja, segundo o ministro, o Brasil não vai impor o aumento de financiamento como condição para a obtenção de acordos, como fez na COP-25, em Madri, em 2019. >
Na ocasião, sob o comando do então ministro Ricardo Salles, a delegação brasileira bloqueou as conversas e levou a cúpula ao fracasso, numa atuação que foi chamada de vergonhosa pelo especialista em clima William Moomaw, autor principal de cinco relatórios do IPCC (painel da ONU sobre o clima, que ganhou o Prêmio Nobel da Paz em 2007). >
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O desafio agora é "apresentar o Brasil real, que cuida de suas florestas e faz um trabalho de sustentabilidade, e trazer de volta, se possível, acordos de financiamento de clima e de mercado de carbono", disse Leite em entrevista nesta sexta (8). >
Segundo o ministro, "o que pode ser considerado sucesso nessa COP é engajar todos os países em direção à economia verde, e mobilizar os desenvolvidos para um valor maior de financiamento". >
Ele não especificou uma meta, mas disse que, em reuniões preparatórias para a COP, países chegaram a mencionar US$ 700 bilhões ou até US$ 1 trilhão por ano. >
O ponto mais delicado das negociações é o artigo 6, que regula o mercado de créditos de carbono --no qual, de forma simplificada, um agente (empresa, estado ou país) que por qualquer motivo não consegue reduzir suas emissões compra uma "licença para emitir" de outro agente com bom desempenho. >
Tanto na COP-25 quanto na COP-24, o Brasil defendeu que os créditos vendidos a outras nações não precisariam ser descontados da prestação de contas sobre as metas climáticas do país --o que, segundo a maioria dos signatários do Acordo de Paris, significaria uma dupla contagem das reduções de emissão (tanto pelo vendedor quanto pelo comprador do crédito). >
Leite não especificou qual será a posição brasileira na COP-26, mas disse que sua missão é fazer da reunião "um estrondoso sucesso". "Estamos indo para lá para construir consensos e obter resultados." >
Uma das preocupações é que o modelo estabelecido internacionalmente esteja em linha com a legislação brasileira sobre mercado de carbono, que, segundo Leite, foi objeto de uma conversa entre ele e o presidente da Câmara, Arthur Lira, nesta semana. >
Embora já haja um projeto de lei sobre o tema tramitando na Casa, Leite diz que é fundamental que o modelo brasileiro esteja atrelado ao mercado internacional. "Vamos criar um produto para exportação chamado crédito de carbono", afirmou ele. >
O ministro disse que o governo vai apresentar na segunda metade deste mês um plano de crescimento verde, que, além de metas de redução de emissões, terá programas de controlar o desmatamento ilegal, considerado por ele como "o grande desafio" ambiental brasileiro. >
A novidade do plano, segundo ele, será o pagamento pelo "serviço ambiental" de conservar a floresta, o que permitiria ao mesmo tempo combater a pobreza e manter a biodiversidade. >
Durante a COP-26, o Brasil deve oficializar a meta de antecipar a neutralidade nas emissões de carbono de 2060 para 2050 e acabar com o desmatamento ilegal até 2030. >
Os valores das NDCs (Contribuições Nacionalmente Determinadas) --compromissos de redução de emissões-- devem se manter os mesmos dos definidos no governo da presidente Dilma Rousseff --até 2025, redução de 37% das emissões em relação aos níveis de 2005, e redução de 43% até 2030. >
Leite disse que o Brasil já tem uma das metas mais ambiciosas do mundo e seu pleito tem sido o de que outros países elevem seus compromissos.>
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