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É jornalista, cronista e de todas as artes

Vozes de muitos timbres: três artistas capixabas sob o meu radar

Hip hop, samba, MPB e bossa estão no repertório da diversidade musical do trio a que ando afeito, eles em seu quadrado, sua própria célula artística, e eu em movimento circular arredondando a audição ao redor dos seus talentos originais

  • Jace Theodoro É jornalista, cronista e de todas as artes
Publicado em 27/09/2023 às 15h03
Cantor
Zampa Silva. Crédito: Reprodução/YouTube

Sou dado a vozes. Não as do Além, as da vida de pé no chão mesmo e ouvidas rente às minhas parabólicas de abano. Agora, quando escrevo, são três artistas capixabas sob o meu radar, cada um com seu timbre, textura e estilo: Zampa Silva, Elaine Augusta e Marcus Paulo. Hip hop, samba, MPB e bossa estão no repertório da diversidade musical do trio a que ando afeito, eles em seu quadrado, sua própria célula artística, e eu em movimento circular arredondando a audição ao redor dos seus talentos originais.

A sedução da originalidade é imã grudado nos meus gostos, o paladar se atiça e o sinal de que me entrego quando ouço aquela voz é a língua estalando entre pimentas, doçuras e acidez na saliva. Entenda, nobre leitor: voz não é a que canta apenas, mas a que dá sentido à arte e às posturas do artista, isso é ter voz. Espalhá-la não só no canto como em atitudes, palavras, ter um rosto limpo para o mundo onde ele se propõe fincar os pés ou voar.

Marcus Paulo bebeu em fonte segura: a família Paulo, do avô ao tio e o pai Colibri, ás do saxofone, história viva da música capixaba. Cantor e instrumentista aplicado, ele emana uma pureza de personalidade que reverbera no seu canto, nas cordas do violão e nas chaves da clarineta, seus instrumentos preferenciais. O que salta no seu estilo é a maneira como conduz as canções, a emissão que preenche o espaço enxertando pele extra em partituras de outros e nas próprias criações. Sua musicalidade sinuosa convida o ouvinte ao deleite.

A moça da lista, Elaine Augusta, é uma joia, flor de ébano explodindo de emoções os palcos onde pisa. A voz abraça o corpo flexuoso em interpretações de vigoroso tônus, quando ela conta histórias por meio das canções remetendo a uma ancestralidade que lhe é cara.

Elaine ganha a plateia - muitas vezes arrebata - com seu estilo original de atriz que incorpora letras e melodias numa contação de história tão própria de quem encara o ofício como profissão de fé. Não à toa, acaba de ser a vencedora do Prêmio da Música Capixaba na categoria Vozes Negras.

E, por último mas não menos importante, Zampa Silva, artista do hip hop que virou amigo, confidente, irmão inventado. Nele, o encantamento é pela visão artística que imprime ao seu trabalho. É sujeito e objeto das suas obras e tem algo que considero ser ouro: dá sentido a tudo o que toca, sem desperdício, constrói carreira com seu carimbo próprio.

Zampa é a representação de um tipo de artista com foco em ideias, construção esmerada, traça caminhos com mais curvas que retas. E sabe bem o destino dessa rota, mesmo quando se perde dela. O grave da sua voz alcança, mais que notas, o conceito que dá fundo e forma ao seu fazer artístico.

O poeta-cantor mira o alvo e nem sempre acerta o centro, lugar da vitória da flecha. Ao artista interessa mais a flecha fora do jogo porque arte, Zampa bem sabe, é jogo de sete mil erros antes da excelência artística. E é no eterno aparo das arestas que ele alcança a nota, o conceito, a atmosfera musical.

Três escritas artísticas, diferentes timbres passeando pelas páginas da deusa música. Rendidas pela audição do trio, minhas parabólicas de abano convocam a língua pra roçar na língua musical de Marcus, Elaine e Zampa.

Este texto não traduz, necessariamente, a opinião de A Gazeta.

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