Publicado em 13 de julho de 2020 às 12:27
Há quase um ano e meio no cargo, o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), consolida-se para o Palácio do Planalto como o fiel da balança na relação entre governo e Congresso. >
O senador evita reagir e criticar Jair Bolsonaro (sem partido) quando o presidente da República é alvo da artilharia dos parlamentares.>
Alcolumbre também tem falado constantemente com o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Dias Toffoli, outros ministros da corte e ex-presidentes da República.>
Por trás da tentativa de se pintar como moderador, está, segundo aliados, o projeto do senador de se reeleger na presidência da Casa. Com isso, Alcolumbre tenta se fincar como a opção de Bolsonaro.>
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Em outra frente, ele busca a simpatia de ministros do STF que possivelmente teriam de analisar questionamentos ao dispositivo do qual Alcolumbre lançaria mão para conseguir se manter no cargo - o objetivo do senador é mostrar aos magistrados que ele é peça fundamental para manter o equilíbrio entre os Poderes.>
O apoio do STF pode ser determinante para Alcolumbre, já que caberá a eles julgar questionamentos à sua eventual tentativa de permanecer no comando do Senado.>
A Constituição veda a reeleição na mesma legislatura. Mas Alcolumbre trabalha com três opções para alcançar seu objetivo.>
A mais segura, na avaliação de técnicos do Senado e aliados de Alcolumbre, é a aprovação de uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que promova uma mudança na Carta para permitir a reeleição numa mesma legislatura. A alteração beneficiaria também o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ).>
Por isso, parlamentares avaliam que dificilmente a emenda seria aprovada.>
A outra hipótese para o senador é mudar o regimento interno da Casa, o que é considerado juridicamente questionável. Uma terceira frente seria Alcolumbre tentar repetir o que fez Antônio Carlos Magalhães em 1999.>
O então senador conseguiu um parecer junto à Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) para disputar a reeleição.>
A disputa foi questionada, mas ACM conseguiu aval da Justiça para ficar à frente do Senado. Por isso, o sustentáculo no Supremo é fundamental para Alcolumbre, assim como o do governo para dar força à sua articulação.>
Para garantir os apoios necessários, Alcolumbre tem buscado atuar como bombeiro de crises.>
Na saída de Sergio Moro do Ministério da Justiça, ele conversou com ministros e telefonou para ex-presidentes da República para pedir opinião sobre o momento e buscar construir no Parlamento meios de garantir governabilidade a Bolsonaro.>
Nas últimas vezes em que o presidente participou de atos pró-intervenção militar, Alcolumbre se mostrou irritado para pessoas próximas, mas optou por reclamar com o próprio Bolsonaro e conversar com ministros para que dissessem ao mandatário que ele precisava baixar o nível da crise, e não aumentar.>
Alcolumbre também costurou junto ao ministro Paulo Guedes (Economia) uma nova proposta de socorro aos estados, diferente da que havia sido aprovada pela Câmara.>
Hoje, os cálculos de aliados de Alcolumbre em torno de uma reeleição são otimistas. Eles apostam que o senador tenha entre 45 e 49 votos dos 81 senadores.>
Há, contudo, quem já esteja incomodado com as articulações do presidente na tentativa de angariar apoios para se manter no comando da Casa. Alas do PSD, PSDB e MDB lideram as insatisfações, uma vez que teriam nomes para colocar na disputa.>
"A contrapartida que o Davi busca é ter o voto dos bolsonaristas, mas quando ele faz isso afasta pessoas decisivas que se colocam contra porque estão vendo que ele está colocando uma questão pessoal à frente", avalia a senadora Simone Tebet (MDB-MS), presidente da CCJ.>
Nos bastidores, Tebet surge como uma das mais fortes adversárias de Alcolumbre, com apoio de opositores do atual presidente que não querem uma reeleição. O líder do partido na Casa, Eduardo Braga (AM), trabalha por uma nova eleição. Embora mantenha cautela quando o assunto são nomes na disputa, ele afirma que não seria "de bom grado" para a Casa se houvesse uma recondução de Alcolumbre para o cargo.>
Dentro do próprio MDB, contudo, as divergências são fortes. A legenda, que abriga os líderes do governo no Congresso - Eduardo Gomes (TO) - e no Senado - Fernando Bezerra Coelho (PE) - já expõe fraturas mediante as tratativas do atual presidente, que ganham musculatura.>
Embora tente sair pela tangente e evitar confrontos diretos com o líder da legenda, Gomes admite que a manutenção de Alcolumbre no cargo é interessante aos governistas. Ele próprio é um defensor da reeleição.>
De acordo com o líder do governo no Congresso, caso o governo pergunte sua opinião sobre a eleição do Senado, o que costuma acontecer, ele já tem sua opinião formada.>
"Se o governo tratar de eleição, e perguntar minha opinião, não tenho dúvidas. Vou defender a recondução do presidente Alcolumbre", disse.>
Ao mesmo tempo, o papel desempenhado por Alcolumbre na costura de acordos políticos para temas polêmicos, como o projeto de socorro aos estados, faz com que senadores cobrem do líder da Casa contrapartidas do governo.>
Entre as faturas que senadores pretendem apresentar agora está a manutenção do benefício fiscal às empresas. A desoneração, que atinge 17 setores até o fim de 2021, foi barrada pelo presidente Jair Bolsonaro.>
Lideranças da oposição e de apoio ao governo admitem que, caso o veto seja colocado em apreciação pelo Congresso, será derrubado.>
As negociações são realizadas diretamente pelos presidentes do Senado e da Câmara com o ministro Paulo Guedes.>
Para senadores, Guedes já manifestou que o governo tem interesse em manter a desoneração, mas a dificuldade no momento seria encontrar formas de compensação. Por isso, ainda não apresentou proposta aos congressistas.>
Apesar da pressão de entidades e dos parlamentares, o presidente do Senado se manteve em silêncio nos últimos dias. Alcolumbre não esteve presente em nenhuma das três sessões do Senado na semana passada. A ausência não foi justificada.>
Ele também não tem atendido congressistas, que cobram que Alcolumbre marque logo a sessão para análise dos vetos, ou anuncie o acordo que o governo estará disposto a realizar.>
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