O Espírito Santo registrou, apenas nos quatro primeiros meses de 2025, uma média alarmante de três casos de violência doméstica por hora. Segundo o painel de monitoramento da violência contra a mulher, da Secretaria de Estado da Segurança Pública (Sesp), foram registradas 6.684 ocorrências de janeiro a março deste ano.
O número representa um aumento de 10,88% em relação ao mesmo período de 2024. Esses dados revelam a dimensão de um problema que vai muito além do crime em si: trata-se de uma questão estrutural, cultural e social profundamente enraizada.
Apesar de avanços legislativos como a Lei Maria da Penha e a Lei do Feminicídio, a lógica predominante ainda é a da punição após o fato consumado. Entretanto, quando falamos de violência de gênero, é preciso entender que a punição por si só não resolve. Quando o sistema penal entra em cena, a violência já ocorreu, o trauma já se instalou e, em muitos casos, a mulher já perdeu a vida.
A legislação brasileira prevê ações educativas e preventivas, o problema é que essas ações raramente são implementadas de forma efetiva pelo poder público. A Lei Maria da Penha, por exemplo, conta com um capítulo dedicado à prevenção, mas que segue amplamente negligenciado.
Há, porém, exemplos positivos que demonstram como o caminho da prevenção e da educação podem salvar vidas. Na Grande Vitória, o projeto “Homem que é Homem” reúne agressores em grupos de apoio e diálogo. A taxa de reincidência entre os participantes é baixíssima, o que comprova que a educação é um instrumento poderoso de transformação.
É preciso repensar a forma como enfrentamos a violência de gênero. Criminalizar é necessário, mas não pode ser o único caminho. A lei prevê pena de detenção de 3 meses a 2 anos para crimes como ameaça, lesão corporal e outros crimes praticados contra a mulher no âmbito doméstico e familiar. E os dados que abrem este artigo já mostram que isso não assusta.
Sem políticas preventivas, seguimos lidando apenas com as consequências quando, muitas vezes, já é tarde demais. Investir em educação, fortalecimento de redes de apoio e programas de transformação social é investir na vida das mulheres. E precisamos fazer isso logo: enquanto você lê este texto, mais um caso provavelmente está acontecendo.
Este texto não traduz, necessariamente, a opinião de A Gazeta.
Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rápido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem.
Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta.